“Depois de 500 anos, Portugal e o Brasil tem outra vez um laço que os une.” A afirmação foi feita pela técnica de comunicação do Ministério da Saúde lusitano, Paula Vale, em visita ao Viva Rio. Ela conheceu os projetos de saúde da instituição, a Casa Viva de Bonsucesso e o Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) Maria do Socorro Santos, na Rocinha.
Paula Vale comparou o trabalho realizado no Rio de Janeiro com as mudanças ocorridas em Portugal na área de regulação de politica de drogas. “Percebi que existe um movimento aqui apresentando alternativas ao consumo de drogas diferente das políticas mais repressivas. Temos que olhar a questão pelo viés da saúde, propondo um tratamento mais humano para o usuário para afastá-lo da esfera criminal”, citou.
A técnica trabalha na Divisão de Informação e Comunicação do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), e contou que ficou esperançosa por saber que o projeto Casa Viva tem uma boa relação com a comunidade local. “Presenciei os vizinhos elogiarem o trabalho dos meninos na horta (que existe no quintal da casa) e esses são grandes passos”. A técnica afirmou que esse “carinho” ajuda a quebrar estigmas que nomeiam os usuários de drogas como marginais.
Vale fez um apelo ao diálogo para que o Brasil não cometa os mesmos erros que Portugal antes da aprovação da atual legislação. “Quero acreditar que vocês vão conseguir encontrar plataformas de entendimento, porque há um objetivo comum quando falamos nessas substâncias que é ajudar as pessoas”. Para ela, “é necessário uma atitude mais proativa a fim de os pontos convergentes e não divergentes na discussão mais política”.
A técnica também conheceu o trabalho de acolhimento do CAPS Maria do Socorro Santos. O centro atende, além de pessoas com problemas psíquicos, usuários de álcool e outras drogas com algum traço de perturbação mental. A gerente da unidade, Paula Urzua, informou que “80% dos pacientes ainda fazem uso das drogas como cocaína e maconha”.
Diferentemente do Brasil, Portugal aliou a descriminalização das drogas com uma política de redução de danos focada no tratamento mais aberto. Dez anos depois da aprovação, o consumo de substâncias psicoativas caiu 10% e as doenças relacionadas ao uso de drogas injetáveis, como AIDS e Hepatite C, estão muito mais contidas.