Paz e estabilidade são elementos fundamentais para promover o desenvolvimento sustentável. Essa foi a mensagem deixada pelos participantes do debate realizado pela Assembleia-Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) em Nova Iorque, que terminou no dia 25 de abril. No encontro, foram apresentados possíveis temas para agenda da ONU pós-2015, ano em que será finalizado o prazo para o cumprimento das metas de combate à pobreza conhecidas como Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs).
O antropólogo e diretor executivo do Viva Rio Rubem César Fernandes foi um dos debatedores do evento, junto com o chefe da delegação brasileira na ONU, Antônio Patriota; o secretário-geral da organização internacional, Ban Ki-Moon; o presidente da Assembleia-Geral, John Ashe.
Em seu discurso de abertura, Ki-Moon apontou que pelo menos 20% da população mundial vive em países inseguros, sofrendo com violência e conflitos políticos. Neste contexto, paz e estabilidade tornam-se assuntos importantes nas discussões sobre desenvolvimento sustentável, principalmente quando o foco são as nações emergentes.
Rubem César frisou que “comunidades vulneráveis” não são características apenas de sociedades em desenvolvimento. Elas se encontram em todas as regiões do planeta e parecem estar se multiplicando na medida em que ocorrem migrações e as cidades se tornam mais complexas. “Enxergo o tema sob uma perspectiva de baixo para cima, onde as questões do desenvolvimento, a paz e a estabilidade se tornam um assunto dos bairros”, completou.
Relatando as experiências do Viva Rio no Brasil e no Haiti, o antropólogo defendeu que uma das chaves para a propagação da paz é a interpretação das diversidades culturais mesmo em populações relativamente homogêneas. “O fundamentalismo liberal pode nos impedir de ver as possibilidades existentes de troca e entendimento, daí a necessidade da comunicação intersetorial.”
Segundo Rubem, duas questões retardam processos de estabilidade e instalação da cultura de paz: a guerra às drogas e a comercialização das armas de fogo. “A proibição legal de entorpecentes não reduziu o consumo e, paradoxalmente, está sustentando o domínio do mercado por traficantes. Esses grupos transformam-se em poderes paralelos instrumentalizados por armas de fogo”, analisou.
John Ashe, um dos principais articuladores do encontro, resumiu a proposta do evento ao afirmar que a meta global de erradicação da pobreza continuará um sonho ideal e indescritível se os povos não trabalharem juntos para acabar com o conflito e a instabilidade. “Devemos lutar pela inclusão, a boa governação, os direitos humanos, sobretudo o direito igualitário ao desenvolvimento”, concluiu.
(Texto: Karla Menezes/Foto: Paulo Filgueiras – UN Photo)