“A guerra do tráfico tem impactos similares aos de uma guerra civil”. A declaração de Benjamin Lessing, pesquisador da Universidade de Berkeley, na Califórnia, sintetiza os resultados preliminares de um estudo do Observatório Internacional de Violência Associada ao Narcotráfico (Obivan), apresentado no “Seminário sobre violência armada e comércio de drogas”, realizado no dia 21 pelo Instituto de Estudos da Religião (Iser). A pesquisa foi apresentada por Lessing, André Rodrigues e Raíza Siqueira, ambos do Iser.
Com base em uma metodologia que utiliza como fonte jornais de grande circulação, o Obivan compara conflitos violentos associados ao narcotráfico em dois países – México e Colômbia – e uma cidade – o Rio de Janeiro. O objetivo do projeto é rastrear a guerra do tráfico, no que diz respeito aos grupos organizados – tanto de traficantes como de policiais.
De acordo com os dados iniciais, a diferença entre os conflitos nos locais estudados está no grupo que inicia o atrito. Na Colômbia e no México, os grupos criminosos armados são os principais responsáveis pelos conflitos, em geral para demonstrar força. Já no Rio de Janeiro, a maioria dos conflitos é impulsionada por ações do Estado, tendo como motivação a necessidade de lidar com o tráfico.
Ainda de acordo com os dados coletados, existem diferenças também nos resultados das ações realizadas pelo Estado para resolver o problema. Com o objetivo de intervir militarmente em territórios críticos, as localidades estudadas no Brasil e no México tiveram reações opostas.
Em 2006, o México presenciou o aumento da violência ao combater os cartéis do tráfico com força militar. No Rio de Janeiro a situação se desenrolou de maneira diferente: a intervenção militar iniciada com as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) em 2008 reduziu consideravelmente a violência. “As UPPs tentam retirar um pouco do protagonismo da polícia na produção da violência”, concluiu Lessing.