Lagoa estreia projetos de segurança da PM

O Programa Lagoa Segura foi anunciado nesta quarta-feira (17) durante o quarto encontro do “Grupo de Análises Estratégicas da Polícia Militar do Rio de Janeiro”, realizado no Viva Rio. O projeto funcionará como piloto para uma nova estratégia de segurança, inspirada em modelos do Chile, Colômbia e Guatemala, inclui a capacitação de policiais que trabalharão em regiões denominadas quadrantes, em bicicletas, ou bikepatrol, com mais proximidade da população e mais recursos tecnológicos.

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Representantes do comando da Polícia Militar do Rio de Janeiro falam para uma plateia de formadores de opinião

“Apesar de entender que os índices de violência da Lagoa Rodrigo de Freitas não a tornam prioridade, o projeto visa a reduzir a sensação de insegurança na sociedade”, esclareceu o coronel Robson Rodrigues da Silva, Chefe do Estado Maior da PM.

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O coronel Robson Rodrigues da Silva antecipou detalhes do projeto de segurança que começa pela Lagoa

Iniciado em 2009, o projeto prevê a desmobilização dos antigos e paquidérmicos batalhões, que serão vendidos e reconstruídos com estruturas menores, mais funcionais e tecnológicas. A Lagoa, palco de um recente e brutal assassinato, chamada de “Central Park e a Champs Elysées do Rio”, por exemplo, ganhará dois quiosques.

Com as novas tecnologias a serem adotadas, o comando terá condições de cobrar resultados dos policiais responsáveis por suas respectivas áreas e estes trabalharão dentro do conceito da proximidade, de forma mais preventiva. “Será uma mudança de doutrina na atuação do policiamento, mais qualitativo que quantitativo, uma volta do policiamento que existia nas décadas de 1950 e 1960”, informa Robson.

Os novos batalhões terão uma mesma identidade visual e funcionarão de forma sustentável. A primeira unidade, já em construção, é a de Niterói; o projeto para o 6º BPM, na Tijuca, já está pronto, bem como o do 2º Batalhão, em Botafogo, cuja sede já foi vendida e a demolição, iniciada. A previsão de custos para as novas unidades é de R$ 91.911,76 e de R$ 245.174,66, para as blindadas.

Mais adiante, as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) serão subordinadas aos Batalhões de Proximidade. “São conceitos de policiamento mais modernos. Com a análise dos indicadores feitos pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) haverá suporte para a atuação da polícia de forma preventiva”, prevê o chefe do Estado Maior, que contará ainda com a melhor tecnologia desenvolvida por parceiros da Polícia Militar. A partir da próxima segunda-feira (22), terá início um curso de Qualificação Policial.

Segundo o coronel Alberto Pinheiro Neto, Comandante Geral da PM, foi criado um ponto virtual no centro da Lagoa Rodrigo de Freitas que a dividiu em áreas distintas, os chamados quadrantes, extensivos ao território do entorno. Cada um deles terá seus problemas mapeados em detalhes e as responsabilidades sobre cada área serão atribuídas a diferentes setores. Robson citou o exemplo dos condomínios, que compartilharão suas imagens de segurança com a Polícia Militar.

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Para o coronel Alberto Pinheiro Neto, o novo projeto da Lagoa vai promover uma grande revolução na segurança do Rio

“Será uma grande revolução em nossos serviços”, antecipa Pinheiro Neto, a propósito também da observação do diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, sobre o poder de transformação das “pequenas revoluções”. O Complexo da Maré vai ganhar instalações temporárias de UPPs em Roquete Pinto-Ramos, que envolverão 1.700 policiais e se tornarão fixas no primeiro trimestre de 2016, quando também serão criadas novas unidades de UPPs no estado. O local onde está o 22º BPM, na região da Maré, servirá de base para as futuras UPPs.

Outra iniciativa será a de transferir policiais lotados no interior para mais perto de suas famílias, iniciativa que vai envolver 500 homens por mês e chegará a 6 mil.

Crise nas UPPs

Robson observou que havia uma percepção de que o programa das UPPs estaria falido em função das conflagrações que têm ocorrido. “Vimos que um terço delas atingiu índices emergenciais, principalmente as quatro unidades do Alemão. Implementamos o retreinamento do Comando de Operações Especiais (COE) e os índices se reduziram muito. Hoje temos territórios, como o de São Gonçalo, entendidos como instáveis, que precisam ser monitorados constantemente”, completou.

Embora o comandante do Estado Maior admita que atualmente exista na população um aumento da percepção de insegurança, o último mês de maio teve os mais baixos índices de homicídios dolosos desde o início da série histórica, em 1991. Apesar de continuar a ostentar números altos, a Baixada Fluminense teve uma redução de 32,7% em relação a maio de 2014: os 177 homicídios caíram a 119.

A melhor qualificação dos policiais é um dos instrumentos não só para manter a redução dos índices, como para aumentar a sensação de segurança na sociedade. Questões como o aumento da entrada de armas nas favelas, que indicam a vontade de ampliação da ocupação territorial pelos bandidos; a soltura de criminosos que voltam a se instalar em áreas já pacificadas; os bolsões de pobreza ao redor das cidades; o modelo saturado da sociedade hierarquizada; um sistema educacional falido e  presídios saturados, inclusive por usuários de drogas que são presos enquanto os portadores de armas ficam em liberdade, são problemas apontados para o acirramento da violência.

Logo no início, Rubem César Fernandes anunciou o tema do próximo e quinto encontro estratégico: Ética do cuidado. O coronel Antonio Carlos Carballo, de Assuntos Estratégicos esclarece: “É preciso cuidar bem do policial para que ele possa cuidar bem das pessoas. Serão mudanças de paradigma, que vão analisar questões como vitimização policial, comportamento suicida e uso da força policial, para que estes estejam plenamente aptos ao exercício da função”.

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O coronel Antonio Carlos Carballo acredita em uma “mudança de paradigma”

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Paulo Barros

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