No Dia Mundial Sem Tabaco, conheça o trabalho das unidades básicas de saúde no combate ao fumo

Reunião do grupo antitabagismo da CF Lecy Ranquine – Foto: Pedro Conforte 

 

31/05/2022

Tem dias que sonho que estou fumando, mas sei que fumar é horrível. A briga é diária, mas eu já entendi que isso faz mal pra mim e coloquei na minha mente que não quero mais”. Esse é o depoimento do ex-fumante Alexander Medeiros da Costa, de 50 anos. O agente comunitário de saúde da Clínica da Família Lecy Ranquine, em Campo Grande, Zona Oeste do Rio de Janeiro, conseguiu vencer o vício através do Programa de Controle do Tabagismo, feito nas unidades básicas. 

Nas Clínicas da Família e Centros Municipais de Saúde do Rio de Janeiro existem grupos destinados àqueles que querem parar de fumar, como parte do Programa de Controle do Tabagismo. As 76 unidades básicas de saúde administradas pelo Viva Rio participam do programa e acompanham pacientes fumantes. Os grupos seguem as diretrizes do Programa Nacional de Controle do Tabagismo, do Ministério da Saúde, que existe desde a década de 80 por meio do Instituto Nacional do Câncer (INCA). 

Quando começou a trabalhar na Clínica da Família Lecy Ranquine, Alexander fumava de dois a três maços de cigarro por dia. Através da insistência de uma antiga gerente e do coordenador do grupo e profissional de Educação Física, Tarsio Monteiro, começou a frequentar os encontros antitabagismo. Sua maior motivação, no entanto, foi perceber o quanto o cigarro estava afetando a sua saúde.

Comecei a ficar muito cansado, subia uma escada e já ficava ofegante. Minha respiração estava horrível, não conseguia jogar bola e nem fazer nada de exercícios físicos, pois tudo me cansava. Também estava percebendo constantes dores de cabeça. Eu ajudava o Tarsio na Academia Carioca e fazia mapeamento nos idosos. Comecei a verificar a minha pressão também e percebi que quando estava com dor de cabeça, a pressão estava alta. Com exames foi constatado que eu estava hipertenso.”

Depois de 28 anos fumando (desde os 16 anos), o agente comunitário de saúde parou de fumar há mais de 5 anos, em outubro de 2016, e hoje conta sua história como inspiração para novos participantes do grupo, que para ele foi fundamental nesse processo. 

“Eu fazia mal não só a mim, mas às minhas filhas também, pois fumava dentro de casa, em qualquer lugar, não tinha muito respeito. Só depois, frequentando o grupo, é que percebi o mal que fazia. No grupo é mostrada a realidade do que o tabagismo causa e os benefícios de largar o cigarro. Hoje me sinto muito bem de saúde, foi ótimo para mim.”

Os grupos seguem cartilha do Ministério da Saúde. Na imagem, o ex-fumante Alexander – Foto: Pedro Conforte 

O Programa de Controle do Tabagismo

Dados do Boletim Epidemiológico do Ministério da Saúde apontam que no Brasil mais de 160 mil mortes anuais são atribuíveis ao tabaco, ou seja, em média 443 mortes por dia. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, o tabaco é responsável por mais de 8 milhões de mortes por ano no mundo. A OMS aponta, também, que mais de 1 milhão de pessoas morrem todos os anos devido ao tabagismo passivo. Por isso, o Dia Mundial Sem Tabaco (31/05), foi criado em 1987, para alertar sobre as doenças e mortes evitáveis relacionadas ao tabagismo. 

O Programa de Controle do Tabagismo, da prefeitura do Rio, tem cinco linhas de ação: ambientes 100% livres de fumo; tratamento para deixar de fumar; prevenção da iniciação no tabagismo; mobilização em datas comemorativas; e divulgação da legislação.

Na Clínica da Família Lecy Ranquine, o Programa de Controle do Tabagismo começou em 2016, com o profissional de Educação Física Tarsio Monteiro, a gerente da unidade Andrea da Silva e a enfermeira Maria Claudia Souza. Tarsio hoje coordena o grupo antitabagismo, destinado às pessoas que estão no processo de parar de fumar, o qual dá orientações e mostra as formas de tratamento e entendimento da dependência do tabaco.

Os grupos contam com uma equipe multidisciplinar composta por enfermeiro, nutricionista, assistente social, psicólogo e profissional de Educação Física. Na unidade há 10 pessoas nos grupos e mais 26 em fase de acompanhamento (quando passam do primeiro mês de tratamento). 

No primeiro mês do grupo, são feitos um encontro por semana, no segundo, passam a acontecer quinzenalmente e a partir do terceiro mês é realizado um encontro mensal para avaliação do tratamento. Os encontros acontecem por 12 meses, após esse período, o paciente passa a ser considerado ex-fumante e recebe alta do programa. 

Seguindo a cartilha do Ministério da Saúde, as quatro primeiras reuniões abordam os seguintes temas: entender por que se fuma e como isso afeta a saúde; os primeiros dias sem fumar; como vencer os obstáculos para permanecer sem fumar; benefícios obtidos após parar de fumar. Após abordado o tema semanal, os participantes têm a oportunidade de falar sobre suas experiências. 

O coordenador do grupo Tarsio Monteiro com a participante Daniele Munike – Foto: Pedro Conforte 

 

Daniele Munike, de 33 anos, é uma das participantes do grupo. Ela está há um mês sem fumar e esta é a primeira vez que tenta abandonar o cigarro. Fumante desde os 16 anos, ela teve no incentivo de um dos filhos (de 14 anos) a sua motivação para começar a frequentar o grupo. Ainda amamentando uma bebê de 1 ano e 6 meses, Daniele entende que deixar o tabaco vai ser bom para sua saúde e de sua filha. 

“Acho que sou a mais nova de idade no grupo e vejo que não quero chegar aos meus 40, 50 anos sendo fumante. Eu vejo o que eles relatam, que sentem falta de ar, que não faz bem a eles e eu não quero ter que passar por isso também”. Ela ressalta que os encontros são livres de julgamento e têm sido de grande ajuda. “O Tarsio não nos critica, mas procura ajudar. Ali é um espaço de conselhos e palavras de incentivo”. 

O coordenador Tarsio acredita que a saúde é um aspecto amplo, que envolve corpo e mente, por isso, se especializou para trabalhar com tabagismo. “O parar de fumar melhora os hábitos de vida, o aspecto motor, cardiorrespiratório e a autoestima do paciente. É nesse sentido amplo do cuidado com o paciente que a gente pensa”. Para ele, é gratificante acompanhar a melhora da qualidade de vida de seus pacientes. 

As reuniões do Programa de Controle do Tabagismo na Clínica da Família Lecy Ranquine acontecem às quartas-feiras, 14h. Informações sobre abertura de turmas podem ser obtidas na unidade de segunda a sexta-feira, de 7h às 18h e aos sábados de 8h às 12h, no endereço Estr. do Campinho, S/n – Campo Grande, Rio de Janeiro. 

 

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