“A atenção primária é o melhor caminho para construirmos um sistema de saúde justo e acessível a todos os cidadãos”. Quem faz essa afirmação é o médico Leonardo Graever, preceptor da residência médica da Clínica da Família Felippe Cardoso, na Penha, que, depois de trabalhar dez anos como anestesista, resolveu dedicar-se à atenção primária. Hoje ele é um dos mais atuantes defensores do trabalho de prevenção, promoção e assistência médica às populações de baixa renda implementado pelo Viva Rio nas comunidades cariocas.
Ele sentiu o coração bater forte em 2011, quando surgiu uma oportunidade de trabalhar na área de atenção primária no Rio, modelo que consiste num conjunto de ações de saúde que priorizam a prevenção e a promoção da saúde e são orientadas pelos princípios da universalidade, acessibilidade, continuidade, integralidade, equidade e participação social.
Formado em Medicina pela Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas, Graever já tinha feito pós-graduação em Saúde da Família na Universidade Federal do Mato Grosso e participado do Programa de Interiorização do Trabalho em Saúde do Ministério da Saúde, no município de Santa Terezinha, no mesmo estado.
Hoje, Graever orienta os residentes da Clínica da Família Felippe Cardoso e não se arrepende de ter trocado a Anestesiologia pela Saúde da Família. “Estou muito satisfeito com a mudança. Tenho a chance de exercer minha profissão de maneira adequada e ajudar pessoas que sempre tiveram pouco acesso à saúde”, afirma.
O conceito da atenção primária já vem sendo implantado há muitos anos em vários países e foi adotado pelo Ministério da Saúde do Brasil, mas ainda não chegou a todas as localidades do país. No município do Rio de Janeiro, é implementado pela Secretaria de Saúde e defesa Social e tem como um dos gestores o Viva Rio Saúde, que coordena mais de 60 unidades de Saúde da Família atendendo mais de 950 mil pessoas.
Por meio da Estratégia Saúde da Família, o Viva Rio Saúde desenvolve um trabalho de prevenção, promoção e assistência médica às populações de baixa renda tratando não só a doença, mas incentivando ações sanitárias, educativas e participativas
Porque o senhor decidiu trabalhar com Atenção Primária?
Porque estava insatisfeito com a especialidade que desempenhava na ocasião (anestesista). Diante da perspectiva de trabalhar no Rio de Janeiro e da oportunidade de fazer uma medicina de qualidade, resolvi retomar a prática que já tinha desempenhado há dez anos. Fiquei muito satisfeito com a mudança, pois tenho a chance de exercer minha profissão de maneira adequada e ajudar pessoas que sempre tiveram pouco acesso à saúde e a um cuidado eficiente e resolutivo.
Qual é a importância da atenção primária para a saúde no Brasil?
O Brasil possui um histórico ruim em relação à atenção à saúde de sua população. Dentre inúmeras causas, como superlotação de hospitais e profissionais de saúde insatisfeitos com seu cotidiano de trabalho, uma das principais é a falta de um nível primário de atenção à saúde capaz de resolver os problemas da população.
O Brasil segue algum modelo de sucesso?
Os países que fortaleceram a atenção primária como porta de entrada da população ao sistema, como a Inglaterra e o Canadá, obtiveram êxito em construir sistemas de saúde justos e acessíveis a todos os cidadãos. No Brasil caminha-se para o mesmo resultado, contanto que haja recursos humanos, logísticos e de infraestrutura para tal.
Quais são os principais problemas enfrentados pelos profissionais nessa área?
Em muitos lugares do Brasil ainda não há estrutura na atenção primária para que o profissional possa desempenhar suas funções adequadamente. Outra questão importante é a formação inadequada nas universidades que ainda formam profissionais aptos a trabalhar em hospitais e emergências, sem a visão e as ferramentas necessárias para o trabalho em Saúde da Família.
A residência médica em Saúde da Família está cobrindo essa falha?
A residência em medicina de família e comunidade prepara o médico para lidar com os problemas de saúde mais frequentes e que causam mais impacto na saúde da população.
Quais problemas ainda persistem?
Os usuários do sistema de saúde ainda sofrem com a falta de cobertura da Estratégia Saúde da Família em muitas áreas. E onde existe a Saúde da Família, muitas vezes o excesso de demanda gera filas e espera. Além disso, a inexperiência de alguns profissionais que ainda não se habituaram a esse novo paradigma de cuidado à saúde e não dão as repostas adequadas às demandas da população também é um problema.