A parceria entre o Viva Rio e a Singularity University, centro de pesquisa localizado no parque da Nasa, na Califórnia, que tem o Google entre seus patrocinadores, foi anunciada nesta segunda-feira (19) no salão Pablo e Ana, no Viva Rio. O primeiro resultado da iniciativa é trazer ao país a startup Artificial Intelligence in Medical Epidemiology (AIME, Inc), que vai usar a inteligência artificial para prever surtos de dengue no Brasil.
Para o coordenador de Educação e Inovação do Viva Rio, Francisco Araújo, que já esteve na Singularity University e foi o principal responsável pela seleção do trabalho desenvolvido pela AIME, “este é apenas o início dessa parceria extraordinária, com uma tecnologia que está saindo do forno”. Segundo a assessora de Relações Internacionais do Viva Rio, Luisa Phebo, o objetivo do programa de intercâmbio é trazer ao Brasil empresas de ponta: “A AIME é nossa primeira experiência”, comemora.
O engenheiro de computação da AIME, Rainier Mallol, observou que seu grupo, que também já se debruçou sobre doenças como malária, AIDS, ebola e pólio, optou por focar na dengue, que atualmente coloca em risco 2,5 bilhões de pessoas no planeta. Só o Brasil investe US$ 1,3 bilhão por ano no combate ao problema que, apesar disso, continua a evoluir. “Construímos uma ferramenta que associa inteligência artificial à epidemiologia, testada em dois lugares da Malásia e chegou a 88,6% de eficácia na antecipação em até três meses de onde ocorrerão novos surtos”, explicou.
Tanto Rainier quanto o médico epidemiologista Dhesi Raja e o cientista de computação Ho Chiun Ching passarão três semanas no Rio de Janeiro levantando os dados necessários à previsão dos próximos surtos de dengue, para que o combate à doença possa ser feito de forma localizada e, portanto, de maneira mais eficaz, com métodos já usados como o fumacê e o uso de mosquitos geneticamente modificados.
Os resultados da metodologia desenvolvida pela AIME só não são mais precisos porque dependem das estatísticas feitas pelas autoridades sanitárias de países como a Malásia, onde puderam comprovar a eficiência das previsões, embora não tenham obtido os números da redução de casos propriamente ditos.
Dhesi Raja não considera problemática a obtenção dos dados necessários para desenvolver a ferramenta que variam de país para país, e acredita que existam muitas semelhanças climáticas e econômicas entre a Malásia e o Brasil. “O que pode ocorrer é necessitarmos de um período mais longo do que o previsto para conseguirmos essas informações exatas, mas não temos medo de não conseguir”, afirmou. A questão essencial, segundo ele, é a epidemiologia e a inteligência artificial falarem a mesma língua, ou seja, “trabalharem em conjunto”.
Transformar o mundo
Durante a apresentação da proposta, a coordenadora do programa de parcerias da Singularity, Erika Barraza, explicou que, para os pesquisadores, o grande desafio é responder à pergunta sobre como impactar um bilhão de pessoas no planeta, o que inclui abordagens que afetam a humanidade como a pobreza, segurança e saúde, entre outras. Para isso, ao invés de trabalhar de uma forma linear, a universidade opta pelo uso da tecnologia “como um catalisador de mudanças exponenciais”.
Entre os exemplos, citou os carros que dirigem sozinhos; a robótica, capaz de solucionar problemas de mobilidade através de próteses ou ainda a fabricação, pela Nike, em unidades como as de Singapura e do Vietnan, cujo processo em 3D tornou o frete desnecessário. Na área de biologia, não é diferente: em 2012, foi anunciado o primeiro genoma humano e hoje, por US$ 100, já é possível fazer o sequenciamento genético. Erika também falou em “desmaterialização”, cujo melhor exemplo estaria nos telefones celulares, que passaram a oferecer uma série de serviços, como GPS e provedor digital, em um único dispositivo.
Na área de inovação, a Singularity trabalha com startups, como a AIME, com sete parceiros para desenvolver propostas sobre como pensar as soluções para os problemas, entre eles o Viva Rio e a Unicef. “Nos laboratórios da Singularity, existem grandes programas que avançam em escala global”, explicou Erika, que resume a ambiciosa proposta da universidade californiana: “Queremos transformar o mundo”.
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Vitor Madeira)