Usuários do CAPS Rocinha expõem quadros na Carioca

Quem passar pela estação do metrô da Carioca até o próximo domingo (18), poderá conferir o trabalho dos artistas e usuários do Centro de Atenção Psicossocial Maria do Socorro Santos (CAPS III Rocinha) na mostra “O Maluco Sou Eu?”. A exposição reúne quadros produzidos nas oficinas terapêuticas da unidade de saúde durante os últimos três anos.

O evento marca a semana da Luta Antimanicomial e homenageia Maria do Socorro Santos (1953-2008), pintora que dá nome ao CAPS e uma das principais ativistas do movimento da década de 80 que impulsionou uma série de mudanças nas políticas públicas de saúde mental. “Assim como os expositores que aqui estão, ela também encontrou seu caminho através da arte”, declarou Eduardo Mourão, curador das obras de Maria.

Entre os inúmeros quadros em exibição na mostra, estão os de Daniel Venceslau. Influenciado pelo expressionismo abstrato, ele usa cores quentes como amarelo e vermelho para transformar em arte todas as angústias acumuladas em oito anos de internação compulsória durante a juventude. “Pintar toca meu coração. Estou muito feliz e ansioso de estar mostrando meu trabalho aqui”, afirmou.

Exposição dos usuários do CAPS 2.1 da Rocinha, na Carioca .

Daniel Venceslau inspira-se na pintura abstrata para produzir suas obras

Já Maria do Carmo Ferreira levou à exposição obras que remetem a seus familiares. “Meu pai tinha cabelos cacheados e era calmo como o leito de um rio e a minha mãe adorava vinho. Tentei, de alguma forma, retratar isso nos meus quadros”, contou. A artista ressaltou que, na oficina do CAPS, ela tem suas habilidades aprimoradas sem sentir-se oprimida. “Eles incentivam meu trabalho, mas não me obrigam a nada”, acrescentou.

Exposição dos usuários do CAPS 2.1 da Rocinha, na Carioca .

Maria do Carmo posa entre os quadros que fez a partir de lembranças de seus pais

Coordenadora das oficinas de artes plásticas do CAPS e curadora da mostra, Mereide Medeiros emocionou-se ao falar de seus pupilos. “Esse projeto começou de uma maneira muito despretensiosa, respeitando o ritmo e a instabilidade de cada um”, explicou. A resposta positiva dos usuários, entretanto, fez com que ela transformasse a empreitada em instrumento de geração de renda. “A perspectiva da venda fez com o grupo se tornasse mais caprichoso em relação às obras que produzem. Hoje, muitos deles vivem com o dinheiro da comercialização dos quadros “, contou.

O CAPS III Maria do Socorro Santos é administrado pelo Viva Rio, em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde.

(Texto: Karla Menezes/Fotos: Tamiris Barcellos)

Postado em Notícias na tag .