“Aqui não tem terremoto, não tem guerra civil, só tem haitiano brincando”, repetiam os donos da festa que lembrou os 224 anos da 1ª Revolta dos Escravos no Haiti, que culminou na independência da ilha caribenha, entre eles Fresnel Brian Joseph. O chamado Bwa Kayman aconteceu no sábado (29/8) à noite, no pátio do Viva Rio. Na ocasião, a Associação Haitianos Cariocas comemorou um ano de atividades.
“Os haitianos passaram por um momento muito difícil, estão aqui com saudades e só querem trabalhar”, comentou a enfermeira Isis Romeiro, uma das parceiras da festa. Ela se ofereceu como voluntária para customizar camisetas para serem vendidas. “Conheci haitianos em Maricá, onde muitos trabalham na construção civil. Um deles casou-se com uma amiga e passei a conviver com eles”, conta a brasileira, que aprendeu o ofício dos cortes especiais com a mãe, costureira.
A saudade inspira o artista plástico Dady Simon, 32 anos, para pintar seus quadros. Atualmente morando em Foz do Iguaçu, ele veio ao Rio para participar da festa, diz que sente falta da família, mas que aqui está sossegado. Dady expôs cerca de 20 telas pintadas por ele, como “Le calis de la vie” (A taça da vida); “Le soufle d ´indie” ( Sopro do Índio ). “La lune et le Soleil” (A Lua e o Sol) lembra que, na natureza, tudo está em harmonia, convivendo junto, formando um todo: “Não há uma separação entre o negro e o branco, por exemplo”, explica o haitiano nascido em Gonayve, onde aconteceu a revolta.
“O Haiti é a mãe da liberdade do mundo. Temos beleza para mostrar, não só violência e miséria. Venho da cidade da Independência, que tem as praias mais bonitas. Os brasileiros deveriam ir visitar mais o Haiti, uma ilha maravilhosa, perdida na piscina do Caribe”, diz o artista. Em São Paulo, ele cantou no coral da Catedral da Sé. “O maestro me perguntou se eu tinha estômago para cantar em um coral tão importante, no qual o candidato precisa ensaiar três meses para ser admitido. Cantei no mesmo dia”, conta orgulhoso.
A arte o ajuda a superar a saudade Ele recita em francês, todos vibram, se abraçam, dançam e exibem largos sorrisos sucessivos, que definitivamente conquistaram os brasileiros desde que eles chegaram para viver aqui. O DJ Zobef colocou a povo para dançar. Bandejas servindo fritay (bolinho frito de banana, mandioca e frango) e akra (salgadinho frito apimentado) deram uma provinha da culinária haitiana.
Instituições como o Viva Rio e empresas como a Remessa Expressa estão empenhados em tornar melhor a vida dos haitianos por aqui.
O portal Haiti Aqui, projeto do Viva Rio, pioneiro em facilitar a integração de imigrantes haitianos no Brasil, oferece orientação sobre oportunidades de trabalho / emprego formal; cursos de capacitação; programas culturais etc.
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Já a empresa Remessa Expressa, que presta serviços de envio de dinheiro para o exterior, é parceiro do Projeto Haiti Aqui para atender os haitianos que trabalham e precisam enviar dinheiro com taxas abaixo do câmbio comercial. A gerente comercial Fernanda Lemos Vieira conta que está bastante impressionada com a alegria transmitida pelos haitianos. Por isso, segundo ela, quis ser parceira nesta celebração. A empresa doou uma bicicleta e um smartphone para serem rifados e sorteados.
(Texto de Sol Mendonça. Colaborou Andressa Cabral. Fotos de Amaury Alves)