Em 2004, por conta da experiência em mediação de conflitos nas comunidades do Rio de Janeiro, o Viva Rio foi convidado pela Organização das Nações Unidas (ONU) a participar da missão de paz no Haiti. O cenário que encontramos em Porto Príncipe, capital do país caribenho, foi de confrontos armados entre gangues rivais e uma população sofrendo com serviços precários em uma zona de guerra.
Nossa missão era chegar até os grupos paralelos com uma proposta de resolução do conflito, esforço que levou à assinatura de diversos acordos de paz. Foi preciso encontrar caminhos de diálogo e entrar em lugares que pareciam impenetráveis, o que fizemos compartilhando alegria, leveza e uma atitude positiva – poderosos artifícios onde o sentimento geral é de desesperança. Conseguimos estabelecer uma comunicação com os bairros mais violentos levando música para os jovens, apoiando festas populares e reunindo as comunidades em ocasiões que iam de cerimônias tradicionais a um bloco de carnaval.
Atuar contra a violência envolve oferecer alternativas. Abrimos um centro comunitário na área mais conflagrada da cidade, onde estamos até hoje com programas de esporte e cultura. Criamos também iniciativas de tratamento de água e esgoto, mutirões de limpeza e ações de educação cívica. E foi no Haiti que surgiu a Academia de Futebol Pérolas Negras, uma iniciativa pioneira do Viva Rio que funciona como casa, escola e centro de treinamento para jovens em busca de um futuro melhor através do futebol.
Nossa equipe estava no Haiti e prestou os primeiros socorros no terremoto que devastou o país em 2010. O conhecimento de campo do Viva Rio foi decisivo para dar apoio aos órgãos humanitários internacionais que chegavam sem conhecer as ruas locais. Quando as equipes de emergência foram embora, nós continuamos lá, ajudando as pessoas a reerguer a vida e o país depois de uma catástrofe que matou mais de 250 mil pessoas.
Com as experiências no Haiti e no Rio de Janeiro, desenvolvemos uma espécie de tecnologia social que pode ser replicada em outras áreas conflagradas. Ela envolve a capacidade de articular com atores locais, se inserir em comunidades pobres e violentas e cumprir funções mediadoras entre o interior e o exterior desses territórios, sempre com o objetivo de melhorar a qualidade de vida de quem vive ali.