O ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, foi homenageado durante o fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações” pelo Senador Eduardo Suplicy, que cantou “Blowing In The Wind”, de Bob Dylan, acompanhado por toda a audiência. Após o tributo ao líder da luta contra o apartheid, o congressista abordou a necessidade da mudança na legislação que regula a política de drogas no Brasil.
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O senador Suplicy acredita que o caminho ideal é o da regulamentação, sujeita a fiscalização do governo e que não expõem o usuário e nem o estigmatiza. Para o congressista, essa política evitaria os altos índices de encarceramento e injustiças. “Temos que tratar o usuário como consumidor. Não podemos criminalizá-los e nem julgá-los por uma conduta que não realizou”, afirmou.
Para o senador, experiências de países como Uruguai, Portugal, Holanda e Espanha evidenciaram que a descriminalização do uso de drogas foi um passo fundamental para racionalizar uma política hoje obsoleta e fracassada, que transforma a principal vitima do ilícito em um objeto da persecução penal. Suplicy comentou que, após as eleições de outubro de 2014, apresentará um pré-projeto de lei no parlamento. A proposta de alteração na lei 11.343/2006 foi idealizado pela Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia e Viva Rio e analisado pela assessoria jurídica do senador.
Estão previstas nesse documento a redução de pena para o porte de pequenas quantidades de drogas e a descriminalização para consumo mínimo individual de 30 dias. “Esses números ainda estão em aberto, mas creio que não pode ser tão pequeno que permita um contato constante com o narcotráfico”, disse.
Suplicy argumentou ainda que projetos como a PLC 37, antiga PL 7663/2010, não podem ser aprovados. “Pedirei vista do projeto no senado”. O deputado federal, também petista, Paulo Teixeira, explicou que essa proposta criminaliza o usuário de drogas e é objeto de duas políticas: internação e prisão. O parlamentar comentou que com esse projeto o usuário de drogas teria apenas a abstinência como alternativa de tratamento. “Isso é um retrocesso na política de redução de danos.
Para o deputado, a regulação para uso recreativo nos estados americanos de Washington e Colorado, além da regulamentação total do consumo e comercialização da maconha no Uruguai, possibilitam ao Brasil considerar outras possibilidades de normatização de seu mercado.
A questão das drogas na Colômbia também foi abordada durante o fórum por conta do programa de redução de danos realizado nas ruas de Bogotá, através do Instituto Distrital para a Proteção das Crianças e Jovens (IDIPRON). Diretor da instituição, José Miguel Sánchez informou que o objetivo principal do projeto é lutar pela liberdade de usuários de drogas e de moradores de rua. “Esse grupo deveria ser entendido como um movimento de indignados e não como indigentes”, explicou. Sánchez acrescentou que a sociedade prefere fechar os olhos para a existência dessas pessoas.
O especialista parabenizou o trabalho realizado no projeto Casa Viva, desenvolvido em Bonsucesso , Zona Norte do Rio de Janeiro. “Eu vi jovens com corpo e com identidade e isso é muito significativo”, concluiu.
Também no município do Rio, o Centro de Referência Especializado em Assistência Social (Creas) Stella Maris criou o programa Creas Itinerante, serviço especializado no atendimento ao usuário de crack e outras drogas em situação de rua, locados na Avenida Brasil e entorno. A coordenadora da ação, Fabiana Figueiredo, informou que durante o ano de 2012, em 3,098 mil atendimentos, 42% declararam fazer uso de crack associado a outra drogas e 21% tiveram o crack como a única substância.
O diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, acrescentou que, independente da política, é importante que a sociedade discuta esse tema. “Não temos pressa para a aprovação dessa proposta, pois queremos um projeto de lei que responda as nossas necessidades, quem sabe não fazemos uma combinação luso-uruguaia”, sugeriu Rubem.
Também participou do segundo dia fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações” o Coronel Ubiratan Angelo, coordenador de Segurança Humana do Viva Rio.
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Adequação dos projetos às necessidades do usuário é citado em fórum
Operacionalizar o trabalho com acolhimento e redução de danos, promover conversas e parceiras institucionais sobre o tema e envolver os diversos níveis de conhecimento no debate sobre o uso e efeitos do consumo de substâncias ilícitas. Essas foram algumas das propostas apresentadas no encerramento do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações”, no Rio de Janeiro.
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Sarah Evans, Senior Program Officer do International Harm Reduction Development Program, da Open Society Foundations, informou que a cooperação coletiva e a adequação dos programas as necessidades dos usuários podem desenvolver mudanças saudáveis para o atendimento. “Alcançar as pessoas onde elas estão é muito importante. O trabalho que desenvolvem aqui (Casa Viva e Clinicas da Família) demonstra que é possível fazer diferente”, disse
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Acolhimento e redução de danos em debate no Viva Rio
Políticas de acolhimento ao usuário de crack e outras drogas e programas de redução de danos foram os temas predominantes nos painéis da tarde de sexta-feira, dia 6, do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações”. Um dos destaques do seminário, o diretor de Redução de Danos da Open Society Foundations, Daniel Wolfe, apresentou e comparou estratégias de atendimento e tratamento ao dependente químico adotadas por Ucrânia, Vietnam e Canadá.
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Na concepção do especialista, é necessário que os profissionais de saúde e assistência social mudem alguns dos valores que sustentam suas práticas, de modo a compreender as reais demandas imediatas dos indivíduos que pretendem atender. “Os serviços devem moldar-se e adaptar-se a seu público-alvo, e não o contrário. Às vezes, é preciso deixar a abordagem clínica de lado, pelo menos no primeiro momento, e aproximar-se do usuário para entender o que é prioridade para ele”, explicou.
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Uruguai pretende neutralizar narcotráfico no país
“As mudanças na política de drogas em curso no Uruguai foram pensadas para neutralizar a ação do narcotráfico no país”. A afirmação foi feita por Raquel Peyraube, assessora do governo uruguaio, durante a abertura do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações”, promovido pelo Viva Rio e Comissão Brasileira sobre Drogas e Democracia (CBDD), no Rio de Janeiro.
As medidas que preveem o controle do Estado sobre a importação, produção, comercialização e distribuição da maconha e seus derivados foram iniciadas pelo governo uruguaio para combater o aumento da violência. “O Uruguai teve coragem de assumir uma postura soberana sobre o tema”, disse Peyraube.