A saúde da mulher no Outubro Rosa: cuidados e prevenção nos presídios do Rio 

Atividades em alusão ao Outubro Rosa no Complexo Penitenciário de Gericinó na última quinta (26) 

 

“Agradeço pelo primeiro exame preventivo da minha vida, depois de oito anos presa. Estou emocionada por receber esse cuidado”. Esse é o relato de uma mulher privada de liberdade no município do Rio. Ela conta, comovida, sobre o tratamento de saúde que recebe na unidade prisional Talavera Bruce, um dos 29 presídios da capital fluminense que contam com uma equipe multidisciplinar de profissionais de saúde sob gestão do Viva Rio desde setembro do ano passado.  

Ao todo, 28 unidades prisionais são beneficiadas com programas de cuidado e prevenção de saúde, fortalecidos este mês com a campanha Outubro Rosa, que marca a conscientização sobre o câncer de mama e de colo de útero e o acesso ao diagnóstico precoce. Em todos os meses há um alerta geral e campanhas que apontam sobre a importância de cuidar da saúde de forma integral.

A maior parte das 2427 mulheres privadas de liberdade no município do Rio de Janeiro são pretas, em situação de vulnerabilidade, baixa escolaridade e que, ao longo de sua vida, tiveram acesso limitado a serviços de saúde. A informação é de Aline Albuquerque, gerente de saúde prisional no Complexo de Gericinó, em Bangu, onde existem três unidades femininas. Com o serviço de Atenção Primária nos presídios, essas mulheres têm a oportunidade de cuidar da saúde. 

A Atenção Primária Prisional conta uma equipe formada por médico, enfermeiro, técnico de enfermagem, cirurgião-dentista, auxiliar de saúde bucal, farmacêutico, psicólogo e psiquiatra, que atuam em ambulatórios instalados nas unidades prisionais. 

Nos últimos 10 meses, de dezembro de 2022 a setembro de 2023, foram realizados mais de 27 mil atendimentos a mulheres privadas de liberdade, sendo a maioria consultas de enfermagem (13.082) e odontológicas (9437). Também foram realizados 178 exames citopatológicos, também conhecido como preventivo de colo de útero. 

“Muitas vezes é no nosso ambulatório que a mulher vai descobrir que é hipertensa e diabética. Os atendimentos de saúde bucal também são um destaque. Aqui nós fazemos um resgate da saúde física e da autoestima das internas”, conta Aline Albuquerque. 

Equipe multiprofissional que atua no atendimento às mulheres privadas de liberdade no Complexo de Gericinó 

 

Existem quatro presídios femininos no município: a Penitenciária Talavera Bruce, a Unidade Materno Infantil e o Instituto Penal Santo Expedito, que ficam no Complexo de Gericinó, em Bangu, e o Instituto Penal Oscar Stevenson, localizado em Benfica, Zona Norte do Rio. 

“Fazemos todo o acolhimento, os testes e o exame preventivo. Temos um laboratório de análises clínicas, onde é possível realizar um diagnóstico rápido e o rastreio do câncer de mama e de colo de útero. Quando identificamos suspeita de câncer, colocamos a mulher no Sistema de Regulação (Sisreg) e ela é encaminhada para uma unidade de saúde”, explica a gerente de saúde prisional.

A Unidade Materno Infantil acolhe as gestantes a partir de 28 semanas e seus bebês até os seis meses de idade. Apesar de ser uma unidade prisional de regime fechado, é estruturada para atender as necessidades da mãe e do filho. “É um presídio sem celas e existem camas, há uma humanização diferenciada. Também há um trabalho de puericultura e cuidado com os recém-nascidos”, conta Aline. 

Parte importante do trabalho da Atenção Primária Prisional são os atendimentos psicológicos e psiquiátricos. De dezembro de 2022 a setembro de 2023, foram realizados mais de 2 mil atendimentos nos quatro presídios femininos do Rio. 

De acordo com Aline Albuquerque, as mulheres privadas de liberdade têm sua saúde mental prejudicada por diversos fatores sociais. “Vemos claramente um retrato do abandono à mulher. Os parceiros de muitas delas também estão presos pelo mesmo crime. Uma parte da família abandona, outra não tem condições financeiras de ir visitar. Tem ainda aqueles parentes que não visitam porque precisam cuidar dos filhos que ela deixou para trás. Elas também sofrem muito pela ausência do convívio com os filhos”, conta. 

 

A Atenção Primária Prisional no Rio de Janeiro 

Seguindo a Política Nacional de Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP), houve uma ampliação do número de equipes de Atenção Primária Prisional no município: de quatro para 22, gradativamente, entre setembro de 2022 e fevereiro deste ano. O aumento da cobertura permitiu uma regularidade do atendimento ambulatorial em todas as unidades prisionais da cidade, de segunda a sexta-feira. 

“Com essa expansão conseguimos garantir a coordenação do cuidado e trazer um atendimento com mais qualidade. As pessoas privadas de liberdade agora precisam sair menos dos presídios para receber os tratamentos, pois atendemos a maioria das demandas apresentadas por eles”, finaliza Aline Albuquerque, gerente de saúde prisional. 

 

Postado em Notícias.