Carta ao pessoal

do Viva Rio

Rio de Janeiro, 18 de maio de 2021

Carta ao pessoal do Viva Rio,

Queridas e queridos colegas, escrevo para saudar os novos e os antigos, e com
gosto especial aos que voltaram. Desejo renovar os nossos laços, como se o
ano começasse de novo. Livres por fim para participar dos editais, recuperamos
espaços na medida da missão que nos move, que não é pequena. Desde
o princípio em 1993, repetimos o Viva ao Rio, na crença que a cidade tem jeito,
que trabalhar pela redução das desigualdades e do sofrimento é bom e faz
bem, sobretudo nas favelas e periferias onde a vida clama por justiça e paz.

Participamos de sete editais no mês de abril e ganhamos seis, por mérito evidente e
inconteste, registrado na pontuação e na ata de cada certame. Voltamos a gerenciar
unidades que servem às duas margens da Ave. Brasil, como
fazíamos até 2016, entre Maré, Alemão, Penha, Ilha, Vigário, Parada de Lucas e
Jardim América; assumimos a assistência de boa parte da Zona Oeste, incluindo Bangu,Realengo, Campo Grande e Guaratiba. Contando essas e outras unidades sob gestão do Viva Rio, são 2.672.000 pessoas sob os cuidados de vocês.
São 1.600.000 na assistência básica, 950.000 nas emergências e 122.000 em
hospitais. São números que nos sacodem, desafiam a nossa imaginação. Responsabilidade imensa, que se realiza numa infinidade de pequenos gestos,
pessoa a pessoa.

Sem falsa modéstia, dou aqui algumas razões para a escala alcançada pelo
Viva Rio em seu 28º ano de existência. Em primeiro lugar, fazemos um bom trabalho.
Isto é sabido e conhecido. Em 11 anos, foram 41 prêmios recebidos no
Brasil e no exterior. Em segundo, gostamos do que fazemos, sobretudo do
privilégio de trabalhar nas favelas do Rio e de outras praças, inclusive de
outros países. Inventar e construir pontes sobre as fendas sociais, sejam elas
de bambu, de concreto ou de palavras. Terceiro, somos honestos, corretos. Erramos
eventualmente com certeza, mas não compactuamos com a corrupção.
Em 2020, ano da vergonha nas políticas de saúde do Estado e do Município do
Rio de Janeiro, o próprio Ministério Público Federal veio a público dizer que o
Viva Rio era a única OS que não se deixou envolver com os “esquemas”. Acho
que a expressão “única” exagera, pois conhecemos OSS parceiras que tampouco se
mancharam. Mas não há dúvida que o círculo de Organizações Sociais no
Estado do Rio foi em grande parte conivente com os desmandos no Estado e
no Município. Talvez o desmonte dessas OSS seja uma quarta razão para o
destaque que o Viva Rio obteve na virada do ano.

Realço que o Viva Rio tem prestado serviços para o Estado, em outros municípios e
países, como em Niterói, Friburgo, Paraty, Pinheiral, Resende e o
SAMU nas estradas do Sul Fluminense. Trabalha também no Haiti, na Jordânia
e na África subsaariana. Tudo junto, chegamos a cerca de 9.000 colaboradores
contratados, sem falar nos voluntários. Não são anjos, longe disso, mas ao fim
de cada dia são lembrados com gratidão por muitos milhares de pessoas. Por
fim, uma recomendação: coragem!

Rubem César Fernandes

 

Prêmios do Viva Rio (*)

1994 ao presente

(*) Os prêmios direcionados a Rubem César Fernandes referem-se
ao seu trabalho enquanto representante do Viva Rio