A descriminalização das drogas, um dos temas mais aguardados pela multidão de jovens que lotou a Concha Acústica da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) na noite de quinta-feira (27) para ver José Pepe Mujica, ex-presidente do Uruguai, foi abordada no fim: “Não podemos vencer o narcotráfico sem a regularização. O que sabemos é que temos uma montanha de presos que não precisávamos ter”, afirmou, sob aplausos efusivos.
Mais de 10 mil pessoas lotaram não apenas o espaço reservado ao evento, como todo o entorno onde foi instalado um telão, próximo ao estacionamento, segundo avaliação informal de seguranças da Uerj. Só a convocação do Facebook, no entanto, tinha confirmado mais de 13 mil nomes poucas horas antes do encontro. Camisetas com a mensagem na frente ”Drogas, estou fora”, e atrás, “Saí para comprar”, deram o tom de descontração, ao lado de outras pedindo a proibição do aborto.
A grande mobilização era provocada ainda pela coincidência do momento em que se discute a política de drogas no Brasil, com o julgamento iniciado em agosto pelo Supremo Tribunal Federal (STF), que pode decidir pela descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal. Foi durante o governo de Mujica, em 2013, que o Uruguai adotou uma política de regulação da produção e da distribuição da maconha, ainda em andamento. “Não é liberação, mas regulação”, esclareceu.
O tema mais contundente da noite, porém, foi o “não à redução”, sobre o projeto em andamento para reduzir a maioridade penal. Milhares de pessoas fixaram o adesivo “Redução não é a solução”. Também houve uma forte reação à pergunta sobre uma crise de responsabilidade dos partidos políticos, com o apoio declarado de Mujica ao governo Dilma Rousseff: “O problema não são os presidentes, mas toda a Corte”, disse ele, ao que o público reagiu com gritos de: “Não vai ter golpe!”, ou “Fora Cunha!”.
Do alto de seus 80 anos (“Já fui jovem e minha geração não conseguiu, mas vocês têm que levantar a bandeira da igualdade” ), Mujica defendeu uma série de ideias para provocar a plateia, que saiu de lá melhor do que entrou:
* Sem solidariedade não há civilização.
* Liberdade não se vende, se ganha.
* Os pobres da África não são da África, são nossos.
* Não temos que imitar a Europa. Não pedimos desenvolvimento com dor e angústia, mas com felicidade para todos.
* O pior negócio são os bancos.
* A solidariedade tem um compromisso com a responsabilidade.
* Não nascestes só para o suor, mas para viver, ter tempo para os filhos e os amigos.
* Ou deixa que te manejem ou aprende a se manejar.
* Nunca haverá um mundo melhor se não conseguirmos melhorar a nós mesmos.
* A nossa América Latina pode ser um continente de paz e solidariedade.
* Não adiante sonhar por um mundo melhor se não se luta por ele.
* A juventude passa, mas as causas nobres não passam.
* Não precisamos de carro, casa e hotel de luxo, temos de ter os valores da maioria de nosso povo.
* Não se pode separar a ética da economia.
* O problema mais grave da América Latina é uma desigualdade crônica.
* Queremos ser proprietários, e não compradores de nosso conhecimento.
* Os únicos derrotados são os que deixam de lutar.
* Esta democracia não é perfeita porque não somos perfeitos.
* Aventuras com uniformes militares? Por favor…já vimos esse filme várias vezes.
* Vamos fazer como os ianques com a lei seca? O proibido atrai muito mais.
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Paulo Barros)