25/1/2016
Rosangela Ferreira da Silva, 54 anos, quis morrer quando os 28% de visão que tinha no olho esquerdo, o único funcional, caíram a 5%, por conta de uma doença hereditária, no ano 2000. Hoje ela está entre as pessoas com deficiência (PCDs) beneficiadas pela capacitação dos professores da Academia Carioca, promovida pelo Viva Rio Eficiente.
Além de malhar e garantir uma silhueta de 60 kg para seus 1,65m, Rosangela, costureira que passou a investir na música, cantou na aula inaugural desta segunda-feira (25), no Centro Municipal de Saúde (CMS) João Barros Barreto, em Copacabana. Ela fez um duo de voz e violão com a inseparável Lúcia Teles, 65 anos, professora de música aposentada, que também só tem 5% do olho direito.
Rosângela e Lúcia fizeram um duo de voz e violão na aula inaugural | Foto: Amaury Alves
As duas animaram os frequentadores da academia com o samba 200 anos de Louis Braile, vencedor de um concurso em 2009 no Instituto Benjamin Constant, entre outros, e sustentaram, na prática, a teoria da psicóloga Marília Guinard, que liderou a capacitação dos professores pelo Viva Rio: “a pessoa com deficiência pode estar em qualquer lugar. Nosso objetivo não é só a inclusão, mas o acesso dos PCDs a seus direitos”, afirmou.
Marília Guinard (esquerda): objetivo é inclusão e garantia dos direitos | Foto: Amaury Alves
Academia Carioca é um programa de promoção de saúde através do estímulo à atividade física, criado pela Prefeitura do Rio em 2009. Oferece ginástica nos aparelhos instalados ao ar livre; grupos de caminhada e atividades integradas às equipes municipais de saúde. Segundo a professora Renata Soares Penetra, 30 anos, que comandou a aula inaugural, 77% dos frequentadores são idosos, embora a participação seja liberada a partir dos 12 anos.
“Tivemos a oportunidade de aprender a lidar com este público PCD. Por exemplo, a cadeira de rodas usada pelo cadeirante é considerada por ele como uma extensão de seu corpo, por isso não podemos nos apoiar nela. Também não podemos movimentá-la sem antes perguntar para onde ele quer ir e nos declives é necessária a movimentação de costas, para evitar que eles caiam”, cita Renata.
A professora Renata Penetra orienta uma aluna durante a aula | Foto: Amaury Alves
A presença dos PCDs foi invisível durante a aula. Não houve comentários e nem qualquer tipo de distinção pelos usuários habituais, a não ser pela chance de ouvir música ao vivo no final do encontro. E para isso, Rosângela e Lúcia levaram o equipamento que usam para se apresentar em barzinhos pela cidade, com repertório assinado por elas mesmas, já gravado em um CD.
Viúva, mãe de um filho de 30 e de uma filha de 28, Rosângela não tem mais nada em comum com aquela mulher que desistiu de viver. Pelo contrário, virou uma referência entre seus pares. Depois de passar por um processo de reabilitação no Instituto Benjamin Constant, iniciado no ano 2000 e concluído em 2013, começou a frequentar a Academia Carioca três vezes por semana. “As dores nas costas desapareceram, assim como a dormência nas costas”, comemora.
Rosângela Ferreira da Silva (esquerda) deu adeus às dores nas costas | Foto: Amaury Alves
Ela cantava na igreja desde os 7 anos e resolveu unir o útil ao agradável, na parceria com Lúcia Teles. “Os deficientes são capazes de andar, de se expressar e levar uma vida normal. Podem namorar, casar e ter filhos. Basta ter vontade própria”, conclui.
A capacitação também será feita em outras unidades da Zona Sul em fevereiro e março, na Clínica de Família (CF) Cantagalo Pavão-Pavãozinho, em Copacabana; no CMS Píndaro de Carvalho Rodrigues, na Gávea; no CMS Rodolpho Perisse, no Vidigal; no CMS Manoel José Ferreira, no Catete; na CF Maria do Socorro, na Rocinha; no CMS Vila Canoas, em São Conrado; na CF Rinaldo De Lamare, em São Conrado; no CMS Dr. Albert Sabin, na Rocinha e na CF Santa Maria, em Botafogo. Outras regiões do município do Rio de Janeiro também serão beneficiadas durante o ano.
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Amaury Alves)