5/5/2016
Na entrevista abaixo, o diretor executivo do Viva Rio, Rubem César Fernandes, ainda sob o efeito do inesperado sucesso dos Pérolas Negras na Copa São Paulo Júnior, em janeiro, fala sobre a decisão da instituição de fixar o time sub-20 em uma nova academia no Brasil, mais exatamente em Paty do Alferes, no sul fluminense. E dos bons resultados que já começam a ser alcançados pela equipe haitiana.
Os jovens atletas são resultado do treinamento iniciado com uma primeira geração de adolescentes de 11 a 18 anos em Bon Repos, na região metropolitana da capital haitiana, Porto Príncipe. A maioria deles vivia em condições de extrema pobreza em sua terra natal e agora já participam do Campeonato Carioca, torneio regular em uma das regiões mais importantes do país, como consequência de uma bem sucedida parceria com o AUDAX, conhecido clube da primeira divisão do futebol paulista.
Viva Rio: Como os Pérolas Negras foram parar na Copinha de São Paulo?
Rubem César: A primeira geração de jogadores treinados pela Academia, que recebe adolescentes de 11 até 18 anos de idade, chegou à categoria sub-20, o que significa que o grupo está a um passo de se tornar profissional no mundo do futebol. Durante o segundo semestre de 2015, de agosto a dezembro, com o apoio do projeto Instituto Brasileiro de Apoio à Saúde (IBAS), esse grupo foi treinado intensamente para participar da Copa São Paulo, o maior e mais competitivo torneio sub-20 da América Latina. Os jogadores chegaram ao Brasil em 31 de dezembro para participar do torneio em janeiro de 2016. Foi a primeira vez que um grupo de jovens haitianos fez parte do evento. Para nossa surpresa, os Pérolas Negras se tornaram a sensação da competição, chamando a atenção da imprensa.
Viva Rio: O que levou o Viva Rio a fixar os Pérolas Negras no Brasil? Como foi resolvida a questão do visto?
Rubem César: Depois de muito analisar, com o sucesso da participação na Copa São Paulo, concluímos que a melhor opção para introduzir os jogadores no mercado profissional estava mesmo no Brasil. A recepção do público foi muito favorável, e a questão do visto foi superada graças ao apoio do Ministério das Relações Exteriores. O Viva Rio tem uma sólida base no País, o que ajuda a criar a logística necessária ao desenvolvimento dos jogadores. Por isso, criamos uma segunda Academia de Futebol Pérolas Negras no Estado do Rio de Janeiro, com o intuito de continuar o treinamento dos haitianos mesmo depois que atingissem a categoria sub-20. O projeto chegou, então, a uma segunda fase: o treinamento dos 11 aos 17 anos acontece em Bon Repos, região metropolitana de Porto Príncipe, enquanto os melhores jogadores continuam sua educação na Academia Pérolas Negras no Brasil, mais próximos ao mercado de alta performance com o qual os jovens haitianos sonham.
Viva Rio: De que forma o Viva Rio conseguiu viabilizar a participação do time no Campeonato Carioca?
Rubem César: O sucesso da participação na competição paulista teve ainda uma segunda consequência positiva. O presidente do AUDAX, conhecido clube da primeira divisão do futebol paulista, gostou do projeto e nos ofereceu uma oportunidade: gerenciar o AUDAX no Estado do Rio de Janeiro, a fim de participar da competição da segunda divisão no Rio. Em outras palavras, os Pérolas Negras usam a estrutura formal do AUDAX, algo extremamente custoso de se obter, para formar um time composto de jovens haitianos com nossa equipe técnica. Com isso, os Pérolas Negras já estão participando de um torneio regular em uma das regiões mais importantes do Brasil, apenas dois meses depois de chegar ao Brasil
Viva Rio: Qual o perfil predominante do time haitiano? Quais as maiores vantagens da carreira no esporte?
Rubem César: Vinte dos adolescentes nasceram em condições de pobreza extrema no Haiti. Agora eles estão no Rio de Janeiro iniciando uma carreira no esporte, que inclui um aprendizado holístico envolvendo disciplina, fair play, valores de cidadania e educação básica.
Viva Rio: Até agora, fora o AUDAX, quais são os resultados do projeto e quem são seus maiores apoiadores?
Rubem César: O projeto ganhou um resultado permanente, algo como uma ponte entre o Haiti e o Brasil, que recebe o fluxo de jovens talentos para o Brasil do Haiti e de lá para os circuitos internacionais de futebol. Este resultado mais amplo tem o apoio oficial da Federação Haitiana de Futebol, bem como do Ministério das Relações Exteriores o Brasil.
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Vitor Madeira)