Polêmica, dramática e violenta, assim as obras de Nelson Rodrigues são retratadas. O autor, considerado um dos maiores dramaturgos do Brasil, ainda habita no imaginário da sociedade por abordar as tragédias urbanas com ousadia e despretensão. Vinte e quatro anos após a sua morte, o escritor mobiliza uma legião de fãs por onde suas obras passam. Uma pequena parcela desses seguidores, 300 jovens de escola pública, com idade entre 12 e 25 anos, tiveram a oportunidade de assistir ao monólogo “Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo”, adaptado e interpretado por Fernanda Montenegro, no Espaço Criança Esperança, na Favela do Cantagalo, em Ipanema, zona Sul do Rio.
Muito mais que admiração, foi possível notar a relação próxima que Fernanda mantém com o dramaturgo, principalmente ao falar da peça “O Beijo no Asfalto, escrita especialmente para ela após oito meses de insistentes ligações. Para a atriz, Nelson foi um homem a frente de seu tempo.
O rei do drama também foi o rei das críticas e assim se deu toda a sua trajetória com o teatro. Artistas como Fernanda Montenegro acreditam que o dramaturgo foi um incompreendido que ditou uma nova forma de fazer a arte da encenação, centrada nas sensações explicitas. “Ele sempre surpreendeu e chocou. O chamaram de tarado, obsceno, inconsequente, de fazedor de escândalos, e daí para pior. Apesar de desrespeitado, não desanimou. Nelson provoca o estupor para manter o público inquieto, atento”, analisa a atriz.
O espetáculo contou com a presença da filha de Nelson Rodrigues, Sônia Rodrigues, autora da obra que possibilitou a criação do espetáculo, e de sua filha, a também escritora Julia Rodrigues. A peça foi montada a partir de crônicas inéditas, quase desconhecidas de Nelson, publicadas no livro “Nelson Rodrigues Por Ele Mesmo”, compiladas de 1948 até a sua morte, em 1980. “Fui adaptando o material até conseguir construir uma narrativa em primeira pessoa e a Fernanda (Montenegro) conseguiu dar vida a essas história”, comemora Sonia.
Ovacionada por todos ao entrar e sair do palco, Montenegro, assim como os familiares, se mostrava muito emocionada ao ver o resultado do espetáculo, que pareceu a personificação do próprio Nelson com sua riqueza de detalhes.
O Espaço Criança Esperança (ECE) é um projeto da Rede Globo e Viva Rio, que atende mais de oito mil crianças, adolescentes e jovens. Criado em 2001, é um centro de atenção em tempo integral que oferece atividades esportivas, educacionais e culturais, complementares à escola.
(Texto: Flávia Ferreira | Fotos: Vitor Madeira)