CAPS promovem atividades de conscientização sobre o Dia da Luta Antimanicomial

Viva Rio faz a cogestão de 10 Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) em parceria com a prefeitura do Rio

Evento no CAPSad III Miriam Makeba contou com roda de conversa e apresentações de música e dança

 

Para conscientizar sobre o Dia Nacional da Luta Antimanicomial, celebrado nesta quinta-feira (18/05), está sendo promovida uma série de atividades culturais nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do Rio de Janeiro com intuito de garantir o direito dos usuários, bem como o cuidado em liberdade. O CAPS AD  III Miriam Makeba, que atende pessoas em uso prejudicial de álcool e outras drogas, e o CAPSi II Visconde de Sabugosa, voltado para acompanhamento de crianças e adolescentes em sofrimento mental, fazem parte da programação. As unidades são administradas pelo Viva Rio, em cogestão com a prefeitura.

A data marca as mobilizações de usuários, familiares e trabalhadores em prol do fechamento de manicômios e da formalização de novas legislações, além da implantação da rede de Atenção Psicossocial.  Nos últimos anos, houve avanços na desinstitucionalização de pacientes psiquiátricos, especialmente com a implementação dos CAPS, dos Serviços Residenciais Terapêuticos e da ampliação do cuidado, com ações de base territorial e comunitária.

A equipe do CAPS AD III Miriam Makeba, localizado em Ramos, promoveu, nessa quarta-feira (17), uma roda de conversa no Espaço Normal, espaço de referência sobre drogas, da Redes da Maré. O evento contou com a participação de cerca de 30 pessoas, entre usuários da unidade e pessoas em situação de rua. Além de um bate-papo, os participantes também puderam se expressar com apresentações de dança e música.

O CAPS AD realiza atendimento 24 horas, em todos os dias da semana, incluindo finais de semana e feriados às pessoas em uso prejudicial de álcool e/ou outras drogas. Vanessa dos Santos Ribeiro, 31 anos, pessoa em situação de rua, é uma das usuárias do Miriam Makeba. Ela afirma que no CAPS recebe todo o cuidado que precisa.

“Sou paciente desde que inaugurou (há nove anos). Eu cheguei em situação de rua, fui acolhida e lá todo mundo trata a gente bem, não tenho o que reclamar. As pessoas me dão carinho e amor, coisas que não recebi ao longo da vida. O CAPS para mim é uma segunda família, me ajudam em tudo”, conta Vanessa, emocionada.

Coordenador do CAPS Miriam Makeba, Raphael Calazante, com a usuária Vanessa dos Santos 

 

Raphael Calazante, coordenador técnico do Centro de Atenção Psicossocial Miriam Makeba, explica o objetivo da atividade. “Essa ação visa politizar os usuários, mobilizá-los para o ato do Dia da Luta Antimanicomial, que tem como uma das bandeiras históricas o lema ‘trancar não é cuidar’. Estamos aqui, promovendo atividades culturais para afirmar a importância do cuidado em liberdade”, explica.

Segundo o coordenador, a unidade tem uma média de cinco mil usuários cadastrados, grande parte atendidos diretamente no território. “O trabalho do CAPS é estar nos territórios e chegar nas pessoas que não conseguem ir até o serviço. Fazemos acolhimento em várias regiões como o Complexo do Alemão, Penha e Maré. Entendemos que essas pessoas não têm acesso a nenhum serviço de direito social e atuamos promovendo acesso à saúde, que são os cuidados em geral, não só atendimento médico e remédios, mas acesso a cultura, política de distribuição de renda e moradia”, relata Raphael.

Já no CAPSi Visconde de Sabugosa, que atende mensalmente cerca de 400 crianças e adolescentes, foi promovida uma oficina de serigrafia, na quarta-feira (17), onde os usuários confeccionaram blusas e bandeiras para o ato que acontece nesta quinta-feira, no centro do Rio. Neste mês, também foram realizadas outras atividades como Yoga e sessão de cinema, além de uma oficina de pintura sobre a Luta Antimanicomial.

Adolescentes do CAPSi Visconde de Sabugosa confeccionando camisas para o ato do Dia da Luta Antimanicomial 

 

Os Centros de Atenção Psicossocial 

Os CAPS são unidades de saúde que realizam acolhimento de primeira vez, atendimento a usuários e familiares, bem como acolhimento às situações crises em saúde mental. Por meio do Projeto Terapêutico Singular, os CAPS desenvolvem ações de reinserção psicossocial de pessoas com transtornos mentais graves e/ou com pessoas  com necessidades decorrentes do uso prejudicial de álcool ou outras drogas.

Contam com uma equipe multiprofissional composta por médicos, assistentes sociais, psicólogos, enfermeiros, terapeutas ocupacionais, técnicos de enfermagem, assistente sociais, dentre outros. O trabalho é feito em articulação com os serviços da RAPS, incluindo as unidades básicas de saúde e com atores intersetoriais, como educação e assistência social, por exemplo.

O acesso ao serviço acontece tanto por demanda espontânea quanto por encaminhamentos vindos da atenção primária, emergência, ou após internação clínica/psiquiátrica. Funcionam de segunda a sexta, com exceção dos CAPS III, que têm funcionamento 24h, durante todos os dias, com acolhimento noturno.

O Viva Rio faz a cogestão de 10 unidades de Saúde Mental, sendo quatro na Zona Sul e seis na Zona Norte da cidade. Maíra Matos, psicóloga e coordenadora de Saúde Mental no Viva Rio, fala da importância do cuidado no território de vida do usuário, sem excluí-lo da sociedade.

“A Luta Antimanicomial reforça a ideia de não cuidar do usuário trancafiado. Há pessoas que passaram 30 anos em um hospício, afastadas de suas vidas cotidianas. Estamos observando um progressivo fechamento de leitos psiquiátricos e o atendimento está sendo feito nos CAPS, próximo da família e rede de suporte do paciente. Nos articulamos com a atenção primária e outras políticas territoriais, tecendo redes de cuidado”, explica.

 As oficinas terapêuticas e espaços de convivência são parte essencial das unidades. “As pessoas em sofrimento psíquico estão com laços sociais muito rompidos. Então, promover espaços para estar junto, assistir televisão e tomar café com outros indivíduos, apesar de ações simples, são muito importantes para que o usuário exercite a convivência, mediado por um profissional, para que o laço social se mantenha. Criar redes de suporte é fundamental”, finaliza Maíra.

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