É em Cité Soleil que é depositado todo o lixo recolhido na região metropolitana do Haiti. A constante convivência com a falta de tratamento e de coleta regular dos dejetos preocupa o prefeito da cidade haitiana, Jean Rénold Philippe. Ele e sua delegação visitaram o Aterro Sanitário de Gramacho, em Duque de Caxias, para conhecer a tecnologia brasileira de reaproveitamento de resíduos sólidos.
Segundo Philippe, o lixão de Cité Soleil fica próximo a água, ocupa uma vasta região da mata e é usado como sustento para muitas pessoas, assim como ocorria em Gramacho até 2012.
Atualmente, o aterro fluminense está sendo operado com produção de gás bioenergético e tratamento do chorume. O combustível é retirado com a ajuda de 300 poços e bombeado até uma estação de tratamento construída no próprio local. O biogás é, então, limpo, seco e transportado através de um gasoduto de seis quilômetros de extensão até a refinaria da Petrobras. O projeto de recuperação e controle ambiental foi registrado na Organização das Nações Unidas como Mecanismo de Desenvolvimento Limpo.
A comitiva haitiana espantou-se quando o gerente do aterro, o engenheiro Elias Gouvêa, disse que o investimento total da área corresponde a US$ 100 milhões. “Não temos esse dinheiro no Haiti, mas podemos fazer o tratamento do lixo e depois buscar a iniciativa privada para um trabalho mais aprofundado”, acrescentou Jean Rénold Philippe.
O prefeito propôs ao engenheiro uma parceria para ajudar o país caribenho a minimizar o problema do descarte de resíduos sólidos. O primeiro passo seria iniciar um processo de gestão, limpeza e coleta do lixo que, de acordo com Philippe, poderia ser realizado no Haiti de forma mais rápida. “O Viva Rio já faz isso com os escombros do terremoto no projeto de reciclagem Ilha Verde, só teríamos que expandir para Cité Soleil e procurar uma forma de tratar de forma similar como ocorreu aqui, gerando renda para os catadores que vivem disso”, disse a autoridade municipal.
Após deixar Gramacho, a comitiva seguiu para a Unidade de Policia Pacificadora (UPP) do Complexo do Alemão. O prefeito foi recepcionado pela major Carla Martins, gestora de Articulação Comunitária da Polícia Militar (PM). Ele se mostrou surpreso com a proximidade entre policiais e moradores e com o fato de a UPP ter mulheres em cargos de destaque. “É incrível uma mulher ocupar um posto tão importante em um projeto que é maior do que poderíamos imaginar. A realidade que as pessoas enfrentavam aqui antes ainda assola o Haiti”.
Philippe e sua delegação também conheceram o Centro Municipal de Saúde (CMS) Albert Sabin, na Rocinha, administrado pelo Viva Rio. O grupo foi recebido pela diretora da unidade, Maria Helena Carneiro de Carvalho.
Criada na comunidade e funcionária do CMS desde sua fundação, a enfermeira apresentou as dependências do posto de saúde e deu uma breve explicação sobre o modelo de Estratégia de Saúde da Família. Maria Helena ressaltou que o objetivo é aproximar o profissional de saúde da realidade do paciente. “Não dá para fazer um bom trabalho apenas do consultório. É necessário conhecer a fundo a sociedade em que você atua”, completou.
Chamaram a atenção do prefeito a organização das equipes de saúde e os estudos de necessidades realizados com as famílias atendidas pela unidade. “Ainda não é possível implantar um programa como o Estratégia de Saúde da Família no Haiti, mas posso realizar esses mapeamentos populacionais em Cité Soleil”, afirmou.
Além do Centro Municipal de Saúde Albert Sabin, a incursão da comitiva pela Rocinha incluiu visitas à Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e ao Centro de Atendimento Psicossocial (CAPS) Maria do Socorro Santos. “Fiquei muito feliz com a organização e a limpeza das unidades. Mas o que me impressionou mesmo foi o conhecimento que os profissionais possuem da realidade local”, contou Philippe.