“Não dá para chorar porque estou aqui e o povo do Haiti está lá, com sua força”. A frase de Robert Montinard, apresentador do programa radiofônico Haiti Aqui, veiculado pela rádio Viva Rio, marcou um dos momentos mais emocionantes do lançamento do projeto “Haiti Aqui”, na tarde da segunda-feira (12), no salão Pablo e Ana, na sede do Viva Rio. O evento ocorreu cinco anos depois do Goudou-Goudou, terremoto que matou 250 mil pessoas e deixou 1,5 milhão de desabrigados.
Outro destaque foi a presença do embaixador do Haiti, Madsen Chérubin, acompanhado de sua mulher, Daphcar Jules. “Agradeço ao Brasil por receber os cerca de 50 mil haitianos e ao projeto do Viva Rio por ajudá-los, instituição que já faz um excelente trabalho há 10 anos em nosso país”, afirmou Chérubin, que também encerrou o evento seguido pelo hino “La Dessalienne”, do país caribenho.
A cerimônia foi iniciada pelo mestre de cerimônias Ubiratan Ângelo e coordenador do projeto, pouco depois das 16h. Ele aproveitou para elogiar o jazz e o café haitiano e em seguida foi a vez do embaixador se dirigir aos ausentes. Chérubin lembrou a morte de Zilda Arns em missão humanitária quando ocorreu o terremoto e convidou todas as instituições presentes a apoiar o “Haiti Aqui”, “essa ferramenta moderna interativa que vai ajudar a vida dos haitianos no Brasil”, acrescentou. A atmosfera haitiana foi acentuada pelos quadros de artistas de rua que decoravam o salão lotado, além de peças de artesanato como jarras, telhas, esculturas e até a suave colônia Florida Water usada pelo povo caribenho.
Robert, mais conhecido como Bob, e sua mulher, Mélanie, fizeram uma apresentação do projeto, auxiliados pela projeção de imagens. “O site foi criado em quatro idiomas (créole, português, francês e inglês) com vários serviços, como o passo a passo para ensinar os que moram no Brasil a tirar os documentos necessários, além de oportunidades de emprego, capacitação e mapas das organizações que trabalham com o povo caribenho no país”, explicou ela.
A emoção não deixou Mélanie chegar ao fim – ela e sua família também foram vítimas do Goudou-Goudou, como revelou o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes. Em seguida, começou o momento mais forte do evento, quando um grupo de haitianos fez ‘um minuto de barulho’, com instrumentos haitianos de percussão como o jaembe e tambo (conga para os brasileiros), pelos cinco anos do terremoto.
Telhado vermelho
O próprio Rubem César confessou que chorava quando começou a falar. Lembrou da casa de telhado vermelho onde moravam Bob e Mélanie na capital, Porto Príncipe, destruída pelo terremoto. O amigo Izi One, estrela do hip hop local, estava com o casal e não resistiu ao desabamento. “Bob resgatou o filho Bimba e a guerreira Mélanie encontrou uma luz, conseguiu sair da casa e voltou para buscar o marido e o filho. Lula, o mais velho, estava com a mãe biológica e ambos ficaram 48h soterrados até serem salvos”. E completou: “Queremos estar perto desse povo maravilhoso e continuar no Haiti por toda a nossa vida”.
Na sequência, Ivanir dos Santos, interlocutor da Comissão de Combate à Intolerância religiosa, puxou à frente representantes da pajelança indígena, do Hare Krishna, dos mulçumanos maleses, do candomblé, da umbanda, dos ciganos, espíritas, da wicca (bruxaria moderna) e dos estudos bíblicos.
A fim de mostrar aos presentes aqueles que trabalham pelos haitianos junto ao Viva Rio, foi a vez dos representantes civis e militares. Entre eles, o chefe de gabinete e ex-comandante geral da PM, Isis Silva; do ex-comandante do BOPE, Wilman René Gonçalves Alonso , e do major Tadeu Barbosa, do Centro de Instrução de Operações Especiais (UNPOL), que participou da Missão de Paz no Haiti, além de personalidades da polícia civil, das Universidades Federal Fluminense (UFF) e Estácio de Sá, das Relações Internacionais e do Desenvolvimento Social do município, do Instituto de Estudos da Religião (ISER) e estudantes haitianos já radicados no Brasil.
Antes disso, porém, Aline Thuller, coordenadora do Cáritas/Imigração Rio, elogiou a força do povo haitiano e, graças a ela, ampliou aos caribenhos o atendimento da instituição antes restrita a refugiados. Depois de atender a mais de 400 haitianos, ela lembrou que muitos deles são qualificados, “engenheiros, artistas”, e só conseguem trabalhar como pedreiros. “Queremos fortalecer nossa luta junto ao Viva Rio”, propôs.
O evento terminou com um banquete de comida haitiana, cujas estrelas foram o Akra (bolinho de inhame) e uma apimentada salada de legumes.
(Texto: Celina Cortes / Fotos: Tamiris Barcellos)
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