Formação, autoconhecimento, livre expressão e respeito. Essas são as lições que Jean-Marc Rodney, o Corsário, aprendeu com a capoeira e compartilha através do vídeo “Ponto de Vista”, classificado entre os 20 melhores de um concurso internacional promovido pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Para ele, a capoeira é mais do que uma arte marcial ou uma dança; ela está associada ao sentimento de identidade com a origem, ao desejo de partilhar valores e cultura e ao esforço conjunto por um futuro melhor.
Do meu ponto de vista, os problemas da educação não são difíceis de identificar. Onde eu moro, mais da metade da população é analfabeta. Mais de 80% das escolas são privadas, não oferecem um ensino de qualidade e, mesmo que esse fosse o caso, o mercado de trabalho quase inexiste aqui. Entre os problemas e as soluções, há um longo caminho.
Que tipo de educação pode nos oferecer a capacidade de viver num mundo que não para de mudar? Que tipo de educação combina a paciência, o encontro entre as gerações, a autoconfiança, a livre expressão, a troca de ideias e a força para correr atrás dos sonhos e metas? Com alegria, muita alegria. Pois a vida nos apresenta sempre novos desafios. E o importante é que nós não estamos sós.
Que mudanças seriam produzidas no mundo se cada um levasse três minutos refletindo sobre um futuro melhor? Não seria esse um bom começo?
Uma das regras do concurso dizia que o vídeo deveria ter somente três minutos. Corsário teve três minutos e pouquíssimos recursos para mostrar a realidade do seu bairro e de seu país, onde a metade da população é analfabeta, a educação é fraca e o acesso a ela desigual, onde faltam reais oportunidades de carreira e o mercado de trabalho quase não existe.
Os desafios estão muito presentes na vida cotidiana e as soluções são muitas vezes quase invisíveis, mas o Corsário, este pirata do bem perseguindo novos horizontes, quer correr atrás de seus objetivos, de seus sonhos, quer gritar sua mensagem aos outros com a esperança de ver mudanças reais. Se cada pessoa levar três minutos para pensar um mundo melhor, seja no Haiti ou em outros lugares, quantas mudanças positivas poderiam acontecer no mundo, ele se pergunta.
O “Ponto de vista” de Corsário não ganhou o primeiro lugar no concurso, mas foi visto e classificado entre os 20 melhores vídeos dos 200 jovens de todo o mundo que se aventuraram a imaginar um mundo melhor.
Desde sua sede em Paris, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) ofereceu o concurso internacional de vídeo para a juventude, através do qual jovens de todo o mundo puderam se expressar, criar, inovar, imaginar uma vida e um futuro melhor. O concurso deste ano foi centrado no tema “Educação e competências: quais são os principais problemas de hoje?”.
Gingando pela Paz no Haiti
No Rio de Janeiro, como no Timor-Leste, a ginga da capoeira tem ajudado muitos jovens vítimas de violência a redescobrir os valores da responsabilidade, do respeito e da disciplina. Em 2008, o projeto Gingando Pela Paz aterrissou no Haiti graças ao Viva Rio e foi apresentado às crianças e jovens haitianos do bairro de Bel Air, na capital Porto Príncipe. Hoje eles são quase 500 praticando capoeira.
O Gingando permitiu a estes jovens se abrir para o mundo, para o seu país e, principalmente, para si mesmos. Aprender a se expressar foi o primeiro desafio proposto pelo Gingando Pela Paz nas primeiras aulas de capoeira com crianças e jovens envolvidos em violência armada – muitas vezes os atores, mas sempre vítimas.
Hoje, 15 jovens haitianos que frequentam o projeto já se tornaram assistentes profissionais de mestres e instrutores brasileiros de capoeira, entre eles o Corsário. Eles treinam todos os dias para se tornar educadores de alto nível, ensinar a disciplina a mais jovem e também se formar na área de gestão de projetos, levando-os a descobrir disciplinas como administração, relações institucionais, logística e comunicação.