Caem mortes por arma de fogo na Baixada

A redução em 32% dos casos de morte provocada por arma de fogo na Baixada Fluminense, entre fevereiro de 2014 e de 2015, foi um dos destaques da “Análise Criminal Estratégica – Homicídios Dolosos”, apresentada pelo Chefe do Estado Maior da Polícia Militar, Coronel Robson Rodrigues, durante o 3º Encontro do Grupo de Análise Estratégica, no Viva Rio.

Robson Rodrigues

O coronel Robson Rodrigues apresentou os números da Análise Criminal Estratégica feita pelo IPS

Produzidas pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), as pesquisas indicaram uma redução de 32,8% de mortes, no mesmo período, em todo o Estado, ou menos 158 homicídios dolosos. Em fevereiro de 2015, o maior índice ocorreu na capital, com 93 mortes, seguida por Nova Iguaçu (32) e Duque de Caxias (30).

“É pouco provável que consigamos baixar essas taxas a níveis dos países civilizados”, lamentou o coronel Ibis Pereira, chefe de gabinete do Comando Geral, sobretudo a respeito da estatística federal de 27 mortes para cada 100 mil habitantes no Brasil.

Ibis Pereira

O coronel Ibis Pereira lamentou os resultados e não acredita em queda dos números

Segundo a pesquisa – que tinha entre seus objetivos comparar as taxas verificadas entre  fevereiro de 2014 com o mesmo mês de 2015 -, durante os 13 meses de análise  a mais baixa taxa foi a de fevereiro de 2015, com 324 mortes por armas de fogo, seguida de setembro de 2014, com 342. O índice mais alto ocorreu em março de 2014, com 510 casos.

Sebastião Santos, coordenador do Viva Rio , comemorou os resultados, em especial naquela que é considerada a região mais violenta do Estado. “Nosso desejo é que este seja uma espécie de compromisso da nossa polícia com o povo da Baixada Fluminense”, afirmou.

Dados quantitativos

Por enquanto, as estatísticas se limitam a dados quantitativos, pois ainda não foram realizadas pesquisas qualitativas para apontar as causas destes resultados. Embora não possa afirmar que as taxas decrescentes representem uma tendência, o coronel Robson antecipou que já podem ser observadas em números ainda não consolidados pelo ISP. Sobre as possíveis causas, ele especula que venham do aumento de ações em áreas mais conflagradas. “Temos de aprimorar e aprofundar pesquisas cientificamente embasadas e já buscamos parcerias para isto”, completou.

Já o aumento dos autos de resistência, que cresceram 48% de fevereiro de 2014 em relação ao mesmo mês de 2015, foi explicado pelo coronel Frederico Caldas, coordenador de Comunicação Social da PMERJ, como resultado de grandes apreensões de fuzis, “em condições totalmente adversas”; de drogas – “chegamos a apreender duas toneladas de cocaína em fevereiro” – e prisões. “Precisávamos responder à disputa de facções pelo controle das drogas. Tudo isso somado pode explicar este crescimento dos autos”, observou, lembrando que o ano de 1995 foi o mais absurdo em termos de homicídios dolosos: 70 para cada 100 mil habitantes.

Frederico Caldas

O coronel Frederico Caldas tenta explicar o aumento dos autos de infração

 

Chacina

Os números sobre a Baixada Fluminense foram recebidos com especial atenção, já que a informação foi divulgada justamente no dia em que se completaram 10 anos da Chacina da Baixada, em 31 de março de 2005. O dramático episódio, que deixou um saldo de 29 pessoas assassinadas por armas de fogo, começou após uma reunião em um bar em Nova Iguaçu, onde revoltados com o endurecimento na conduta após uma troca de comando nos batalhões da PM, um grupo de policiais militares da região saiu atirando a esmo pelas ruas do município, eliminando quem passava pelo caminho.

Depois, seguiram pelas ruas de Queimados, município vizinho, com o mesmo comportamento de matar o maior número de pessoas possível. O disque-denúncia foi a principal arma para a identificação dos criminosos, apontados ainda por denúncias anônimas.

Formação

Responsável pela área de Assuntos Estratégicos da PM, o Coronel Antônio Carlos Carballo explicou as mudanças no processo de formação dos policiais, ainda sujeitas à alteração do Estatuto dos Policiais Militares, já proposta ao Legislativo. Pelas novas regras, os praças – soldados, cabos e sargentos – precisam de ensino médio completo e os oficiais de ensino superior para ingressar na Corporação, onde passarão pela mesma unificação curricular. Depois disso, os praças continuam os estudos em Tecnologia e Segurança Pública. “A formação termina em, no máximo, três anos e em 15 anos todos os policiais militares terão ensino superior completo”, informou Carballo.

Carballo

O coronel Antonio Carlos Carballo explicou o novo projeto de formação em desenvolvimento na PM

Ainda segundo o coronel, a cada dois anos serão oferecidas duas mil vagas e, em cinco anos, dez mil vagas para curso superior. Para isto, está sendo feita uma parceria entre as Universidades Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Federal Fluminense (UFF) e Rural, entre outras, “o que vai se refletir na qualidade do serviço prestado”, acredita. “Nossa intenção é reduzir em 50% o tempo de formação”, diz Caballo. “Faremos um alinhamento estratégico da formação policial”, propõe o Coronel Alberto Pinheiro Neto, Comandante Geral da Polícia Militar do Rio.

Pinheiro Neto

O coronel Alberto Pinheiro Neto propõe um realinhamento estratégico na formação do policial

Ditadura Militar

E como lembrou o coronel Ibis Pereira, a data de 31 de março coincidiu ainda com o movimento que culminou com os 26 anos de ditadura militar no Brasil. “Foi algo que ainda não acabou. Todo ano morrem mais de 50 mil brasileiros e menos de 8% dos inquéritos chegam a qualquer lugar”, denunciou o coronel que, não por acaso, tem formação em Filosofia.

Este foi o terceiro de uma série de encontros promovidos pelo Viva Rio, em parceira com a Policia Militar. O próximo está previsto para abril sobre o tema “Drogas”.

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Paulo Barros)

 

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