Adequação dos programas às necessidades do usuário é citado em fórum

Operacionalizar o trabalho com acolhimento e redução de danos, promover conversas e parceiras institucionais sobre o tema e envolver os diversos níveis de conhecimento no debate sobre o uso e efeitos do consumo de substâncias ilícitas. Essas foram algumas das propostas apresentadas no encerramento do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações”, no Rio de Janeiro.

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Sarah Evans informou que a cooperação coletiva pode desenvolver mudanças saudáveis para o atendimento ao usuário de drogas

Sarah Evans, Senior Program Officer do International Harm Reduction Development Program, da Open Society Foundations, informou que a cooperação coletiva e a adequação dos programas as necessidades dos usuários podem desenvolver mudanças saudáveis para o atendimento. “Alcançar as pessoas onde elas estão é muito importante. O trabalho que desenvolvem aqui (Casa Viva e Clinicas da Família) demonstra que é possível fazer diferente”, disse.

Liz Evans, diretora executiva do PHS Community Service Society, Canadá, acrescentou que além de um trabalho de qualidade, é necessário que se tire a questão da culpa do uso de entorpecentes do usuário. Criada há 20 anos, a instituição propõe o consumo supervisionado de drogas e o acolhimento como estratégias de redução de danos. “Nosso propósito foi dar condições de vida dignas para essas pessoas”.

A PHS funciona no Downtown Eastside, região conhecida como “a mais pobre do Canadá”. Na década de 90, o bairro apresentava elevados níveis de violência, criminalidade e tráfico de drogas, principalmente heroína. “Nessa região, existiam muitos usuários que viviam em condições precárias de saúde e por vezes sofriam agressões dos agentes de segurança”, explicou.

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“A ideia não é impor a abstinência, mas proporcionar os cuidados que o usuário”, disse Liz Evans durante painel

 

Foi nesse contexto que Liz iniciou o programa Needle Changing, através do qual promovia a troca diária de agulhas usadas por outras novas e descartáveis. O resultado foi uma queda brusca no compartilhamento dos insumos entre 1996 e 2003, de acordo com relatório do Centro de Excelência em HIV/AIDS de British Columbia. “A ideia não é impor a abstinência, mas proporcionar os cuidados que o usuário precisa, como kits de seringas descartáveis e acompanhamento especializado”. Quando chegam ao local, os usuários são direcionados às cabines individuais de consumo, que permanecem em constante monitoramento. Atualmente, são mais de 14 mil pessoas cadastradas.

PHS Community Service Society também mantém “hotéis” para onde os usuários são levados após serem retirados das ruas. Ao todo são 86 unidades. “Notamos que muitas pessoas apresentaram uma melhoria ao serem levadas para esses locais”, disse.

Outra estratégia de redução de danos foi apresentada pelo diretor do Programa de Orientação e Tratamento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e consultor do Ministério da Saúde, Dartiu Xavier. O especialista afirmou que essa política derruba alguns mitos absolutistas e muda paradigmas sobre as drogas. Em pesquisa recentemente realizada, Ele comprovou que a cada 100 pessoas que cheiravam cocaína, 17% desenvolviam dependência e que a cada centena que fumava maconha, 9% ficavam dependentes.

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Dartiu Xavier apresentou dados que comprovam que a maconha é uma alternativa ao uso de crack

O médico citou dois exemplos de abordagens realizadas nas ruas de São Paulo. Ele e sua equipe entrevistaram meninos que ficavam nos semáforos da cidade e mostraram que essas crianças viam a rua como um espaço de liberdade e segurança. “Eles sofriam abusos dentro de suas casas e ir para a rua representava um crescimento em suas vidas”, contou.

Em outra abordagem, uma menina de 12 anos usuária de cocaína foi entrevistada. “Ela me explicou que seu único meio de sobrevivência era a prostituição e que para conseguir ter relações com os homens adultos, mais velhos,era necessário utilizar cocaína. A menina não sentia prazer e nem gostava dos efeitos da substância, mas a utilizava para suportar as dores”, lembrou.

Outro estudo realizado por Dartiu apontou a maconha como uma alternativa para o uso de crack. O especialista lembra foi criticado pela comunidade cientifica. A experiência consistiu em oferecer maconha a um grupo de 50 usuários de crack. Conforme os dados, 68% haviam trocado de droga depois de seis meses. Após um ano, quem fez a substituição deixou também a maconha. Para o professor, pesquisas como essas são criticadas porque o discurso proibicionista reforça medidas danosas para o usuário.

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Também participaram do encerramento do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações” Maria Domingues e Rubem César Fernandes

O encerramento do fórum internacional “As Ruas e as Drogas: competências e inovações” também contou com a presença de: Rafael West, Coordenador do Programa Atitude da Secretaria de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos de Pernambuco; e Rubem César Fernandes, diretor executivo do Viva Rio; e Maria Domingues, representante da secretaria de Desenvolvimento Social do município do Rio.

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