Bloco Loucura Suburbana abre desfiles de Carnaval de rua no Rio de Janeiro

O Bloco nasceu do Instituto Nise da Silveira há mais de 20 anos e tem como protagonistas pessoas em sofrimento mental 

Desfile acontece há mais de 20 anos no bairro de Engenho de Dentro 

 

O clima de folia invadiu o bairro de Engenho de Dentro, na Zona Norte, nesta quinta-feira (08), com o Bloco Carnavalesco Loucura Suburbana, que abriu os desfiles de carnaval de rua do Rio de Janeiro. O bloco é uma iniciativa do Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira, composto por pessoas em sofrimento mental, parentes, profissionais de saúde e moradores da região.

Bate-bolas, pernaltas, bailarinas, colombinas e palhaços animaram o desfile, que reuniu milhares de pessoas. O bloco é acompanhado da bateria A Insandecida, formada por alunos da Oficina de Percussão e amigos, promovida pelo projeto. O objetivo do Loucura Suburbana é transformar o preconceito contra a loucura em admiração, respeito, convivência e laço social. 

A equipe de Saúde Mental do Viva Rio esteve presente no desfile. A organização realiza a cogestão de 20 unidades de saúde mental, entre Centros de Atenção Psicossocial, equipes de Deambulatório e projetos de promoção de saúde dentro do Instituto Nise da Silveira, entre eles o Museu do Inconsciente. 

“Eu já tinha participado do Loucura Suburbana há muito tempo, quando era estagiária no Nise da Silveira. Foi uma alegria retornar e ver como o bloco e o projeto cresceram e deram certo. Fiquei muito emocionada em ver um movimento comunitário territorial tão importante. Foi um dia de muita alegria, uma festa linda”, comenta Maíra Cabral, coordenadora da área de Atenção Psicossocial do Viva Rio. 

Hanna Mendes, que trabalha na Unidade de Acolhimento Metaformose Ambulante, também participou da folia, junto com usuários. “Foi muito bacana estar nesse bloco e celebrar mais um ano da luta antimanicominal, antirracista e anti LGBTfobica. Estamos aqui na resistência”, relata. 

O Bloco Loucura Suburbana foi criado em 2001 como parte do processo de desconstrução do modelo asilar do Instituto Municipal Nise da Silveira. Desde 2010 oferece atividades gratuitas permanentes abertas à população como oficinas de percussão e produção de adereços e fantasias, que fazem parte do projeto do primeiro ponto de cultura ligado à saúde mental, o Ponto de Cultura Loucura Suburbana: Engenho, Arte e Folia. Todas essas oficinas são voltadas para a preparação do bloco de Carnaval. 

Erika Pontes e Silva, diretora do Instituto Nise da Silveira, reforça que ao longo dos 23 anos de existência, o Loucura Suburbana foi ganhando apoio da população e espaço na sociedade. “Lembro que nas primeiras saídas do bloco a população ficava mais assistindo, poucas pessoas de fora do campo da saúde mental participavam. Hoje, a gente conseguiu alcançar um dos objetivos: superar o estigma da loucura através de arte, cultura e Carnaval, momento de expressão máxima da cultura brasileira. O Bloco conta com a participação de todos e simboliza bem todo o nosso trabalho aqui no instituto de desconstrução da cultura manicomial e implementação de práticas que abordam outras formas de cuidado com pacientes em sofrimento psíquico”, reforça. 

 

Instituto Municipal de Assistência à Saúde Nise da Silveira

O Instituto Municipal Nise da Silveira foi criado em 1911 como Colônia de Alienados do Engenho de Dentro. Foi um hospital psiquiátrico que mantinha pacientes hospitalizados até 2021. A trajetória do instituto foi marcada pela médica Nise da Silveira, que revolucionou o tratamento de pacientes psiquiátricos na década de 1940. Em 2000, foi municipalizado e renomeado para homenagear a psiquiatra. 

O espaço é referência na promoção da saúde mental através da arte, cultura, esporte, lazer e oficinas de geração de renda. A unidade abriga um acervo histórico aberto ao público, composto por documentos, livros, prontuários, móveis e obras artísticas, que retratam os 113 anos da instituição e documentam a história da Psiquiatria e da assistência à loucura no Brasil. 

Confira abaixo mais fotos do desfile. 

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