20/9/2016
Ao lado de representantes da sociedade civil que lutam pela manutenção do Estatuto do Desarmamento (Lei 10826/2003), o Viva Rio assina o manifesto dos pesquisadores contra a revogação do Estatuto, que será divulgado durante o 10 º Encontro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), que começa nesta quarta-feira (21), em Brasília. O documento é uma reação à recente aprovação, por uma comissão especial da Câmara dos Deputados, do Projeto de Lei 3722, que visa a revogação da Lei 10826/2003. Entre outros pontos, o projeto de lei reduz a idade mínima para aquisição de armas de fogo de 25 para 21 anos e autoriza indivíduos que respondem a inquérito policial ou a processo criminal a possuírem armas de fogo, inclusive aqueles processados por homicídio.
Confira o Manifesto contra a revogação do Estatuto do Desarmamento
“Nossa posição é por um controle rigoroso de circulação de armas de fogo”, propõe o coronel Ibis Pereira, que representa o Viva Rio no evento e na mesa de abertura dos trabalhos com representantes das 16 instituições e organizações apoiadoras da manutenção do Estatuto. “Como discutir o porte de armas em uma sociedade onde a cada 10 minutos morre um brasileiro, 80% deles vítimas de armas de fogo?”, questiona ele. O debate vai das 14h30 às 16h, na Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos da Universidade de Brasília (Finatec-Unb Brasília).
“O intuito deste documento é informar à sociedade sobre as evidências científicas disponíveis sobre a efetividade do estatuto do desarmamento como um instrumento para salvar vidas”, começa o manifesto, assinado por pesquisadores e cientistas como Antonio Rangel Bandeira, mestre em Ciência Política e consultor do Viva Rio; Alba Zaluar, doutora em Antropologia; Julita Lemgruber, Mestre em Sociologia e Luiz Eduardo Soares, doutor em Sociologia, entre outros.
“É preciso tirar o debate sobre o controle de armas de fogo do terreno da ideologia, dos mitos, construir uma política de segurança pública baseada em pesquisas científicas, e não em crendices ultrapassadas”, afirma Rangel, que cita como exemplo o fato de muitos acharem que as armas ilegais chegam ao Brasil via contrabando. “A análise de informações sobre cerca de 300 mil armas ilegais apreendidas pela polícia em todo o Brasil revelou que 14% delas eram estrangeiras e 86% foram fabricadas aqui, armaram a criminalidade por falta de controle das autoridades. Isso é informação científica, e o trabalho da polícia tem que se basear nesse conhecimento, e não no “achismo”. A polícia, portanto, tem que concentrar seu trabalho no controle das fábricas, do transporte, das lojas de armas, se quiser evitar que as armas acabem na ilegalidade”, apontou.
Ex-comandante geral da Polícia Militar e assessor de Segurança Humana do Viva Rio, o coronel Ibis observou ainda que quem deseja se armar precisa gastar cerca de R$ 2,5 mil para adquirir uma arma e munição. “Não é para o conjunto da sociedade, mas um verdadeiro desastre inoportuno. Entendo que é preciso discutir questões como a redução de homicídios, e não maneiras de aumentar ainda mais esses absurdos índices de mortalidade”.
(Texto: Celina Côrtes | Foto: Paulo Barros e divulgação)