A programação contou com painéis que debateram saúde, educação e religião
Evento reuniu referências da área de saúde, educação e religião
No mês em que se celebra o Dia da Consciência Negra, o Viva Rio, através de seu GT de Diversidade e Inclusão, promoveu um evento na última quarta-feira (29), o “Empoderamento negro: passado, presente e futuro”. Com painéis que debateram saúde, religião e educação, a programação trouxe discussões sobre o passado da população negra, suas potencialidades e as possibilidades de construção de um presente e futuro antirracistas.
O evento aconteceu na sede do Viva Rio, no Cantagalo, em Ipanema, e contou com a presença de convidados especialistas nos temas abordados. Mais de 50 pessoas participaram, entre colaboradores e público em geral. Na programação também teve uma oficina de Jongo, dança brasileira de origem africana praticada ao som de tambores, com o Projeto Girô.
Camila Nascimento, do GT de Diversidade, uma das organizadoras do evento, explica os motivos para a escolha dos temas. A profissional conta que foram pensadas em questões que se conversam, assuntos que são importantes tanto para a população negra quanto para o Viva Rio.
“A instituição faz gestão de unidades de saúde, então tem tudo a ver com a gente. O objetivo foi falar de cuidado, autocuidado, compartilhar isso com nossos profissionais, até porque a população negra é maioria em nossos atendimentos. Já na educação, o intuito foi pensar em maneiras de construir uma educação antirracsita, que é uma tarefa de todos nós, não só dos negros. Por fim, sobre religião, quando pensamos em racismo, tem muito a ver com a nossa fé, então é importante refletir sobre tolerância às religiões”, explica.
Oficina de jongo com o Projeto Girô
O primeiro painel, “Caminhos para uma educação antirracista”, contou com a presença de três convidados: Taís Espírito Santo, escritora, assessora literária, gestora cultural, roteirista e autora do livro infantil “Ashanti, nossa pretinha”; Marcelo Martins, professor e coordenador do pré-técnico e pré-vestibular social Estudando pra Vencer, na Vila Cruzeiro; Kamy Peltz, educadora, pós-graduanda em História e Cultura Afro-brasileira e criadora de um projeto literário afrocentrado para crianças; e Daniel Souza, ex-jogador de futebol, diretor do projeto social Acolher e treinador de equipes de base do Pérolas Negras.
Com a mediação de Andrea Cabral, analista administrativo no Viva Rio, formada em Letras e professora de português no preparatório social Estudando para Vencer, a mesa trouxe reflexões sobre a forma de educação atual e maneiras de combater o racismo estrutural, presente no dia a dia das crianças e adolescentes.
O professor Marcelo Martins reforçou que a escola, muitas vezes, ajuda a propagar o racismo. “Infelizmente, no ambiente escolar há racismo e desigualdade. É preciso entender que a escola tem uma função social gigantesca, para além do ensino das disciplinas. É preciso que os professores sejam treinados para lidar com essas questões e que toda a mentalidade do sistema escolar seja modificada”, reforçou.
A segunda conversa trouxe o tema “Saúde da população negra” para discussão, com ênfase para o acesso à saúde igualitário, autocuidado e saúde mental, especialmente para a população negra privada de liberdade e atendidos pelos Centros de Atenção Psicossocial.
O debate, mediado por Annie Thomaz, assessora técnica do Viva Rio, contou com a presença de Aline Albuquerque, fisioterapeuta, especialista em Saúde Pública e gerente de saúde no sistema prisional no Complexo Penitenciário de Gericinó, e Rogério Ferreira, especialista em Saúde Mental e assessor técnico do Núcleo de Atenção Psicossocial do Viva Rio.
Sobre a experiência nos presídios, Aline Albuquerque reforça que, apesar de desafiador, o trabalho de atenção primária realizado nas unidades tem sido um sucesso. “Nos presídios há várias privações de direitos, há exposição a extremo calor e frio, alimentação precária… Então não se pode pensar que saúde é apenas a ausência de doenças, precisamos garantir o acesso à saúde integral da população privada de liberdade, em sua maioria negros. Temos feito um trabalho que antes parecia impossível, apesar dos desafios, temos avançado muito”, conta.
O último painel, com o tema “O negro se encontrando na fé: um debate com líderes religiosos sobre racismo religioso”, teve a participação de Yalorixá Preta Lágbára, sacerdotiza do Terreiro Omo Ase Iyá Nasso Okãà – Ilé Àse Esu Ati Ogun e idealizadora do Quilombo de Mãe Preta, projeto para crianças; Pastor Ayo Balogun, nigeriano, professor universitário, palestrante e escritor; e Frei Tatá, Vigário Paroquial na Paróquia Nossa Senhora Aparecida, em Nilópolis, e Superintendente de Promoção de Política de Igualdade Racial de São João de Meriti.
Conduzido por Leonardo Paiva, gestor de contratos do Viva Rio, a mesa trouxe considerações sobre formas de combate ao racismo religioso e à intolerância religiosa, além do trabalho dos líderes religiosos como formadores de opinião. “O branco tentou, e conseguiu, nos fazer enxergar nossa ancestralidade como ‘coisa do demônio’. Mas em meu terreiro busco levar essas discussões, trazer letramento racial. Sempre que posso falo da minha vivência com o racismo”, conta Yalorixá Preta Lágbára.
O evento “Empoderamento negro: passado, presente e futuro” faz parte da campanha do Viva Rio, de mesmo nome, que trouxe nas redes sociais indicações de artistas e personalidades pretas e depoimentos com histórias de sucesso.
Confira abaixo mais fotos do evento.