“É festa, sim, porque essa é uma característica do negro, de transformar o lamento em poesia. Não pode ser uma luta contra o branco, mas, sim, pelo resgate e reconhecimento da dignidade do negro”. A reflexão é do coronel Ubiratan Ângelo, coordenador de Segurança Humana do Viva Rio e membro das comissões estaduais do Direito dos Negros e sobre a Verdade da Escravidão Negra no Brasil, da OAB.
Resultado de muita luta, por sinal, o Dia Nacional da Consciência Negra, em 20 de novembro, foi criado em 2003. A data homenageia o dia da morte de Zumbi de Palmares, em 1695. “É importante lembrar a história verdadeira e promover compensações afirmativas, como as cotas nas universidades para afrodescendentes”, acrescentou Ubiratan.
Zumbi liderou o Quilombo dos Palmares, na Capitania de Pernambuco, atual região de União dos Palmares, em Alagoas, área equivalente ao tamanho de Portugal. A comunidade era formada por escravos negros fugidos de fazendas, prisões e senzalas brasileiras, e chegou a reunir cerca de 30 mil pessoas.
Nascido livre em 1655 na Serra da Barriga, na Capitania de Pernambuco, Zumbi foi capturado e entregue a um missionário português aos seis anos. Em 1678, cansado do longo conflito com o Quilombo dos Palmares, o então governador da Capitania de Pernambuco ofereceu ao líder Ganga Zumba a liberdade dos escravos fugidos, se o Quilombo se submetesse à Coroa Portuguesa. O líder aceitou a proposta, porém Zumbi a rejeitou e desafiou a liderança de Ganga Zumba. Manteve resistência à opressão portuguesa e foi alçado a líder do Quilombo dos Palmares.
Quinze anos depois, o bandeirante paulista Domingos Jorge Velho começou a organizar a invasão do Quilombo. A capital de Palmares foi destruída em fevereiro de 1694 e Zumbi, ferido. Sobreviveu, mas foi traído e acabou morto junto com vinte guerreiros quase dois anos após o início da batalha, em 20 de novembro de 1695.
Como Zumbi, vários negros representam a luta pelo respeito à raça, como a escritora, atriz e artesã Mãe Beata e os atores Milton Gonçalves e Ruth de Souza. “Foi preciso ter uma cota na televisão para que os negros deixassem de ser apenas empregados”, lembrou Ubiratan, que destacou ainda o protagonismo dos afrodescentes nos esportes e a ascenção da raça à presidência da República, com Nilo Peçanha (1867-1924).
Calendário de Eventos:
De 16 a 19 de novembro: Semana Nuvem Negra (NN), do Coletivo NN, composto por estudantes negros da PUC-RJ, que estuda a disseminação da produção da cultura negra.
De 19 a 22 de novembro: África, Cinema, um olhar contemporâneo exibe filmes das 15h às 19h, no Cineclube Galpão da Cidadania (Rua Barão de Tefé, 75 – Gamboa).
Dia 19, às 19h: Resistência Cultural e Antiéticos apresentam África, favela e som, show com vários convidados na Arena Carioca Dicró (Rua Flora Lobo – Penha Circular).
Dia 20, a partir de 12h30: Corrida Intervenção Sim à Igualdade Racial, começa com lançamento da Campanha na Fundição Progresso (Lapa, Centro do Rio). Às 14h10, largada da corrida de 5 km dos Arcos da Lapa ao Cais Valongo.
Dia 21, de 9h30 às 13h: Ato contra o Extermínio da Juventude Negra e Contra a Conferência da Juventude, convocado pelo Instituto de Formação Humana (IFHER) e pelo Fórum de Juventudes RJ (FJRJ), no Calçadão de Campo Grande.
Dia 23 às 19h: O Coletivo Meninas Black Power convoca um encontro aberto no Restaurante Piola Jardins (Alameda Lorena 1.765, Jardins, SP).
Dia 24, das 9h às 20h: I Encontro sobre Encarceramento Feminino, na Faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Rua Moncorvo Filho, Centro).
Dia 20 de novembro, das 17h às 24h: Baile Black Bom, com Consciência Tranquila, Dois Africanos e Feira Afro Empreendedores, na Praça Mauá. Promoção da Coordenadoria Especial de Promoção de Políticas de Igualdade Social (Ceppir).
(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Walter Mesquita, Vitor Madeira, Tamiris Barcellos e Agência Brasil)