Emoção, descontração e diálogo. Foi nesse ritmo que aconteceu o Viradão VaiVem, produzido pelos integrantes da Casa Viva de Bonsucesso, neste sábado, e prestigiado por mais de 300 pessoas da região e de vários municípios do Rio de Janeiro. A ação, realizada em parceria com a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e a Agência Redes para a Juventude, teve o objetivo de ampliar a troca de experiências entre o projeto e os moradores da vizinhança.
Especializada no acolhimento de jovens que fazem uso abusivo de drogas, principalmente de crack, a Casa Viva promove a ressignificação das vidas e ajuda na sua gradual reinserção familiar e comunitária. Os 16 meninos assistidos pelo projeto participaram de todas as etapas da produção do viradão. Nos três meses que antecederam o evento, eles aprenderam técnicas de fotografia, filmagem, edição de fotos e vídeos, além de cuidar de todas as etapas de divulgação. Um dos jovens mais ativos, C.H., de 17 anos, não conseguia segurar o sorriso e o orgulho do trabalho que realizou.
“Estou muito feliz com o resultado do nosso esforço. Esse projeto está nos ajudando a construir a memória do bairro e a nos deixar mais próximos dos moradores. Queremos que mais ações como essa venham para cá”, disse entre uma explicação e outra sobre a exposição “Casa, Viva Bonsucesso”, que retratou a proximidade da Casa através de fotos em vídeos.
Os moradores aprovaram o empenho dos meninos. Dona Léia Carborelle, de 79 anos, era a vizinha mais empolgada com a mostra. “Estou procurando as casas dos meus conhecidos”, brincou a simpática senhora. “É bom ver que ações como essas são realizadas com esses jovens. Sei que isso os ajudarão a sair daqui preparados para vida”.
Em um gesto de carinho, dona Léia abraça C.H. e afirma: “Considero esses meninos como meus netos e rezo todos os dias para que seus caminhos sejam os melhores possíveis. Sei que no futuro eles se lembrarão de mim”.
O Viradão, que nasceu como um momento de lazer, acabou se transformando em um espaço de emoção, principalmente para as famílias dos residentes. Mãe de C.E., de 17 anos, Ana Paula Santos estava atônita com o que estava vendo. “Muito bom ver o que meu filho está produzindo. Para mim é um alívio saber que ele está sendo bem tratado e que, a cada dia, melhora mais um pouco”. A mãe contou que antigamente quase não via o menino. “É bom ter a certeza de onde meu filho está e que ele está seguro aqui”.
Para o subsecretário de Desenvolvimento Social, Rodrigo Abel, a ação foi um passo muito consistente no processo de recuperação desses jovens para a vida. “Isso é fazer política pública com P maiúsculo, onde mostramos para esses meninos que eles podem ser o que quiserem”.
Foram mais de 9 horas de programação cultural, incluindo torneio de batalha do passinho, exposição, apresentações de vídeos documentários e filmes de cineclubes, oficina de grafite, rodas de jongo e samba. O “Viradão VaiVem” contou com participações especiais do Sarau V, movimento que ocupa espaços públicos da cidade de Nova Iguaçu com rap e poesia; do recordista mundial em recitar ditados populares, Marcelo Gularte; do grupo musical Lance do Pagode e da companhia de dança Os Descolados; além de encenação do Cena “Home Theatre”.
Coordenadora do projeto Casa Viva, Marília Rocha afirma que o mais significativo desta experiência foi possibilitar aos meninos o diálogo com os moradores. “Depois do evento, os moradores vão querer conhecer mais o ambiente e se sentirão mais confortáveis para convidar os meninos para as ações que acontecem na região”. A proposta é que as Casas Vivas de Jacarepaguá, Penha e Del Castilho também recebam o incentivo para a realização de ações em seus respectivos territórios.
Diretora da unidade Bonsucesso, a assistente social Alice Peçanha afirmou que o mais positivo no trabalho realizado com esses meninos é poder vê-los retornando para suas casas. “Eles conseguiram construir outra trajetória para suas vidas. Pode ser que a droga esteja incluída nela, mas com certeza não terá papel central”.
L. G., 17, e P. S., 18, foram os primeiros a retornarem para seu lar. Fora da Casa Viva eles deixaram a promessa de construir uma nova história longe das drogas. “Quero construir a minha vida junto com a minha família”, disse Leandro, que agora é estagiário na Imprensa da Cidade. Com planos mais concretos, Pablo está aplicando parte do salário que recebe como auxiliar de serviços gerais, do Teleporto, na reforma da casa que vai morar com dois irmãos dos oito irmãos. “Eu quero ficar mais próximo da minha família para recuperar o tempo perdido”.
A proposta é que a Casa Viva continue acompanhando os meninos por, no mínimo, seis meses. Esse diagnóstico será facilitado graças a um sistema inovador criado pelo projeto, o “Reviva”. Funcionando como um prontuário eletrônico, ele vai reunir e organizar informações sobre as condições sociais, médicas, educacionais e específicas da relação com as drogas de cada criança/adolescente acolhido nesses espaços. Além disso, vai permitir, de maneira ágil, registrar e requisitar informações sobre o dia a dia do atendimento.
Especializada no acolhimento de jovens que fazem uso abusivo de drogas, principalmente de crack, a Casa Viva promove a ressignificação das vidas e ajuda na sua gradual reinserção familiar e comunitária. O projeto atende a 16 meninos e é executado pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social do Rio de Janeiro em parceria com o Viva Rio.
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(Texto: Flávia Ferreira |Capa: Casa Viva Bonsucesso)