Roda de conversa com representantes do Fórum Estadual de Mulheres Negras do Rio
As mulheres negras representam mais de 28% da população brasileira. São 60,6 milhões, entre pretas e pardas, segundo o Censo de 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Para celebrar e reivindicar direitos, foi criado o Dia Internacional da Mulher Negra Latino-Americana e Caribenha, comemorado no dia 25 de julho. Para marcar a data, o Núcleo de Desenvolvimento Social do Viva Rio, com apoio da Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae), promoveu o evento Tecendo Raízes, na última terça-feira (22).
A programação aconteceu na sede do Viva Rio, em Ipanema, voltada para colaboradoras da instituição e mulheres das comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho. Foi realizada uma oficina de confecção de bonecas abayomi, feitas de pano e sem costura, que são símbolo de resistência e ancestralidade, e uma roda de conversa com representantes do Fórum Estadual de Mulheres Negras do Estado do Rio de Janeiro, responsável pela organização da marcha estadual, que acontece anualmente.
Jacilea Santos, do Núcleo de Desenvolvimento Social do Viva Rio, comenta a importância da ação. “Já temos um espaço de cuidado com as mulheres, o projeto Café com Elas, de fortalecimento de vínculos. E esse evento da última terça foi mais uma oportunidade de troca entre mulheres de várias faixas etárias, que puderam compartilhar de seus sofrimentos, dores e conquistas. A oficina de bonecas abayomi, além de exaltar a ancestralidade negra, também pode ser uma forma das mulheres empreenderem. A programação buscou, ainda, construir um espaço político e convocar as mulheres da comunidade para a marcha”, relata.
Antônia Soares, liderança comunitária na favela do Cantagalo, foi uma das participantes do evento. “Achei a oficina o máximo. Eu já conhecia a boneca abayomi, inclusive já ministrei oficina sobre ela no Museu de Favela, tenho umas três em casa. Mas sempre que tem uma oportunidade de convivência com as colegas, eu participo, pois é muito bom. Temos que buscar nossos espaços, não podemos ficar sentadas esperando acontecer, porque não vai. A gente que mora em favela já é deixado de lado, como mulheres negras, mais ainda. Então, temos que dizer que nós estamos aqui, somos cidadãs e queremos nosso lugar nesse mundo”, reforça.
Oficina de bonecas abayomi, feitas de pano, sem costura e cola
A data fala de celebração, mas também de luta e combate à violência, ao racismo e ao machismo. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, em 2023, cerca de 63% das vítimas de violência sexual e feminicídio no país foram mulheres negras.
Luciene Lacerda, da coordenação do Fórum Estadual de Mulheres Negras do Rio, fala da presença de mulheres negras na política. “Somos a maioria da população brasileira, mas as políticas não chegam até nós. Embora maiores em número, ainda somos poucas em vários setores, especialmente de gestão e direção. Embora nos últimos 20 anos o número de mulheres na política tenha aumentado, ele ainda é muito pequeno diante da proporção que somos. Ainda temos muito o que conquistar. Através de nossos coletivos e marchas, já fizemos campanha para a primeira mulher negra no Supremo Tribunal Federal, mas isso ainda não aconteceu. Avançamos, sim, mas precisamos ocupar mais espaços de poder”, reforça.
Desde 2015, milhares de mulheres se unem em um ato político-cultural por justiça e bem viver na Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro, que acontece todos os anos, no mês de julho, organizada pelo Fórum Estadual de Mulheres Negras. Ela faz parte da construção da marcha nacional, que será realizada no dia 25 de novembro, em Brasília, data que marca o Dia Internacional para a Eliminação da Violência contra as Mulheres.
A 11ª edição da Marcha das Mulheres Negras do Rio de Janeiro vai acontecer no próximo domingo, 27 de julho, na Praia de Copacabana, a partir das 10h. A concentração será na Praça do Lido, perto do Posto 2, e a marcha seguirá até a Praça Almirante Júlio de Noronha, onde terá feira, samba e outras atividades culturais.
Confira mais fotos do evento.
Texto: Raquel de Paula