Conhecer a experiência de policiamento de proximidade no processo de pacificação das comunidades cariocas foi o que motivou a visita da delegação da Polícia Nacional do Haiti (PNH) às Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) Santa Marta e Complexo do Alemão, Batalhões de Operações Especiais (Bope), Ação com Cães e Policiamento de Choque, nesta semana. Esta foi uma das etapas do processo de estabelecimento do acordo técnico-científico assinado entre a PNH e a Polícia Militar do Rio de Janeiro (PMERJ), sob a intermediação do Viva Rio.
A missão de preservação da vida, garantia de liberdade e transformação da realidade serão os principais pontos levados para o país caribenho. A coordenadora para Assuntos das Mulheres da polícia haitiana, Marie Gauthier, garantiu que é possível implementar todas as técnicas apreendidas com a PMERJ no policiamento comunitário do Haiti. “Queremos colocar em prática essa experiência nas zonas mais conflitantes, como Cité Soleil (na capital Porto Príncipe), e em espaços onde podemos fazer a integração entre os moradores”, disse.
Um dos policiais comunitários selecionados para integrar a delegação, Labady Riviere, informou que no Haiti a equipe de policiamento ainda é nova e não tem uma base fixa dentro das áreas violentas. O agente afirmou que esse “intercâmbio possibilitou aprender novas técnicas e compreender que é necessário levar esse novo modelo para dentro das regiões em conflito”.
O Santa Marta foi a primeira UPP inaugura no Rio de Janeiro. Segundo o comandante da unidade, capitão Jeimison Barbosa, o grande ganho da unidade foi a confiança conquistada pela polícia. “Moradores tinham medo do policial, mas agora percebemos um aumento nas denuncias, principalmente relacionadas a violência contra mulher”.
A comitiva haitiana também teve contato com os primeiros estágios da pacificação, quando são realizadas a intervenção tática e estabilização do território para a chegada da unidade de pacificação. Eles visitaram os Batalhões de Operações Especiais (Bope) e Policiamento de Choque.
Demonstrações de armamento letal e não letal e equipamentos de vigilância foram realizadas no Bope. Já o grupo de policiais do Choque apresentou simulações de motopoliciamento e contenção de multidões com uso de gás de pimenta, que contou com a participação do policial da unidade de manutenção da Ordem do Haiti, Amausse Jean. “O preparo e técnica desses policiais é surpreendente”.
Dados divulgados pelo Escritório de Indicadores da Polícia Militar do Rio apontam que, entre 2007 e 2012, houve uma redução no uso de munições no Complexo do Alemão (98%), Botafogo (95%) e Tijuca (94%). O chefe do departamento, Major Alexandre Leite, informou que o processo de pacificação contribuiu para o alcance desses números. “Isso não diz que a UPP é perfeita, mas que é uma alternativa eficaz para o problema da violência”.
Coordenador de segurança humana do Viva Rio e vice-diretor do Viva Rio no Haiti, Ubiratan Angelo informou que o principal objetivo do intercâmbio é mostrar todo o processo de implantação das UPPs e como é trabalhada a relação de proximidade entre os agentes de segurança e a população local. “O processo de pacificação engloba a decisão de governo, qual área será pacificada – aí entra a inteligência policial, depois entram as tropas de intervenção, por isso os visitantes conversam com essas três unidades inicialmente”.
A comitiva haitiana está no Rio de janeiro desde segunda-feira, dia 27, quando se reuniram com o comandante-geral da PMERJ, coronel José Luís Castro Menezes. Na ocasião, a coordenadora para Assuntos das Mulheres da polícia haitiana, Marie Gauthier, destacou que as semelhanças das comunidades haitianas e cariocas vão facilitar a aplicação das técnicas apreendidas com a PMERJ. “No Haiti também temos problemas com a violência nos guetos, grande concentração de pessoas nas áreas mais pobres e a situação geográfica que dificulta a ação da polícia”, informou a oficial.
A Polícia Nacional do Haiti conta com um efetivo de 10 mil agentes para uma população de 10 milhões de habitantes. A proposta do governo haitiano é que até 2016 sejam admitidos mais seis mil e que se eleve o efetivo feminino de 8% para 11%. A investida no aumento do número de mulheres na corporação chamou atenção do coronel José Luis Castro. “Vocês têm um efetivo muito superior ao nosso (PMERJ). Aqui, dos 47 mil policiais, apenas 5% são de policiais femininas”. Gauthier explicou que o governo haitiano percebeu o potencial que as policiais têm na mediação de conflitos. “Elas são mais receptivas e têm o papel de promover o diálogo”.
Assinado em 2013, o acordo de cooperação prevê a troca de experiências nas áreas de intervenção, pacificação e ordenamentos de zonas violentas, planejamento tático e ações de operações especiais, polícia de proximidade, controle de multidões e policiamento em grandes eventos culturais.
(Texto: Flávia Ferreira / Fotos: Vitor Madeira)