Muita coisa aconteceu para que as pessoas com deficiência deixassem de ser reconhecidas por nomes pejorativos e conquistassem seus direitos legais. O 3 de dezembro, Dia Internacional da Pessoa com Deficiência (PCD), criado em 1992 pela ONU, foi mais um passo nesta trajetória. No entanto, eles ainda estão longe de ter sua condição respeitada no Brasil, sobretudo em relação aos equipamentos urbanos.
Que o diga o mineiro Eduardo Santos, 37 anos. Ele contraiu poliomielite aos 4 meses e desde então trava uma verdadeira batalha para levar uma vida digna. Esta semana mesmo, só pôde subir no ônibus porque conseguiu uma chave que opera o elevador para cadeirantes. “Os motoristas são muito ignorantes e muitas vezes usam a desculpa de que o equipamento não funciona”, relata Eduardo.
O que mais chama atenção nele, porém, é o bom humor. Eduardo passou um ano internado sob tratamento desde seu nascimento. Só mexia os olhos. Aos cinco anos, uma médica queria levá-lo para um tratamento nos Estados Unidos. “Minha mãe não deixou, graças a Deus”. Filho de uma babá e de um motorista, dois irmãos, Eduardo passou a infância e juventude fazendo a fisioterapia que o ajudou a conquistar sua independência. “Hoje moro sozinho e já não dependo de ninguém”, comemora ele, que adora passear, tomar uma cervejinha e agora está solteiro, embora já tenha namorado muitas vezes.
Auxiliar administrativo do Viva Rio há três anos, a vida de Eduardo só não é melhor porque a cidade simplesmente não está pronta para conviver com pessoas como ele. “Hoje ainda está melhor, há mais ônibus adaptados. Fiz amizade com alguns motoristas e às vezes fico muito tempo no ponto, esperando pelos ônibus mais modernos, melhor equipados”, conta ele, que se desloca diariamente da Penha, onde mora, na zona Norte, à Glória, na sede do Viva Rio, na zona Sul.
Já o problema do fluminense Lucas Mathias, 27 anos, trabalhando há sete meses no Viva Rio como supervisor de contratos, é bem mais simples. Ele foi enquadrado como Pessoa com Deficiência por causa de uma forte miopia que o levou a usar óculos com 15 e 16 graus em cada lente. “Passei por muita coisa, principalmente na época de escola. Era uma faceta jogar handbol cegueta”, lembra, com humor.
Os pais e uma de suas duas irmãs também têm problemas visuais, mas o dele é de longe o mais sério. Em 2005 conseguiu substituir o óculos fundo de garrafa por lentes de contato, com as quais conviveu até 2013. “Tive uma infecção na pálpebra que me obrigou a voltar ao óculos, mas faço um investimento alto pelo modelo que não é tão fundo de garrafa assim”, diz Lucas, cuja namorada o ajudou a vencer o complexo adquirido com a doença.
Lento avanço
No Brasil, uma iniciativa fundamental para melhorar a qualidade de vida dos PCDs foi o decreto 3.289/99, que determinou a igualdade de oportunidades no acesso ao trabalho e o cumprimento das cotas de vagas para estas pessoas, nas empresas públicas e privadas com mais de 100 funcionários. Já a lei 8.213/91 estabelece que empresas públicas e privadas com até 200 funcionários devem empregar 2% de deficientes; de 201 a 500, 3%; de 501 a 1000, 4% e de 1001 em diante, 5%.
Em 1990, o país ratificou seu compromisso com a Convenção 159 da Organização Internacional do Trabalho (OIT), que recomenda aos países membros permitir a estas pessoas manter um emprego e progredir profissionalmente. No entanto, falta muita estrada para o país atingir um padrão de cuidados já alcançado nos países desenvolvidos, onde os PCDs têm a possibilidade de levar uma vida muito próxima da considerada normal.
(Texto: Celina Côrtes/Foto:Tamiris Barcellos)