Comunidade luta para resgatar Chico Mendes

Adultos e crianças moradoras da Pavuna, na Zona Norte do Rio, fizeram, nesta terça-feira (29), um resgate simbólico fundamental para a auto-estima comunitária. Ao se apresentarem, cerca de 40 pessoas presentes à reunião do Colegiado Gestor, na Clínica de Família Manoel Fernandes de Araújo (Seu Neco), disseram com orgulho morar “na comunidade Chico Mendes” ignorando o apelido “Chapadão”, que atualmente ofusca o nome original da localidade.

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Os participantes se apresentaram, orgulhosos, como da comunidade Chico Mendes|Vitor Madeira

“Aqui era lindo, maravilhoso. Não tinha água nem luz, queríamos que fosse transformado em um parque, o problema era a falta de um programa de urbanização. Quando cada um começava a fazer sua laje, todos ajudavam e, então, virava um mutirão. Foi uma ocupação com planejamento”, lembra, emocionado, Antonio Roberto Neto, o Beto, 59 anos, que chegou ali antes mesmo de a comunidade existir como tal.

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Antonio Roberto Neto: “Aqui era maravilhoso, só faltava planejamento”| Foto: Vítor Madeira

A Chico Mendes, portanto, só tem uma história oral, fruto das memórias dos moradores mais antigos, como Seu Antonio e a educadora Denilza Maria Emerenciano, 45 anos. “O nome foi escolhido para homenagear a luta de Chico Mendes, à sua batalha para defender a natureza. Só que a violência aumentou, e o nome Chapadão, não oficial, cresceu. Não podemos deixar que ele continue a abafar o nome original”, propôs ela.

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Denilza luta para resgatar o tradicional nome da comunidade onde mora|Foto: Vitor Madeira

Chapadão era uma referência à configuração geográfica da comunidade, que acabou se expandindo e mantendo em comum a violência acirrada, que a aproximou mais da ideia de ‘chapa quente’. “Nós somos a comunidade Chico Mendes, não podemos nos abater pelo medo e temos de procurar melhorias”, completou Denilza.

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Moradores da Pavuna e amigos relembram o seringueiro Chico Mendes |Foto: Vitor Madeira

As reuniões comunitárias na CF ‘Seu Neco´, que sempre ocorrem na última terça-feira do mês, têm se tornado um espaço para a construção da cidadania consciente.  Desta vez, porém, a emoção dos participantes veio à tona, sob os efeitos da apresentação de crianças da Escola Jardim da Comunidade e das maquetes e quadros feitos por elas. Entre outras músicas, os pequenos cantaram o refrão: “Se a natureza grita/ Me dê a mão, vem, vamos para lá/ fazer florir uma missão na Amazônia/ Pra Chico Mendes ressuscitar/Nossa canção virou ação na Amazônia”, de autor desconhecido.

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Crianças da Escola Jardim da Comunidade cantaram durante o evento|Foto: Vitor Madeira

Márcio Rogério Cavalcante, Inessa Barbosa Lopes, do Movimento das Comunidades Populares e Maria Luzia Ribeiro, coordenadora da igreja católica, alternaram a leitura de uma curta biografia sobre Chico Mendes, nascido em 15 de dezembro de 1944 e assassinado em 22 de dezembro de 1988, em Xapuri. Seringueiro, sindicalista, ativista político e ambiental brasileiro, Mendes lutou pelos seringueiros da Bacia Amazônica que dependiam da preservação da floresta e das seringueiras nativas para sobreviver. Seu ativismo lhe trouxe reconhecimento internacional, ao mesmo tempo em que provocou a ira dos grandes fazendeiros locais, que terminaram por eliminá-lo.

A gerente da clínica, Camila Coelho,  apesar de estar cumprindo a licença-maternidade, também participou do encontro. A enfermeira Elaine Kotani Shimizu, coordenadora substituta, propôs que o Colegiado Gestor passe a se chamar Chico Mendes. Os presentes simpatizaram com a ideia, no entanto o nome definitivo só será escolhido na próxima reunião, em 27 de outubro.

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Elaine Kotani Shimizu propôs chamar o Colegiado da Paz de Chico Mendes|Foto: Vitor Madeira

 

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Vitor Madeira)

 

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