Um balanço da situação do Haiti após a passagem do furacão Matthew e comparações com o trágico legado do terremoto, que deixou 300 mil óbitos em 2010, foi feito na entrevista abaixo pelo filósofo e estudante de Teologia, Valmir Fachini, 55 anos, coordenador do programa de ambiente da Academia Pérolas Negras e do Centro de Formação e Ecoturismo do Viva Rio, há quase 8 anos no país caribenho. “Me tornei um eco chato e bio desagradável. Desde 1990, difundo o conceito de bio sistemas integrados, replico unidades e formo equipes multiplicadoras no Brasil, Nicarágua, República Domicana, Haiti e Espanha”, explica Fachini, com humor.
Viva Rio: Quais as semelhanças e diferenças entre os efeitos do furacão e do terremoto?
Fachini As semelhanças são a destruição das casas, milhares de mortos e desabrigados. Os sistemas de ajuda, tanto em larga escala pelas grandes organizações, como a ajuda direta são muito parecidas. As proporções é que são menores com o furacão, que atingiu com força total o sul dom país, com menos habitantes. A grande diferença é que o terremoto pega de surpresa a todos. O furacão se sabe quando vai chegar, com que força ele vem e sua direção. Isso permite a mudança de local a quem está informado e sabe seu significado. O pessoal que conheço da Igreja Batista da Flórida veio para Porto Príncipe e voltou depois do furacão para ajudar os desabrigados. Isso significa que se pode evitar muitas perdas se houver estrutura de apoio a deslocamento em massa, como foi feito em Cuba e nos Estados Unidos.
Viva Rio: Como o Viva Rio colaborou com as vítimas?
Fachini: O pessoal do Viva Rio que vive em Petion Bille ficou por lá, que era o local mais protegido, tanto pelas construções mais resistentes quanto pela própria montanha, a 600 m de altitude. Nós ficamos na Academia, localizada ao Norte da Região Metropolitana e no meio da nova área formada após o terremoto, com mais de 300 mil habitantes. Participamos das ações de prevenção e orientação da população que habita áreas menos seguras antes da chegada do furacão. Durante, deslocamos os caminhões e funcionários para ajudar na retirada de famílias com dificuldade de locomoção. Todas foram para abrigos da prefeitura. Depois do furacão, fraco nesta área, voltamos com as equipes e novamente reforçamos o trabalho das brigadas locais de proteção contra riscos e desastres naturais.
A equipe do Viva Rio no Centro de Formação e Ecoturismo participou da limpeza dos escombros deixados na orla do mar pela força das ondas e pela elevação do nível do mar. Os 70 alunos do centro participaram durante toda a semana da rotina dos três hotéis mais próximos aprendendo a colocar a mão na massa para recuperar os ambientes destruídos. Nas regiões de Onaville, Corail e Canaã, estão acontecendo atividades de prevenção a cólera. Na Academia, tivemos atividades durante todo o dia de hoje (domingo 16), que se comemora o Dia Internacional de lavagem das mãos. Para mim, uma lição de cooperação foi a atitude dos funcionários e alunos do Centro de Formação e Ecoturismo em se junta para ajudar o povo da rede hoteleira de Cote des Arcadins. Também ficavam ligando para saber notícias dos funcionários que ficaram em casa. Esse espírito de cooperação continua. Hoje os alunos que estudam e moram na Academia foram levar um caminhão de doações para os desabrigados do sul.
Viva Rio: Qual foi a expectativa de vocês diante da chegada do furacão?
Fachini: Muito grande! Todos dormimos mais cedo na Academia para estar acordados na hora em que Matthew chegasse. Ele acabou atrasando e passamos a noite esperando. Finalmente soubemos que ele não viria para estes lados e seguiria seu curso entre as ihas rumo ao Oeste de Cuba. Temos uma média de 50 funcionários entre os fixos e professores que trabalham por hora aula. São formados pela administração, programa de segurança humana, educação, ambiente, staff técnico da Academia, professores e trabalhadores de serviços gerais e todos entraram de prontidão.
Viva Rio: Houve perdas humanas ou materiais para o Viva Rio, quantos funcionários trabalham no Haiti peça instituição?
Fachini: Na Academia só tivemos de trocar algumas telhas que ao vibrarem muito com os ventos médios e contínuos por mais de 72 horas acabaram danificadas e não seguram mais a água das chuvas que continuam por aqui pelos efeitos da tempestade tropical Nicole que, mesmo distante, provoca a formação de muitas nuvens com chuvas bem mais fortes que as do furacão Matthew.
Viva Rio: Os haitianos têm um temor permanente em relação aos fenômenos climáticos?
Fachini: Percebi que eles compreendem bem que existem todos os anos uma temporada de furações que se formam no oceano e as vezes atingem essa região do Caribe.
Viva Rio: Ainda há muito por fazer em relação apos danos deixados pelo terremoto?
Fachini: A única construção simbólica que ainda não foi reconstruída é a do Palácio Nacional, onde ficava a sede do governo do Haiti. No mais, aparentemente tudo voltou ao normal, que continua caótico. As regiões habitadas nas áreas baixas próximas ao mar são extremamente insalubres, já eram assim antes do terremoto e continuaram depois.
(Texto: Celina Côrtes| Fotos: Divulgação)