Luta por direitos: Viva Rio celebra Dia da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha

Yelitza Lafont, ativista venezuelana

 

Para marcar o Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha, celebrado nesta quinta-feira (25), o GT de Raça do Viva Rio, em parceria com a Portela e com o Haiti Aqui, promoveu o evento “Mulherismo e Negritude além das fronteiras”, na quadra da escola de samba, em Madureira, na última terça-feira (23). Refletir sobre os desafios em comum entre mulheres negras imigrantes e brasileiras e enaltecer a cultura dessas regiões foram os principais objetivos da ação. 

O Dia Internacional da Mulher Negra, Latino-americana e Caribenha é uma data impulsionada pelo movimento de mulheres negras da região em sua luta pelos direitos humanos e o bem viver. Também reforça a importância da participação das mulheres afrodescendentes na política e em lugares de poder e de tomada de decisão. 

Mais de 70 pessoas participaram do evento, a maioria mulheres imigrantes da Venezuela, Colômbia, Congo e Angola. A programação contou com uma roda de conversa e apresentação de capoeira do grupo de capoterapia do Núcleo de Desenvolvimento Social do Viva Rio com a mestra Água Viva, diretora do projeto Ginga Favela e membro do coletivo Mulheres na Capoeira. Comidas típicas e atividades infantis também foram oferecidas ao público. 

O bate-papo abriu espaço para que as imigrantes compartilhassem suas vivências enquanto mulheres negras em outros territórios, as dificuldades enfrentadas e o que as aproxima das brasileiras. Temas como igualdade e luta por direitos também foram abordados. 

Yelitza Lafont foi uma das imigrantes que participou do evento. Importante liderança venezuelana no Morro do Banco e nas comunidades do corredor do Itanhangá, Zona Oeste do Rio, atua em prol de imigrantes, refugiados e apátridas que estão no município. Desde que chegou ao Brasil, em 2018, buscava ajudar a população imigrante, sobretudo mulheres e jovens a acessar serviços de educação, saúde e emprego. Em 2019, lança seu projeto social que atende crianças venezuelanas. 

“O projeto surge a partir de uma preocupação com as crianças, já que sou professora formada na Venezuela. Então comecei a fazer apoio escolar e depois também introduzi a nossa cultura. Assim nasceu o projeto Resgatando Raízes, que tem como principal propósito promover cultura 100% venezuelana e resgatar a nossa identidade nacional e acervo cultural através da dança, poesia, teatro, artesanato, pintura, gastronomia e leitura em espanhol, para resgate da língua materna”, explica. 

A líder comunitária reforça a importância de encontros e parcerias para fortalecer a luta. “Sou grata por essa parceria, amor e abraço carinhoso do Viva Rio. Somos mulheres imigrantes, lutadoras, deixamos muitas coisas para trás em busca de melhoria de vida, então acho importante a presença da mulher dentro das políticas públicas e espaços de debate como o que tivemos no evento. Devemos nos apoiar e valorizar enquanto imigrantes, sabendo que não estamos sozinhas, que existe uma rede que ajuda e valoriza nossa luta”, finaliza. 

A Mestra Água Viva, coordenadora do projeto Ginga Favela, que atua há mais de 25 anos em comunidades do Rio de Janeiro com capoeira e cultura popular, também falou sobre sua trajetória no esporte. “Como mulher, aos pouquinhos ganhamos nosso espaço. Quando comecei, quase não havia mulheres na capoeira, então fazia com homens. Hoje, meu projeto já conta com muitas meninas. Não podemos desistir daquilo que sonhamos, a mulher tem capacidade de chegar onde quiser”, comenta. 

Camila Nascimento, do GT de Raça do Viva Rio, comenta que o evento superou as expectativas. “Fico feliz em ver tantas mulheres discutindo experiências tão diversas. Nossa ideia foi fomentar um espaço de troca e de lutas. Em nosso GT já temos trabalhado a questão da mulher negra, no ano passado fizemos uma campanha nas redes sociais, onde três mulheres negras falaram sobre suas lutas. Este ano, decidimos ir além e organizar esse evento, reunindo mulheres de diversas nacionalidades para um espaço de troca. Nossa ideia era criar um quilombo, ter essas pessoas próximas para a gente conseguir debater e aprender”, reforça.

O dia 25 de julho é um dia de lutas, mas também de celebrar mostrar as potências das mulheres negras. “É importante que a gente se reúna para falar também das nossas potências, como a gente consegue se aquilombar e criar estratégias de enfrentamento, mais do que só falar das violências e dificuldades”, comenta Isabel Santos, coordenadora do Haiti Aqui. 

Confira abaixo mais fotos do evento. 

Texto: Raquel de Paula

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