A Polícia Militar já apreendeu mais de 30 fuzis AK-47, de possível origem russa, em comunidades do Rio de Janeiro nos três primeiros meses de 2015. A informação foi divulgada pelo comandante-geral da instituição, Coronel Alberto Pinheiro Neto, durante o segundo encontro do “Grupo de Análises Estratégicas”, realizado na última quarta-feira (4), na sede do Viva Rio.
Com o tema “Redução da Violência, Mediação de Conflitos, Resolução de Problemas e Controle do Stress e da Vitimização”, o evento reuniu o alto escalão da corporação e jornalistas dos principais veículos de comunicação do país.
Empossado comandante-geral em janeiro deste ano, Pinheiro Neto afirmou que a cadeia de logística e suprimento que atende ao tráfico é muito mais requintada do que parece. “Se um AK-47 entra no país, há de se mapear essa rota. Pode ser proveniente de um desmonte de algum exército do Leste Europeu. Pode ter entrado pela Venezuela, que importou altas quantidades do fuzil. Temos que estudar esse caminho”, declarou.
Para Robson Rodrigues, chefe do Estado-Maior do Rio de Janeiro, a crise na estratégia de pacificação expôs a fragilidade do sistema de segurança em suas várias instâncias. Comércio ilegal de armas, tráfico de drogas e falhas na área criminal foram alguns dos elementos que, em sua concepção, contribuíram para o desequilíbrio do programa e para o aumento das taxas de violência. “É preciso reformular essa cadeia produtiva, avaliando cada um dos fatores de risco. Não adianta apenas a PM trabalhar no limite. Em um caso de bala perdida, por exemplo, deve-se pensar como as armas chegam por onde elas não deveriam.”
Pinheiro Neto mencionou que esse conjunto de erros estratégicos levou policiais a assumirem funções para as quais eles não estavam preparados, causando diversos tipos de traumas na equipe. “O que era para ser mediação de conflitos, tornou-se guerra. Sem o treinamento adequado para aquela mudança de cenário, muitos oficiais assumiram posturas combativas. As consequências externas e internas foram desastrosas. O nível de stress dos policiais era o maior possível”, completou.
Além disso, o comandante-geral pontuou que territórios pacificados são áreas em constante processo de monitoramento. A retomada do espaço pelo Estado, segundo ele, não é definitiva. Daí a necessidade de a PM preparar-se para o “fator surpresa”. “Hoje, o Santa Marta pode apresentar o menor índice de violência entre todas as comunidades. Amanhã, pode ser a mais alarmante. Nossa equipe está sendo treinada para lidar com essas oscilações.”
O diretor-geral de Ensino e Instrução, Coronel Antônio Carballo, endossou a análise de Pinheiro Neto, ressaltando que é primordial restaurar a fé do policial na corporação. A ideia é, segundo ele, que os membros da corporação “voltem a ser protagonistas de sua própria história”. “A preocupação da sociedade é justa. Não desejamos cometer os mesmos equívocos do passado. Queremos cuidar do policial para que ele possa cuidar da população da melhor maneira possível.”
Compareceram ao evento o comandante-geral da Polícia Militar, Coronel Alberto Pinheiro Neto; o chefe de Estado-Maior, Coronel Robson Rodrigues; o chefe de gabinete do comandante-geral, Coronel Íbis Pereira; o diretor-geral de Ensino e Instrução, Antônio Carballo; e o chefe da Comunicação Social, Coronel Frederico Caldas. Também participaram da discussão o coordenador de Segurança Humana do Viva Rio, Coronel Ubiratan Angelo; o diretor executivo Rubem César Fernandes; o cineasta Zelito Vianna; além de editores e colunistas dos veículos O Dia, Folha de São Paulo, O Estado de S.Paulo, revista Época e Piauí, TV Bandeirantes e Rede Record, entre outros.
(Texto: Karla Menezes/Fotos: Vitor Madeira)