18/12/2017
O Pérolas Negras chega ao fim de 2017 mais perto do sonho de se tornar um time mundial de refugiados.
Além dos títulos da Série C do Rio de Janeiro, que promove a equipe à terceira divisão estadual, e dos esforços para expandir o projeto para o Oriente Médio, movimento que a diretoria espera concretizar em 2018, o clube acaba de contratar o venezuelano Juan Andrés Rodriguez Collado, de 18 anos, que pode jogar de lateral-direito e volante e vai ficar por duas temporadas disputando competições pelo sub-20 dos Pérolas. Ele vai morar e estudar com os companheiros de time em Paty do Alferes, cidade no sul do Estado do Rio que abriga a sede do clube..
O jovem já era atleta na Venezuela e jogou na Seleção sub-15 e nas categorias de base do Carabobo FC, clube da primeira divisão do país vizinho. Há um ano, desde quando chegou ao Rio, Juan busca uma oportunidade em algum time enquanto mantém rotina de treinos no Aterro do Flamengo.
“Sempre pensei no Brasil como elite mundial do futebol. Tem muita gente boa de bola aqui. Eu senti a diferença quando cheguei, dava para ver que eu cansava muito antes dos brasileiros. Mas eu acredito em mim e agora vou me preparar e dar o melhor pelo Pérolas Negras”, diz Juan.
Refugiados
Até a contratação de Juan o Pérolas Negras era composto por brasileiros e refugiados haitianos, e a chegada do venezuelano mostra que o clube está aberto para todos na condição de time formador com foco no aspecto social. Com a grave crise atravessada pela Venezuela, muitos habitantes do país vêm buscando melhores condições de vida no Brasil. Foi o caso de Juan e sua família, como explica o pai do atleta:
“Nós saímos da Venezuela por motivos políticos, inclusive ameaças de morte. Fiquei impressionado com os acontecimentos recentes no meu país, com a morte de mais de cem jovens em protestos. Graças a Deus conseguimos nos estabelecer aqui no Brasil, porque poderia ser meu filho, ele estaria nas ruas com os amigos protestando”, diz José.
Para começar a disputar o Campeonato Carioca com atletas haitianos o Pérolas Negras conseguiu uma mudança no regulamento que estipulava limites à participação de estrangeiros na competição. O clube ganhou um processo junto à Federação de Futebol do Rio com um pedido para que os refugiados não fossem considerados estrangeiros.
“Se para a legislação trabalhista o refugiado é como se fosse um brasileiro e não precisa de visto especial para trabalhar no país, por que não fazer o mesmo com o esporte, que é um dos mais importantes meios de integração social? Esse foi um dos nossos argumentos’’, explica Luciana Lopes, advogada do Pérolas Negras e diretora do Instituto Brasileiro de Direito Desportivo. “Refugiado é diferente de imigrante, refugiados não saíram do país porque querem, para tentar uma vida melhor. Refugiados foram obrigados a sair do país deles sob pena de perder a própria vida, porque não tinham opção”.
O Pérolas Negras abraçou a missão de ajudar atletas refugiados a mostrar seu valor para o mundo. Casos como o de Luka Modric, que começou a carreira em situação de refúgio e foi escolhido no sábado o melhor jogador do Mundial de Clubes da Fifa, reforçam a certeza de que os campos e abrigos de refugiados estão repletos de talentos preciosos à espera de uma oportunidade.
A contratação de Juan é o primeiro passo dos Pérolas Negras para além da conexão Brasil-Haiti, e espera-se que sua chegada seja a primeira das muitas que farão do Pérolas Negras um time mundial de refugiados.
O Pérolas Negras foi criado pelo Viva Rio no Haiti para gerar impacto social. Saiba mais sobre o projeto aqui.