19/1/2016
Os 23 atletas do time haitiano Pérolas Negras exalam felicidade. Após uma campanha na Copa São Paulo Júnior, quando foram aclamados pela torcida como os queridinhos das equipes participantes, eles se dedicam a treinar para as próximas competições na Fazenda Quindins, em Paty do Alferes, região do Vale do Café fluminense, arrendada pelo Viva Rio.
Fundado em 1828, o lugar foi o primeiro hotel fazenda do Estado do Rio e ainda vai tomar um banho de loja para se adequar às exigências técnicas dos jovens atletas. “O imóvel foi arrendado por 10 anos com possibilidade de compra”, informa Tião Santos, coordenador do Socioambiental do Viva Rio. São 90 hectares de área e sede colonial branca com 900 metros quadrados, esquadrias azuis e 30 suítes.
Por enquanto, os atletas já dispõem de campo de futebol society e piscina para dar início aos treinamentos. “A equipe técnica veio do Haiti e estamos em processo de reestruturação”, antecipa o técnico brasileiro Rafael Novaes, que voltou da Copinha com quatro jogadores já sondados por grandes times nacionais.
É contagiante a alegria com que os jovens rolam a bola durante os treinamentos. “Meu sonho é ser profissional para jogar em um grande time”, conta Anel Jean Louis. “Aqui tem mais oportunidade que o Haiti”, compara ele, que tem 17 anos.
Além das oportunidades e do espaço ainda em construção, a equipe arranjou uma mãe postiça. Iolanda Batista, 54 anos, dos quais 30 são dedicados à culinária em Paty do Alferes, está empenhada em interagir com os jovens. “Estou aprendendo o créole e ensino o português. Digo a eles que sou a maman. São todos jovens e comem muito!”, diverte-se Iolanda, identificando as preferências: frango e macarronada com salsicha. “Eles gostam de comida que tenha caldo”, acrescenta.
A fazenda é dividida ao meio pela estrada Antão Bernardes, mesmo nome do antigo proprietário. De um lado, fica a sede cercada de árvores centenárias e do outro, a piscina com caramanchão e campo de futebol. Eles começaram os treinos táticos em um campo menor, de onde é possível avistar o futuro campo oficial, que ficará no local onde Eurico Neto, descendente do proprietário, mantinha um campo de hipismo. Alguns de seus cavalos de raça permanecem no terreno.
Na opinião do técnico haitiano Solon Jonathan, que acompanha a equipe há quatro anos, o objetivo é dar oportunidade para os jogadores competirem no Brasil. “Eles têm potencial, são motivados e aprendem como fazer para evoluir”, diz. Para Tião Santos, é como se os Pérolas tivessem ganhado na loteria. “Eles passarão por um processo de formação permanente e ficarão aptos a disputar este mercado. É um sonho realizado, adoram futebol e também o Brasil”, avalia.
A fazenda ainda terá de ser adequada às necessidades dos atletas, com a construção de uma academia de ginástica e de chalés para hospedar os funcionários do Viva Rio. A maioria dos morros que cerca a propriedade foi pelada pelo ciclo do café, substituído pelo cultivo do tomate, que já perdeu fôlego e vem sendo substituído pelo cultivo de repolho, pimentão, jiló e vagem. Enquanto isso, os jovens haitianos se alternam entre os treinos, a gastronomia e os programas de televisão a cabo.
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Paulo Barros e Vitor Madeira)