A equipe sub-15 da Academia de Futebol Pérolas Negras, projeto executado pelo Viva Rio no Haiti, é a mais nova estrela da XVIII Copa da Amizade Brasil-Japão que será realizada entre os dias 20 e 25 de agosto, no Centro de Futebol Zico (CFZ). Esta é a primeira vez que a equipe haitiana participa do evento, uma confraternização esportiva entre as nações com uma troca de experiências e culturas.
O técnico dos Pérolas Negras, Rafael Novaes, informou que a equipe haitiana está empolgada para disputar a Copa, principalmente 17 dos 19 atletas, que disputarão uma competição internacional pela primeira vez. “É importante para os meninos vivenciarem competições como essa, enfrentando os melhores do Brasil e Japão. A transferência de aprendizado agrega muito ao processo de evolução do atleta, futuramente essa experiência adquirida será fundamental na vida esportiva e também pessoal”.
A expectativa da comissão técnica é de poder deixar entre as equipes, os dirigentes e os organizadores do campeonato uma boa impressão do trabalho realizado. “Espero que possamos fazer com que as pessoas não falem apenas dos problemas sociais do Haiti e das lembranças do dia 12 de janeiro de 2010, quando o país foi devastado pelo terremoto, mas que exaltem nossos talentos, nosso trabalho e os nossos Pérolas”.
A participação nesta competição é encarada como uma oportunidade de os atletas serem vistos pelos olheiros do futebol e terem a chance de realizar o sonho de jogar em um clube brasileiro. Algumas revelações do futebol haitiano são promessas de bons resultados, como os goleiros Elien Gooly e Alan Jerome; o lateral-direito Etiene Jolicoeur Junior; o meio-campista Etiene Valdo; e o atacante Selso.
Idealizador da competição e ídolo do futebol brasileiro, Zico espera uma desempenho positivo da equipe haitiana. “Me falaram que é uma seleção forte e disposta a superar os outros clubes”, disse.
São 27 meninos os atletas desta categoria que treinam na Academia de Futebol Pérolas Negras. O projeto compartilha da mesma essência que criou a Copa da Amizade Brasil-Japão de Futebol, em 1998, ao incentivar a participação dos jogadores em competições internacionais. Para Rafael Novaes, a participação em torneios que promovem os intercâmbios culturais marcam positivamente a vida dos jogadores que foram representar o Haiti no exterior.
“Eles se tornam mais patriotas, além de promoverem o desenvolvimento técnico/físico e psicológico em situações de competição, colocando em prática tudo aquilo que ensinamos no cotidiano de trabalho da academia”, apontou Rafael Novaes. O técnico informou que, por conta dessa participação constante em torneios internacionais, “foi identificado um crescimento nos meninos que já passaram por essa experiência anteriormente, pois se tornaram mais autoconfiantes e passaram a valorizar ainda mais outros aspectos fora de campo”.
As disputas
A Copa da Amizade será disputada em quatro fases: a primeira é classificatória, de 20 a 22 de agosto seguida de quartas de final (dia 23), semifinal (24) e final (25). São 20 equipes, divididas em cinco chaves independentes: A, B, C, D e E. Além da equipe Pérolas Negras, participam desta edição do torneio: Flamengo, Vasco, Botafogo, Fluminense, Corinthians, Santos, Cruzeiro, Atlético Mineiro, Osasco F.C., Avaí F.C., CFZ de Brasília, Bangu, Audax, Portuguesa, Boa Vista, Kashima Antlers (Japão), Antlers Norte (Japão), Antlers Tsukuba (Japão), J League (Japão).
De acordo com Zico, o torneio serve de base para a seleção brasileira por contar com a presença de clubes de grande expressão nacional e internacional. “Participar de uma competição como essa é uma grande oportunidade. Alguns jogadores que passaram por aqui foram para a seleção brasileira, como o Jô. Isso inspira a participação de outras equipes”, diz ele, lamentando não ter verba para trazer mais do que quatro equipes.
Zico critica a falta de apoio da Federação de Futebol do Rio de Janeiro (FERJ) que, segundo ele, não abre datas para a realização da competição. “Temos clubes que participam com a equipe reserva”, conta. Ele também afirma que o Brasil passa por um problema sério na revelação de craques. “É mais fácil você gastar R$ 300 mil mensais para dar a condição para essa base do que depois ter que investir R$ 50 milhões para contratar gente de fora. Fazendo isso você pode ter quatro ou cinco revelações de cada categoria, mas hoje isso não acontece”.
A construção do CFZ Rio, em 1995, foi a concretização do sonho de Zico. Tudo foi pensado para dar mais conforto aos atletas que ele treinava. “Eu tinha um time de garotos e eles jogavam pelo Rio de Janeiro, mas não tinha um campo aqui na Barra para eles treinarem. Então consegui esse terreno e armei um lugar aqui”.
A Copa é disputada anualmente e foi criada originalmente para promover a integração entre os jogadores brasileiros e nipônicos. O nome do torneio foi sugerido pelo vice-presidente do CFZ, Antônio Simões da Costa, que participou do processo de concepção da Copa junto com Zico e o subdiretor de marketing do clube japonês Kashima Antlers, Takashima. Na ocasião, o Kashima Antlers possuía um contrato com o Centro de Futebol Zico que previa uma estadia de dez dias no Rio para treinar no clube.
(Texto: Flávia Ferreira | Foto: Arquivo e Vitor Madeira)