Mulheres “rodam” contra o machismo no Carnaval

Renata Rodrigues tinha 5 anos quando foi apresentada ao Carnaval. Com um vestido branco repleto de lantejoulas costurado por sua mãe, lembra-se de ter brincado até cansar no baile do principal clube de Teresópolis, sua cidade natal. Mas as cinzas vieram antes da quarta-feira: já em casa, ouviu um amigo da família aconselhar sua mãe “que não a levasse à festa no ano seguinte, pois, se ela gostasse, seria difícil segurá-la quando mais velha”. Profecia ou não, a assessora de imprensa do Viva Rio  não só virou uma foliã de carteirinha, como é uma das fundadoras do “Bloco das Mulheres Rodadas”, que reuniu mais de 2 mil pessoas contra o machismo ontem (18), no Aterro do Flamengo.

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Aterro do Flamengo lotado no “Bloco das Mulheres Rodadas”

A empreitada carnavalesca é produto das manifestações que invadiram as redes sociais após publicação da página “Jovens de Direita”, com um homem segurando o cartaz: “Não mereço mulher rodada!”. Não demorou muito até a publicitária Luise Bello e a jornalista Dre Reze criarem um Tumblr ironizando o termo. Já a colunista da Folha de S. Paulo, Mariliz Pereira Jorge, questionou em artigo o conceito da “quilometragem feminina”. “A discussão me fez criar um evento no Facebook falando do bloco e juntando com o Carnaval”, contou.

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Renata Rodrigues (esq.), com a jornalista Mariliz Pereira Jorge (centro) e a também criadora do bloco, Debora Thome

Com sua amiga de infância, a também jornalista Debora Thome, Renata “rodou” pela cidade para fazer a ideia acontecer. Também se engajaram as bandas Ataque Brasil, Damas de Ferro e Batuquebato, que logo abraçaram a causa. Até a ONU Mulheres virou parceira do bloco.  “Carnaval é brincadeira. Com muita leveza, queremos questionar a divisão de mulheres rodadas e não rodadas. Afinal, o mesmo não ocorre em relação aos homens”, pontuou.

O Bloco das Mulheres Rodadas coroou a volta de Renata à Cidade Maravilhosa, para onde havia retornado há quase duas décadas. “Fui aprovada para Comunicação Social na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), fiz as malas e corri para cá. Teresópolis era uma cidade pequena, provinciana, e eu queria um caminho diferente”, explicou.

No Rio, ela não só virou jornalista, como foi mãe pela primeira vez, com apenas 23 anos. Manuela, agora adolescente, acompanhou Renata na folia contra o machismo. “Durante esses últimos meses conversei muito com ela, até pela repercussão do evento. Expliquei o porquê de fazer tudo isso e a importância de refletir sobre certos rótulos que atingem as mulheres.”

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Renata e sua filha Manuela posam com o estandarte do bloco

O ativismo a fez enfrentar as críticas de um grupo de feministas que viram no bloco uma “simplificação” da luta diária contra o patriarcado. Embora não esperasse ataques deste lado, Renata compreendeu a crítica. “Talvez, à primeira vista, o bloco pareça um movimento meio ‘baunilha’, sem grande profundidade. Mas a ideia é chamar atenção para a militância diária. E engrossar esse coro”, finalizou.

(Texto: Karla Menezes/Fotos: divulgação) 

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