“Foi um momento de esquecer um pouco a tensão e a situação de violência que estamos vivendo constantemente no dia a dia. Tomara que este não seja o único, eu adorei!”. A fala da agente comunitária de saúde Daise de Paula, moradora do Conjunto Tom Jobim, em Costa Barros, mostrou a importância do evento “Cuidando de Quem Cuida“, realizado no sábado (23), na Lona Cultural de Guadalupe, Zona Norte do Rio. Um dia inteiro com tratamentos especiais e outros mimos foi pensado para aqueles que tanto se dedicam à saúde alheia.
Ao chegar para mais um dia de trabalho no Centro Municipal de Saúde Portus Quitanda, no Complexo do Chapadão, Daise, Rosilene Porto, Rachel Teixeira e os demais colegas dirigem-se à sala da administração para saber como estão os acessos ao território naquele dia. A rotina de episódios violentos intensificou-se de três anos para cá e o sistema de sinalização de cores foi criado para orientar os funcionários a se locomoverem em segurança.
“Se estiver verde, o caminho está livre. A placa amarela indica que só é autorizada a saída da unidade com permissão. Quando está vermelho, todos devem permanecer no interior do CMS até segunda ordem”, explicou Rosângela Porto.
Segundo ela, manhãs como aquela em Guadalupe são importantes para renovar as energias. No próprio dia a dia de trabalho, para superar a tensão, agentes comunitárias de saúde formaram um grupo de artesanato que produzem objetos como sandálias, bolsas, enfeites e arranjos de flores. “È uma forma de aliviar a rotina e nos unir para superar o que estamos passando”, diz ela.
“Se não cuidarmos de nós mesmos, não vamos cuidar de ninguém direito”. Com essas palavras, o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, deu início à programação.
Serviços de manicure, cabeleireiro, design de sobrancelhas, depilação e massagem; demonstrações de esportes, apresentações de música, cabine fotográfica (confira todas as fotos aqui); orientação jurídica. Entre eletrodomésticos, cosméticos, livros e chocolates, foram sorteados mais de 100 brindes.
Outro destaque foi o trabalho demonstrado pelo articulador social Jocelino Porto, que ministrou oficinas de jardinagem com destaque para o apoio a hortas sustentáveis e a distribuição de mudinhas de temperos.
Diferentes setores além da Saúde, entre eles Ouvidoria, Redes, Gestão de Pessoas, Eventos, Comunicação e Voluntariado envolveram-se na concepção e organização, que contou com a participação de mais de 30 colaboradores. Duzentas pessoas estiveram presentes, entre funcionários do Centro Municipal de Saúde Portus Quitanda, da Clínica da Família Manuel Fernandes e seus acompanhantes.
“Este foi um dia para o reconhecimento do trabalhador, que faz parte de uma política institucional que o Viva Rio está desenvolvendo, de valorização do colaborador que está na ponta”, explica a coordenadora de Redes Daiana Albino. A importância do engajamento voluntário e as muitas doações feitas por parceiros que se reverteram em brindes, mas também a dedicação e o tempo disponibilizado foram ressaltados pela gestora ao anunciar as atividades. “Muita gente que se apresentou está no território de vocês, são pessoas de quem vocês cuidam, e que puderam retribuir e demonstrar toda a consideração pelo que vocês fazem”, disse ela.
“É uma angústia nossa entender o que vocês passam no dia a dia, o que vocês significam para essas famílias do território”, complementou a coordenadora da área 3.3 Luciana Krull, na abertura do evento.
“Pretendemos repetir muitas outras vezes este dia que lança um olhar específico e especial a quem cuida de muita gente”, disse a vice-diretora do Viva Rio Caroline Caçador. Superintendente de Saúde e Desenvolvimento Social, Ana Scheineder lembrou que o profissional de saúde que está na ponta é quem faz a diferença direta nas vidas de crianças, jovens, idosos e gestantes.
Rubem César Fernandes pediu ainda aos colaboradores que, através de setores como a Ouvidoria e a Redes, compartilhem suas questões do dia a dia para que o Viva Rio possa ajudá-los a lidar com o cotidiano de violência no território. “Às vezes a gente não aguenta mesmo, por situações que nos deixam estressados. A gente tem de ter uma maneira de lidar com isso. Como vocês estão trabalhando em áreas onde o bicho pega dia sim e outro dia também, vocês têm muito a nos ensinar a refletir como é trabalhar em um ambiente assim”, finalizou.
Texto de Sol Mendonça | Fotos de Tamiris Barcellos