Das 50 cidades mais violentas do mundo, 45 estão no continente americano e 40 na América Latina, segundo informou o prefeito de Bogotá, Gustavo Petro. Para ele, todo este cenário de violência urbana está relacionado ao que se convencionou chamar de “guerra às drogas”.
Para mudar esse cenário e diminuir as taxas de crimes violentos, é preciso repensar as políticas de drogas, defendeu o prefeito de Bogotá, na IV Conferência sobre Política de Drogas, que aconteceu nos dias 5 e 6 de dezembro, na Colômbia. “É preciso aprender com cidades que tiveram experiências exitosas, como é o caso de Vancouver, no Canadá, onde o manejo da questão das drogas passa pela regulamentação do consumo em centros para uso supervisionado por uma equipe de saúde”, disse.
Recentemente, Bogotá inaugurou o seu primeiro Centro de Atenção Médica ao Dependente de Drogas (CAMAD), uma unidade móvel da prefeitura que oferece tratamento de desintoxicação com base na estratégia de redução de danos. “Mais de seis mil pessoas utilizam nossos pequenos centros de consumo controlado”, informou Petro.
O cultivo da folha de coca também foi discutido durante a conferência. Camponeses e cultivadores que participavam do encontro lembraram que é necessário respeitar as questões culturais e religiosas que envolvem o assunto. O secretário técnico do Observatório de Cultivos Ilícitos (OCI) da Bolívia, Javier Gonzales Skaric, defendeu o reconhecimento do uso tradicional de plantas proibidas que fazem parte da cultura do país. O presidente da Associação Nacional de Usuários Campesinos Puntamayo da Colômbia (ANUC), Eder Jair, informou ainda que o cultivo de coca tem sido o sustento de muitas famílias de camponeses.
As questões de saúde pública relacionadas às drogas também estavam nas plataformas de discussões do encontro. Dados do Estudo Epidemiológico da Colômbia de 2008 mostram que o consumo de drogas no país se dá predominantemente entre homens e na faixa etária de 18 a 24 anos. Cerca de 300 mil pessoas entre 18 e 60 anos poderiam ser consideradas usuárias abusivas ou dependentes.
O coordenador da área de redução do consumo de substancias psicoativas do Ministério da Saúde e Proteção Social da Colômbia, Aldemar Parra Espitia, alertou para o avanço do uso injetável de heroína em diversas regiões como uma das grandes preocupações do país. “Para enfrentar este problema de forma eficaz, adotamos uma política de atenção aos usuários de drogas que atua sobre os eixos da prevenção, redução de danos e serviços de tratamento de dependentes”, disse Espitia.
A redução de danos também esteve presente na fala sobre as salas de consumo, espaços protegidos e utilizados para uso seguro da droga. A responsável pela investigação e publicação do Consórcio Internacional sobre Políticas de Drogas (IDPC), Marie Nougier, explicou que esses espaços funcionam com base nos princípios da redução de danos, promoção do acesso a saúde e diminuição dos impactos do uso abusivo de drogas em espaços públicos.
“As casas de consumo, ao contrário do que já se pensou a respeito, não promovem o uso de drogas, não provocam a desordem pública nem o crime. Pelo contrário, estudos mostram que houve diminuição do uso de drogas em espaços públicos, além de evitar o estigma associado ao uso de drogas”, disse Nougier. A estratégia já é adotada na Espanha, em Luxemburgo, Berlim e Vancouver.
A IV Conferência sobre Política de Drogas foi patrocinada pela Prefeitura de Bogotá, o Ministério da Saúde e Proteção Social da República da Colômbia, o Ministério da Justiça e a Lei da República da Colômbia, o Consórcio Internacional de Política de Drogas (IDPC) e o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (UNODC).