Trabalhar para que o Rio de Janeiro seja uma referência em experiências humanizadas e inovadoras na questão das drogas. Este foi o tema mais discutido durante o encontro “Cultura, Arte e Direitos: percursos inovadores às drogas”, realizado na última sexta-feira (8), na Prefeitura Municipal. O debate contou com a participação de autoridades, artistas, lideranças comunitárias e profissionais que atuam na assistência social e saúde.
Adilson Pires, vice-prefeito e secretário municipal de Desenvolvimento Social, afirmou que a arte, a cultura e o lúdico devem ser incorporados ao olhar do poder público. “Temos convicção do que está sendo feito. É algo que se opõe ao conceito de internações compulsórias”, lembrou. Pires afirmou que seu interesse, como gestor, é o de viabilizar a retomada de trajetórias de vida que se perderam em função dos diversos problemas relacionados às drogas.
Rubem César Fernandes, diretor executivo do Viva Rio, disse que, apesar dos diversos tabus que ainda cercam a questão das drogas, o tema precisa ser debatido. Ao admitir seus “vícios”, Rubem arrancou risadas do público, lembrando de sua experiência. “Só ‘uso’ nos finais de semana. Engorda menos”. Embora tenha largado os cigarros há mais de dez anos, não pretende parar de consumir bebidas alcoólicas.
Para Rubem, as contradições que envolvem as drogas são muitas, entre elas a definição de quais substâncias são lícitas ou ilícitas. Outra dificuldade ao se tratar do assunto são os dogmatismos. “Não existem fórmulas prontas para falar do tema”, alertou.
Mas isso não é tudo. “Ainda estamos dominados pela legislação que determina a proibição de muitas substâncias”, disse. “Em outros países, já se criou um ambiente de experimentação mais radical no campo da redução de danos. Aqui, não pode: pela legislação atual, é associação para o tráfico”, alertou.
Rubem afirmou que alterar a lei não é suficiente. “Temos que mudar a cultura, o que é ainda o mais complicado. Mas eu sonho. Sonho com um Rio de Janeiro que seja esse lugar de pressão pela mudança, pela descriminalização; que a cidade passe essa imagem de coragem, de experiência e diálogo”, vislumbrou.
Subsecretário de Proteção Social Especial da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (SMDS), Rodrigo Abel lembrou que o cuidado humanizado daqueles que fazem uso abusivo de drogas é indissociável do direito à arte e à cultura.
Coordenador da Agência de Redes para a Juventude, Marcus Faustini ironizou as associações frequentes entre as drogas e a pobreza. “Não adianta trabalhar em coro”, disse. “Não permite entender as singularidades, que são muitas. Não tem essa de ou é ‘pobre’, ou é ‘perigoso’”.
Junior Perim, diretor executivo do Circo Crescer e Viver, lembrou que a arte e a cultura não podem servir para “ocupar o tempo”, ou simplesmente para disciplinar. “Têm que estar ali para oferecer outros universos, outras rotas para a pessoa”, disse. Para ele, a arte não é uma “atividade”, mas um ambiente que pode ajudar a na expressão e construção de subjetividades, desde que leve em conta as necessidades dos usuários.
Os debatedores destacaram que, apesar de difíceis, são indispensáveis a interação, a interlocução e a troca de experiências entre as diversas áreas que tratam do problema no dia a dia, tais como saúde, assistência social, religiões, e setores da polícia e da segurança pública.
Presidente da Central Única de Favelas (Cufa), Preto Zezé fechou o encontro provocando a plateia: “a droga é o detalhe”, disse. “Por que as pessoas buscam esse prazer?”, questionou. “Nosso desafio é criar outras viagens”, concluiu. A arte e a cultura podem ajudar a pavimentar estes novos caminhos.
(Texto: Renata Rodrigues/Fotos: Roberta Machado)