Profissionais de saúde latino-americanos foram a Vancouver, no Canada, para um intercâmbio de experiências com a Portland Hotel Society (PHS). Criada há 20 anos, a instituição propõe o consumo supervisionado de drogas e o acolhimento de usuários como estratégias de redução de danos. A delegação brasileira foi composta por três representantes do Viva Rio: a coordenadora técnica Fabiane Minozzo, a psicóloga Maira Cabral e a enfermeira Lidiane Toledo.
A PHS funciona no Downtown Eastside, região conhecida como “o CEP mais pobre do Canadá”. Na década de 90, o bairro apresentava elevados níveis de violência, criminalidade e tráfico de drogas, principalmente heroína. O local tornou-se um reduto de usuários, que, marginalizados, acabavam vivendo em condições precárias de saúde. Foi quando Liz Evans, hoje uma das diretoras da instituição, resolveu começar o programa Needle Changing, através do qual promovia a troca diária de agulhas usadas por outras novas e descartáveis. O resultado foi uma queda brusca no compartilhamento dos insumos entre 1996 e 2003, de acordo com relatório do Centro de Excelência em HIV/AIDS de British Columbia.
Um dos principais compromissos da missão internacional foi a visita ao InSite, centro que aposta no uso assistido de entorpecentes como uma tática de redução de danos. A ideia não é impor a abstinência, mas dar os cuidados que o usuário precisa, como kits de seringas descartáveis e acompanhamento especializado. Quando chegam ao local, os usuários são direcionados a cabines individuais de consumo, que permanecem em constante monitoramento. “A leitura que a PHS tem é a de que a droga apazigua a dor. Os usuários se sentem amparados na InSite, assim como nos hotéis”, explica Fabiane.
O grupo também conheceu o centro comunitário da PHS, que dispõe de oficinas de reinserção social e programas de empregabilidade. Além disso, tiveram acesso aos “hotéis” para onde os usuários são levados após serem retirados das ruas. “Os abrigos não são gratuitos. São mantidos por uma espécie de ‘auxílio governamental’, que é suspenso a partir do momento em que o hóspede começa a trabalhar”, conta Maira.
Para Lidiane, a experiência canadense impressiona pela maneira com que os profissionais enxergam o usuário de drogas. “Eles não são taxados de doentes. O consumo de entorpecentes é visto como um direito individual. Não há a imposição de modos de vida, mas são oferecidas outras possibilidades, como desintoxicação e reintegração social”, conta. Entretanto, na avaliação de Maíra, essas alternativas poderiam ser mais enfatizadas, de modo a tentar enfraquecer a ligação do usuário com a droga. “Alguns deles tem casa, comida, um centro de desintoxicação e, mesmo assim, permanecem numa relação de quase exclusividade com o entorpecente”, lamenta.