Direitos garantidos: ações intersetoriais atendem população em situação de rua

Tenda itinerante na Glória, Zona Sul do Rio 

 

As Secretarias Municipais de Saúde e de Assistência Social, junto com organizações da sociedade civil se uniram em prol de uma causa: promover ações intersetoriais de cuidado para a população em situação de rua, através das tendas itinerantes e do projeto Pop Samba, que acontecem em diferentes regiões da Zona Sul do Rio de Janeiro, para atender demandas físicas, sociais e culturais dessa parcela da sociedade. O Central Viva, programa do Viva Rio que orienta indivíduos em situação de vulnerabilidade extrema, é um dos atores das ações. 

Desde sua criação, o Viva Rio sempre lutou por justiça social, com projetos voltados para os mais vulneráveis, entre eles a população em situação de rua. A instituição já atuou em grandes cenas de uso de crack, com adolescentes, também realiza, todos os anos, a campanha Inverno Quente, que doa agasalhos e cobertores, além de ter o programa Central Viva, que auxilia em relação à violação de direitos, sendo quase metade das demandas recebidas voltadas para essa parcela da sociedade. Para ampliar ainda mais o trabalho, o Central Viva se junta às tendas e ao Pop Samba. 

Nas tendas, é feito um trabalho de busca ativa à população em situação de rua, para garantir cuidado integral e dignidade. São realizados atendimentos, com escuta qualificada, e feitos encaminhamentos de acordo com a demanda da pessoa, que podem ser de saúde, documentação, passagem para retorno à cidade natal e abrigamento, por exemplo. Também são distribuídos lanches, água, preservativos, e itens de higiene como escova, pasta de dente e absorvente.

Alguns dos atores da ação são o Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS) Maria Lina, o Centro de Atenção Psicossocial álcool e outras drogas (CAPSad) Heleno de Freitas e o Consultório na Rua do Catete, além do programa Central Viva e da ONG Nova Chance. 

Carla Serapião, psicóloga no CREAS Maria Lina que atua nas tendas, conta que as demandas são variadas. “Nas tendas realizadas na Glória, já chegamos a atender cerca de 60 pessoas por dia. A equipe de abordagem mapeia onde tem uma concentração maior de pessoas e a gente vai pra esse local. Verificamos a questão de documentação do indivíduo, auxiliamos em cadastros para recebimentos de benefícios do governo e também encaminhamos para a saúde básica, para tratamentos”, explica. 

Já o Pop Samba também tem o objetivo de ampliar e fortalecer o acesso da população em situação de rua, que “circula” no território do Catete, Flamengo e Laranjeiras, aos serviços da rede intersetorial (Saúde, Saúde Mental e Assistência Social), mas utilizando a música, lazer e entretenimento como recursos. 

O projeto acontece uma vez ao mês, com rodas de samba compostas por população em situação de rua, usuários e profissionais do CAPS, Consultório na Rua e outros serviços, além de transeuntes e agentes da cultura convidados, como blocos de carnaval. Durante a ação, também são realizados atendimentos sociais e de saúde, como nas tendas. 

O Pop Samba, criado em julho do ano passado, nasce a partir da interlocução da equipe do CREAS Maria Lina com a do CAPS Franco Basaglia. Mais tarde, se unem ao projeto o CAPSad Heleno de Freitas, o Consultório na Rua, a ONG Nova Chance e o Viva Rio, através do Central Viva.  

Cléo Moraes, coordenador do Central Viva, comenta a importância de oferecer novas formas de cuidado à população em situação de rua. “O Pop Samba começa a partir da idealização dessa rede intersetorial, que tinha o desejo de ir além do atendimento tradicional. O samba é uma expressão de arte e isso é uma forma terapêutica de atendimento. Os instrumentos são compartilhados e os participantes podem pedir músicas de todos os gêneros, que tenham algum significado para eles”, relata. 

O Central Viva é um programa criado há 6 anos para orientar vítimas de violências, pessoas em situação de rua, aqueles que fazem uso abusivo e prejudicial de álcool e/ou outras drogas e pessoas que enfrentam violação de direitos. Além de ações próprias, são feitos encaminhamentos para órgãos públicos e unidades de saúde para dar continuidade ao atendimento.

Pop Samba no Largo do Machado reúne dezenas de pessoas 

 

Tendas itinerantes ampliam cuidado à população em situação de rua

As tendas itinerantes foram criadas em 2018, a partir de uma iniciativa do CREAS Maria Lina, que no ano anterior realizou um trabalho no território do Largo do Machado, para atender adolescentes em situação de rua que estavam sendo perseguidos. As ações foram intensificadas no território e serviços de saúde foram se juntando às tendas, já que foi observado o uso abusivo de drogas, colocando a vida dos jovens em perigo. 

Atualmente, as tendas funcionam em diversos bairros da Zona Sul do Rio e o uso prejudicial de álcool e outras drogas ainda é um problema frequente. Ricardo Silva, de 46 anos, que está em situação de rua há mais de 20 anos, conta que se envolveu com drogas ainda muito jovem e até hoje enfrenta dificuldade em deixar o vício. 

“Tenho meus documentos e participo de vários projetos de ONGs que nos apoiam. Atualmente estou buscando ajuda, vou começar a me tratar no CAPSad Heleno de Freitas, mas não quero só tratar a questão da droga, estou em busca de um emprego. Adoro estudar, ler, preciso de oportunidades”, relata. 

Embora seja uma forte questão presente nos atendimentos, os indivíduos atendidos nas tendas precisam de cuidados para além do uso abusivo de álcool e outras drogas. “Na Zona Sul há muito preconceito, sempre vinculam as pessoas em situação de rua ao uso de drogas, mas existem as infecções sexualmente transmissíveis, pressão alta, diabetes, etc. Nós da saúde procuramos deixar bem claro que o SUS é para todos. Vamos aos territórios, criamos vínculos, às vezes fazemos procedimentos na rua ou levamos até uma unidade. O importante é que seja tratado”, comenta Juliana Costa, assistente social do Consultório na Rua. 

Para Rogério Villela, médico do CAPSad Heleno de Freitas, em Botafogo, apesar de ser um trabalho árduo, está dando certo. “É um trabalho difícil, mas temos persistido e obtido sucesso na nossa abordagem. Observamos que sempre que a gente sai é uma população diferente, ou seja, estamos alcançando cada vez mais pessoas. Eu venho como um braço da saúde nessa ação, realizamos encaminhamentos, às vezes levamos em uma UPA e também acontece de fazermos o atendimento no território mesmo. É uma ação muito válida e muito potente para a saúde e assistência. Faço questão de participar”, finaliza o médico. 

 

Viva Rio promove evento com rede intersetorial

O Viva Rio, através do Central Viva, organizou o seminário “A intersetorialidade no cuidado da população em situação de rua da Zona Sul do Rio”, em março de 2024. A programação discutiu formas de cuidado eficazes à população em situação de rua, a partir de uma atuação em conjunto entre as áreas de assistência social e saúde, que também devem abranger outros setores, como educação e cultura. 

“Foi uma tarde muito produtiva, onde fomos atualizados, através da fala do Marcelo Pedra, sobre o ‘Colaboratório’, que estimula a intersetorialidade da rede, principalmente entre o Sistema Único da Assistência Social (SUAS) e Sistema Único de Saúde (SUS). Essas ações em parceria dão celeridade e eficácia na complexidade dos encaminhamentos e são uma oportunidade de apresentar aos colegas de outros territórios”, finaliza Cléo Moraes. 

Confira abaixo mais fotos das ações.

 

Texto: Raquel de Paula

Colaboração: Luzia De Seta e Adriana Kozak, assistentes Sociais do CREAS Maria Lina.

Fotos: Lucas Faro/Bruna Carvalho

 

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