29/9/2016
Com música, contação de histórias, leitura de poesias e roda de conversa, pacientes e profissionais da área de Redução de Danos na Rocinha participaram, na quarta-feira (28), da oficina “Contação de histórias para adultos”, no teatro da Biblioteca Parque (BPR).
O evento é uma iniciativa do Viva Rio em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), e mostrou uma realidade do território da Rocinha inédita no Rio de Janeiro, que é a integração das quatro unidades de saúde que formam uma rede de proteção e cuidado com o usuário de álcool e outras drogas. São elas: Clínica da Família Rinaldo Delamare, Clínica da Família Maria do Socorro, Centro de Atenção Psicosocial (CAPS) Maria do Socorro e Centro Municipal de Saúde (CMS) Albert Sabin.
“Os moradores da Rocinha que são usuários podem freqüentar quatro unidades de saúde, que oferecem atividades diárias e conhecem bem seus pacientes. Isso você não vê em nenhum outro lugar no Brasil, é algo extraordinário”, informou Cléo Moraes, do Núcleo de Drogas e Saúde Mental do Viva Rio.
As pessoas presentes no teatro formaram uma roda e, de mãos dadas, cantaram uma cantiga, sob a intermediação da assistente social do Núcleo de Apoio à Saúde da Família(NASF) Rinaldo Delamare, Simone Araújo. Enquanto todos cantavam, uma pessoa localizada ao centro da roda segurava um guarda chuva colorido com diversas poesias coladas, que eram lidas aos poucos pelos participantes. “Escolhi a cantiga de roda para lembrar o Nordeste do Brasil, de onde vieram vários moradores da Rocinha”, disse Simone, que foi a responsável pela oficina de setembro.
Depois, houve a leitura de uma história que falou das memórias do personagem Guilherme Augusto, estimulando aos presentes a contarem as suas lembranças de vida também.
O morador Ronaldo*, de 64 anos, contou dos altos e baixos de sua vida. Ele lembrou sua infância na Paraíba, nadando no Rio, subindo em árvores. Disse que não conheceu o pai nem a mãe, mas cresceu feliz com a avó, de quem sente saudade. Armindo*, de 40, contou de sua infância no interior de Pernambuco, onde brincava com os primos e assava batata doce na fogueira. Lembrou do mato e da cana também. Já Luciana*, de 56 anos, veio do Ceará para a Rocinha aos 22 anos, e disse se lembrar de várias brincadeiras da infância.
A psiquiatra Joana Thiesen, que atua no Centro Municipal de Saúde Dr. Alberto Sabin, enxerga como o ponto forte desse evento a possibilidade de oferecer uma abordagem diferente aos pacientes, trabalhando aspectos positivos de suas histórias, fugindo da rotina dos problemas e dificuldades de vida que costumam ser mencionadas e trabalhadas em um consultório, por exemplo.“É importante resgatar nossas memórias para lembrar quem somos e o que nos fortalece”, completou Joana.
O evento, que reúne os grupos que atuam com Redução de Danos na Rocinha e possibilita a troca de experiências entre eles, ocorre toda última quarta-feira do mês e está em sua quarta edição.
*Os nomes dos personagens foram modificados para preservar a identidade dos usuários.
(Texto: Deborah Athila | Fotos: Amaury Alves)