O Brasil e o Haiti compartilham uma grande paixão, o futebol. Esse foi o sentimento que norteou o Viva Rio a convocar mais de mil crianças para a sede de Porto Príncipe para assistir às transmissões ao vivo dos 15 jogos da Copa do Mundo 2014, que acontece no Brasil até 13 julho. A ação pretende desenvolver sensibilizações sobre trabalho infantil, saúde, violência, educação sexual, construções parassísmicas e reciclagem para um público de crianças e adolescentes, entre 7 e 17 anos, do bairro de Bel Air.
Idealizador da ação e encarregado dos programas do Viva Rio Haiti, Augusto Lepre explicou que os temas foram definidos a partir dos principais apoiadores do projeto: Organização Mundial do Trabalho, UNICEF, Escritório das Nações Unidas para Serviços de Projetos (UNOPS), Cooperação Suiça, Oxfam, Organização Mundial para as Migrações e Minustah, além do governo haitiano.
“A ideia é utilizar o futebol para plantar uma semente sobre temas relacionados à cidadania de forma lúdica. Essa é uma oportunidade incrível, que só acontece de 4 em 4 anos”, contou Augusto Lepre.
A relação de amor com o esporte vem de muito tempo, mas foi ampliada após o terremoto que assolou o país caribenho. Mesmo com o único estádio de futebol transformado em um campo de refugiados, os haitianos sempre arrumavam um espaço para jogar uma « pelada », como chamamos o futebol de varzéa. Entre uma tragédia e outra, era o esporte que levava um pouco de alegria para esse povo tão sofrido.
“O futebol tem relação com esperança, superação e garra, por isso causa um impacto muito positivo para minimizar o sofrimento dessa população. Eles se agarraram muito a forma de jogar dos brasileiros e a maioria torce por nossa seleção. Em toda a esquina de Porto Principe é possível ver pessoas vendendo bandeirinhas verde e amarelas”, disse Augusto Lepre.
Em agosto de 2004, brasileiros foram enviados para o país caribenho com a missão de levar alegria para essa população, por um dia que fosse. Esses compatriotas não eram os soldados que estavam lutando pela estabilização do país através da Minustah, mas conhecidos mundialmente pelas mágicas que realizavam com a bola no pé. A população ficou extasiada com a presença de grandes craques e com aquele que foi chamado de Jogo da Paz.
O Haiti parou para ver Ronaldo, Ronaldinho Gaúcho, Roberto Carlos, Julio Cesar, Juan, Gilberto Silva, Nilmar e outros jogadores desfilarem pela capital, Porto Príncipe, em tanques, acenando para uma multidão que corria atrás do comboio, não conseguindo esconder a emoção por poder ver de perto aqueles heróis dos campos de futebol, que enfrentaram a seleção hatiana.
Mais de 15 mil pessoas compareceram ao pequeno estádio de Porto Príncipe, que após o terremoto foi tomado por parte dos mais de 1 milhão de desabrigados. Como já era esperado, o Brasil dominou a partida e os haitianos aplaudiam de pé cada gol marcado pela seleção brasileira. No fim, os brasileiros aplicaram uma vitória de 6 a 0 (Ronaldinho Gaúcho (3), Roger (2) e Nilmar (1)), mas, na realidade, o resultado era o que menos importava.
Na ocasião, o consagrado treinador da seleção canarinho, Carlos Alberto Parreira, fez uma declaração emocionada aos meios de comunicação. “Se alguém ainda tinha dúvida em relação à validade desta viagem, deve ter se convencido diante dessas imagens. Na próxima vez que um de vocês (jornalistas) me perguntar qual a emoção mais forte que vivi no futebol, direi foi esta. E olha que todos sabem que já vivi muitas.”
Uma década depois, como resultado desse jogo, ficou uma paixão desenfreada pelo futebol, que se tornou símbolo-mor de alegria e uma válvula de escape para superar os incidentes naturais que por anos assolam esse pequeno país do Caribe e para a promoção da paz. Em 2010, o Viva Rio montou a academia de futebol Pérolas Negras em Porto Príncipe para profissionalizar e potencializar essa paixão pelo esporte, como resultado, sete atletas do centro esportivos foram selecionados para fazer uma temporada nas categorias de base do Botafogo de Futebol e Regatas e do Cruzeiro Esporte Clube.
Clique aqui e veja a reportagem especial produzida pelo Sportv na Academia de Futebol Pérolas Negras
(Texto: Flávia Ferreira / Fotos: Gaëlle Rivard Piché e ONU)