O mobiliário ganhou reforço, e a brinquedoteca da Clínica de Saúde da Família Carlos Nery, em Quintino, na Zona Norte do Rio, tem agora casinha de bonecas, bercinho, mini fogão, mini tábua de passar roupinhas, caixa registradora de mentirinha, uma estante com livros para criança e outros brinquedos que foram disputados pelos pequeninos, ontem (5), na inauguração do espaço, a terceira ação social beneficiada por uma parceria entre o Viva Rio e a Omega.
A cronometrista oficial do Jogos Olímpicos, marca de relógios mais famosa do mundo, faz uma contagem regressiva social inédita no Rio pré-olímpico, apoiando 12 ações em territórios vulneráveis, a maioria voltada para a primeira infância e a juventude.
Cada uma das ações beneficia diretamente mais de 1.000 famílias. “É uma oportunidade ímpar apoiar este projeto, que une saúde e educação e a criança pode, simplesmente, ser criança e ao mesmo tempo aprender, desenvolver e fortalecer os laços com os pais”, disse o gerente da Omega no Brasil, Rodrigo Ortiz.
Localizada dentro da unidade de saúde, estrategicamente ao lado da sala da gerência, o espaço é a menina dos olhos de muitos funcionários. “Nós já abraçamos a brinquedoteca. A infância é o período das descobertas e acreditamos na importância desse lugar. Vamos melhorar a qualidade de vida das crianças que vêm aqui e de suas famílias. Vamos atender mais e melhor os futuros jovens e adultos de Quintino”, diz a gerente da unidade, Marcela Matvijc. “Quando investimos na primeira infância, estamos investindo no máximo da potência de uma pessoa. O ambiente qualificado é uma das coisas mais acertadas. Com a parceria, unimos delicadeza à infraestrutura”, complementa Marcela.
A Clínica da Família de Quintino é um dos dois equipamentos de saúde onde está sendo implementado o Programa Viva Primeira Infância, que tem o objetivo de permitir o conhecimento sobre o processo do desenvolvimento infantil da primeira infância, ou seja, de crianças até seis anos, extensivo a suas famílias e também às gestantes.
Além da brinquedoteca, espaço onde as crianças brincam sem os pais, assistidas por uma especialista, o projeto prevê visitação domiciliar semanal, permitindo uma articulação entre a rede de cuidados intersetorial e a comunidade. Mãe de Cauã, de 1 ano, moradora de Quintino, Ani Cavalcante é frequentadora da brinquedoteca. Mesmo quando não tem consulta marcada, ela leva o filho para brincar.
A consultora do Programa Viva Primeira Infância, Liese Gomes Serpa, que coordenou um programa semelhante no Rio Grande do Sul, entre 2010 e 2014, já prevê resultados positivos: “Redução de mortalidade materna infantil; importante vinculação da família com a formação da criança na educação infantil; participação mais ativa dos pais nas reuniões e agendas escolares e uma maior aproximação entre a escola, a comunidade e a família”.
As visitas às famílias moradoras de Quintino têm como objetivo formar um verdadeiro “mapa do brincar”, através da aplicação de questionários com as famílias. Os encontros acontecem na casa das pessoas ou em espaços comunitários, como escolas, associações de moradores e igrejas. “Queremos saber como se brinca, de quê e com quem”, explica a coordenadora do projeto, Bruna Soares. A visitadora Aline Morais de Castro, ex-agente comunitária de saúde, conta que nesta visita também são analisadas questões do ambiente caseiro que podem interferir no desenvolvimento infantil, como espaço próprio, iluminação, segurança e também os vínculos afetivos entre a criança e seus cuidadores, sejam pais, avós ou outras pessoas. Ao lado das amigas Milena Arantes e Michele de Oliveira, ela conta que já encontrou boas surpresas, como um grupo de mães que se reunia para trocar experiências. “Brincar é uma das melhores formas de desenvolvimento, mas quando há o brincar atrelado ao afeto, o processo é acelerado”, explica.
Como diferencial, Liese aponta ainda a presença das brinquedotecas dentro das clínicas da família e destaca o vínculo entre educação e saúde. “Já são nove e há notícia de que uma décima será inaugurada”, comemora ela.
Radiante com o crescimento do espaço, a pedagoga e técnica da brinquedoteca, Luciene Soares Miranda, diz que ali as crianças são o foco. “A gente acredita que brincando eles podam descobrir palavras, números e até valores como respeito pelo espaço alheio. Muitas crianças chegam aqui sem saber brincar juntas, dividir as coisas. Elas não aprenderam porque o ambiente em que vivem não permite, os pais não tinham o hábito de brincar”, justifica.
(Texto: Sol Mendonça. Fotos: Tamiris Barcellos)