Intensificar a atuação na comunidade, em parceria com a iniciativa privada e o poder público é um dos principais planos do Viva Rio para o morro de Santo Amaro, localizado no Catete, Zona Sul do Rio, e que apresenta um dos mais baixos Índices de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. Até quatro meses atrás, quando foi ocupado pela Força Nacional, era um dos principais entrepostos de crack da cidade. Na comunidade, 14% dos moradores não sabem ler e escrever, 23% está desempregado e 62% das famílias têm renda mensal de até dois salários mínimos.
Um levantamento realizado pelos agentes comunitários de saúde (ACS) vinculados ao Centro Municipal de Saúde Manoel José Ferreira que atuam na comunidade Santo Amaro ainda mostra que 59% das crianças de três a seis anos estão fora da escola, assim como 69% dos jovens entre 15 e 24 e 63% dos indivíduos não possuem ensino fundamental completo. Os dados foram apresentados pelo coordenador do Sistema de Informações de Saúde do Viva Rio, Silvio Maffei.
Em encontro realizado no Viva Rio, com a participação de representantes da Secretaria Nacionald e Segurança Pública e da Força NAcional, o coordenador de Articulação e Gestão de Redes Locais do Viva Rio, Carlos Costa, apresentou um diagnóstico da comunidade realizado durante 20 dias.
Antônio Guedes, que coordenou o trabalho, falou sobre a experiência do grupo: “Foi um trabalho muito emocionante porque, apesar de ser uma comunidade tão próxima, é uma realidade que a gente desconhecia. O grau de pobreza que encontramos em algumas localidades da comunidade nos surpreendeu”, contou Guedes. A equipe apresentou também um vídeo produzido em conjunto com a equipe de fotografia do Viva Rio.
A coordenadora Fabiane Minozzo e a enfermeira Renata Barros falaram sobre o trabalho realizado pelas equipes de Saúde da Família na comunidade desde 2010. “Nós chegamos lá antes da instalação da Força Nacional e eu posso dizer que depois da chegada da Força, o dia a dia na comunidade e, por extensão, o nosso trabalho, melhorou 200%”, disse Renata. De acordo com a enfermeira, a equipe não tinha acesso a muitos locais da comunidade, inclusive a residências, por conta do tráfico e da cracolândia. “O uso do crack também estava muito associado ao alto índice de tuberculose e à disseminação do HIV na comunidade”, contou Renata.
O cenário atual é completamente diferente, segundo a enfermeira: “Hoje, temos cerca de 400 consultas médicas por mês e 100% dos pacientes acamados estão com os exames em dia. Além disso, nós conseguimos realizar grupos de trabalho com hipertensos, diabéticos e crianças e outras atividades, como reuniões sobre lixo. Aos poucos, vemos uma melhora crescente na comunidade e o trabalho está indo muito bem”, contou.
O comandante da Operação Pacificadora da Força Nacional, capitão David Batista, apresentou o programa “Crack: é possível vencer”. Implementado desde maio na comunidade Santo Amaro, ele tem como principais metas aumentar a oferta de tratamento de saúde e atenção a dependentes, ampliar a prevenção ao uso de drogas e combater o tráfico e o crime organizado.
“Os frutos que estamos começando a colher hoje com o sucesso da operação no Santo Amaro não se devem apenas à atuação da Força Nacional, mas sim de um trabalho articulado e realizado em conjunto com outros grupos e iniciativas. Estamos muito felizes e satisfeitos por saber que podemos contar com o Viva Rio como mais uma força para dar apoio a essa ação”, disse o capitão Batista.
Para ele, o que era o grande desafio virou o grande diferencial do programa: a criação de espaços urbanos seguros através da articulação com as esferas de saúde e assistência social do Estado e do Município, assim como a parceria com organizações e instituições que atuam na comunidade.
O capitão Batista apresentou ainda o projeto “Força na Comunidade”, que busca incentivar a mobilização e a participação comunitária, a fim de fortalecer as ações da Força Nacional e a relação entre a polícia e a comunidade. “Nós chegamos à comunidade para combater o tráfico e hoje participamos também de ações de prestação de serviços, palestras, passeios, recreações, projetos e grupos de trabalho junto à comunidade. A comunidade nos conquistou e mudou nossa maneira de trabalhar e de ver a Segurança Pública”, disse o comandante.
“O Viva Rio vai virar um puxadinho da comunidade Santo Amaro”, declarou o diretor do Viva Rio, Rubem César Fernandes, na abertura da reunião. “Apesar da proximidade geográfica, a atuação do Viva Rio junto à comunidade, que fica aqui no bairro da Glória mesmo, ainda é tímida. Por isso, vamos intensificar a atuação no Santo Amaro”, revelou.
As artes marciais serão uma das estratégias de aproximação com a comunidade, principalmente para trabalhar a relação dos moradores com a polícia: “Descobrimos que uma peculiaridade da comunidade é a relação com o MMA (do inglês, Mixed Martial Arts). Assim como fazemos em Costa Barros, vamos usar a luta como instrumento de integração”, contou Rubem. Ele acrescentou que, diferentemente do que as pessoas costumam pensar, a luta profissional não é um esporte individual, mas sim uma atividade de equipe. “É a arte da colaboração, do trabalho em equipe. A ideia é começar na Santo Amaro e depois levar o projeto para o Grotão, na Penha, entre outras comunidades”.