Campanha troca armas por vasos de flor

 

A professora Maria Beatriz Murtinho, 55 anos, estava entre os que chegaram na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) com uma arma e saíram de lá com um vaso de flores nas mãos. Ela foi prestigiar o posto de armamento avançado – que funciona no Viva Rio – em apoio à Campanha Nacional do Desarmamento. A iniciativa foi organizada em solidariedade à votação do Projeto de Lei (PL) 3722, criado pela Bancada da Bala para desmantelar o Estatuto do Desarmamento que acontece na próxima terça-feira (27).

Desarmamento Maria Beatriz

Para Maria Beatriz Murtinho, “a população tem de ter o espírito de desarmar”| Foto: Tamiris Barcellos

A garrucha e o revólver de Maria Beatriz pertenciam a seu pai e estavam, há 30 anos, trancados  em uma gaveta. “A população tem de ter o espírito de desarmar”, afirmou ela. Em audiência pública convocada nesta sexta-feira (21) pelo deputado Alessandro Molon (PT-RJ), Antonio Rangel Bandeira, representante do Viva Rio, alertou: “Os jovens morrem quatro vezes mais que o resto da população e o PL quer reduzir a idade permitida para posse de arma, de 25 anos para 21. O Estatuto salvou a vida de 70 mil jovens, de 2004 até hoje”.

Segundo Rangel, o Estatuto é uma lei de controle de armas, elogiado pela ONU e pela OEA por vir cumprindo sua função. “Antes da lei, a média de crescimento de homicídios dolosos era de 8%, depois caiu a 0,53%. Querem passar o limite de posse individual de seis para nove armas. Imagine isso numa família de três pessoas? Querem liberar a publicidade de armas, nos Estados Unidos, criaram até pistolas cor-de-rosa para combinar com os vestidos das madames”, revelou.

“Quem tem medo do controle de armas? Só os bandidos e os que lucram com a venda”, respondeu o próprio Rangel à sua pergunta.

Já Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Aplicada (Ipea), que também participou da audiência, contabilizou um total de 121 mil vidas salvas desde a criação do Estatuto. “Agora se propõe a volta do bangue-bangue, apenas pelo lucro da indústria armamentista”, lamentou. Segundo o coordenador do Viva Rio, Tião Santos, a instituição faz gestões junto ao Ministério da Justiça com a Rede Desarma Brasil para que, em paralelo à campanha de apreensão, seja feito o registro das armas. “É fundamental, porque há armas circulando sem registro”, apontou.

Desarmamento Daniel

Daniel Cerqueira contabilizou um total de 121 mil vidas salvas desde a criação do estatuto| Foto: Tamiris Barcellos

Organizador da audiência pública, o deputado Carlos Minc (PT-RJ) lembrou que paralelo ao recolhimento de armas é preciso “equipar a polícia, melhorar a perícia, porque sem provas não há condenação, e as UPPs. Só a polícia não resolve as estatísticas”, afirmou, referindo-se à ausência de programas sociais que deveriam fazer parte do programa das UPPs.

Desarmamento Minc

Para o deputado Carlos Minc, só a polícia não resolve as estatísticas| Foto: Tamiris Barcellos

“As armas têm de estar nas mãos dos policiais bem treinados”, frisou a delegada e deputada Marta Rocha (PSD-RJ), lembrando que quando um repórter perguntou qual era a sua arma, ela respondeu: “Uma caneta bic azul”. “O desarmamento não é uma questão de governo, de oposição, de direita ou esquerda. Não há política pública de qualidade quando feita com ódio ou paixão”, concluiu Alessandro Molon.

(Texto: Celina Côrtes|Fotos: Tamiris Barcellos)

 

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