O time de futebol Pérolas Negras está chegando ao fim de uma peregrinação de 34 dias na Suécia e na Noruega e completará sua jornada em Paris. A equipe jogou contra quatro times suecos, oito times noruegueses, a Escócia, o Egito e contra duas equipes mexicanas, inclusive o América, o mais popular do México. Ganhou todos os jogos sem exceção. Foi uma campanha extraordinária. Nossos atletas estavam ansiosos para medir forças contra os brasileiros, mas, infelizmente, os dois times que disputavam o campeonato em outras chaves e não chegaram à última fase, quando teríamos tido a oportunidade de nos encontrar.
Tivemos dois empates – o primeiro contra um clube francês, em um jogo amistoso, e o outro contra o Kosovo, que também participava no campeonato. Esse último apresentou conduta antiesportiva e tática ultradefensiva. Sem sequer tentar chegar ao nosso gol, limitaram-se a lançar a bola fora do campo, criando confusão para forçar o juiz sueco a dar cartão vermelho a um jogador de cada time. Em síntese, não queriam jogar. Apenas ganhar tempo alentando o jogo, para tentar chance nos pênaltis. A tática funcionou, deixando tristes os Pérolas Negras pela injustiça do resultado. O próprio juiz confessou sua frustração a um dos nossos colaboradores.
Na final, sofremos uma derrota para um excelente time da Uganda. Nossos jogadores não mostraram suas capacidades nesse jogo, o último da série. De certa forma, foram intimidados pelo time do Kampala. Era talvez algo psicológico – os Pérolas Negras foram muito corajosos quando enfrentaram os europeus, mas tímidos diante à África mãe.
Dois jogos valem ser lembrados: contra o Stabaek, um clube profissional da Noruega, cujo time sub-16 é considerado um dos melhores do país – jogamos melhor em um amistoso e os derrotamos por um confortável 2 a 0; o outro jogo a ser lembrado foi contra o América do México, nas quartas-de-final da Copa Noruega (Norway Cup). O América era considerado favorito para o título, mas não pôde derrotar os Perolas Negras. O jogo justo e equilibrado com chances para os dois lados terminou 0 a 0 no tempo regulamentar. Durante a prorrogação, os Pérolas Negras foram mais agressivos e conseguiram a vitória com uma cabeçada de Oracius, nosso jogador defensivo que veio para o ataque de forma exemplar.
Assim, após 19 jogos, nossos jovens guerreiros voltarão para casa com 16 vitórias, dois empates e uma única derrota. Essa foi, de fato, uma campanha surpreendente. O recorde de gols é ainda mais notável. Marcamos 67 gols e sofremos apenas sete – um ataque eficaz e uma defesa sólida. Treze jogadores contribuíram para esse resultado ofensivo. Cada um dos nossos 20 atletas presentes jogaram na maior parte desses jogos. Jonel, o camisa 10, estabeleceu o recorde, com 20 gols marcados; o inteligente e rápido Porcky marcou sete, assim como Michael, jogador técnico que marcou também sete gols. Em seguida, temos Edinho, com quatro; Jeff (originário da República Dominicana mas residente no Haiti), com quatro; Fouchar, com três; Seraphin, com três; Oracius, com dois (nosso grande e forte último homem na defesa, que avançava sobre o campo do adversário cada vez que tinha uma boa ocasião para uma bola alta); Simpson, dois; Fénelon, dois; Sanson, um; e Jakito (nosso capitão), também um.
Além das cálidas lembranças da fria Escandinávia, os Pérolas Negras retornarão ao Haiti com suas medalhas de prata e um troféu em reconhecimento à segunda melhor campanha na Copa Noruega. A competição na nossa categoria começou com 208 times de dezenas de nações do mundo inteiro e terminou com duas equipes de dois países do Sul disputando a glória final: Haiti e Uganda.
O Viva Rio está orgulhoso de ser parte dessa história e devo agradecer a certas instituições e pessoas que contribuíram de forma decisiva para essa peregrinação vitoriosa: o governo do Haiti, através do Ministério de Esportes, da Juventude e da Ação Cívica, a Federação Haitiana de Futebol, a Embaixada do Brasil no Haiti, o Ministério das Relações Exteriores da Noruega, a Norwegian Church Aid, a Fundação Soros e José Roberto Marinho.
Os diretores do Viva Rio também gostariam de enaltecer o excelente trabalho do grupo encarregado do sucesso da viagem, tanto na Copa Gothia como na Copa Noruega. Eles são: Rafael Novaes (treinador chefe), Luiz Laudiosa (treinador de goleiros), Hebert Bernadino (preparador físico), Rafael Moreira (fisioterapeuta), Giselle Bueno (nutricionista) e Kimberly Boulos (Produção e Relações Públicas).
Uma última palavra: o comportamento dos nossos atletas em toda a viagem foi impecável, digno e ordenado. Eles chegam a Porto Príncipe em 12 de agosto às 16h45, vindos de Paris.
Rubem César Fernandes – diretor executivo do Viva Rio